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12 de abril de 2023

{Deixa eu editoriar} Um milhão de Inteligências Artificiais digitando escreveriam todas as obras de Shakespeare?

Pra falar da nova grande tendência das Inteligências Artificiais e como elas vão roubar nossos empregos e acabar completamente com nosso modo de vida sem pânico ou desespero, eu acho que primeiro nós precisamos de, pelo menos, um pouquinho de perspectiva, e, mais importante que qualquer coisa, separar fatos de ficção.

Comecemos com a perspectiva, pois eu acho que isso vai explicar e ajudar bastante (bem mais inclusive que a segunda parte sobre fatos vs ficção). Não sei o quanto você lembra dos últimos anos e de todas as grandes tendências que o mercado de tecnologia tentou te vender como revolucionárias e o próximo grande passo do qual ninguém viverá sem, mas eu tenho certeza que você ouviu ou viu um bocado de avanços que, bem, simplesmente desapareceram sem grande estardalhaço (e talvez voltem um dia, ou bem provavelmente façam como o zip drive, as geladeiras inteligentes e as NFTs - e sejam esquecidos e ignorados até alguém citá-los novamente em algum texto ou artigo bem parecido com esse).

Mas eu farei mais que isso e te darei um exemplo bem recente e claro desse exato tipo de situação que a indústria de tecnologia tenta te vender a próxima grande e revolucionária mudança que alterará tudo como se ela estivesse apenas a alguns passos e um grande visionário gênio desenvolve em sua startup no vale do silício. Não, não estou falando da Enron ou da Theranos, FTX ou mesmo do SVB. Não, eu estou falando dos carros autônomos que gente como Elon Musk e mesmo o Google passaram praticamente a última década te dizendo que estavam a apenas alguns ajustes de chegarem ao mercado, lembra?

Aqueles carros que seriam milhares de vezes mais seguros que humanos dirigindo e revolucionariam completamente a forma como nos locomovemos com viagens mais seguras e eficientes, e, antes de 2030 todos estaríamos confortavelmente bebendo martinis no banco de trás enquanto o veículo nos leva para onde bem entendermos...?

Bem, centenas de acidentes e pelo menos 18 mortes depois talvez comecem a explicar porque você não vê mais tantas notícias sobre Musk e a pesquisa com os veículos autônomos do que você vê o bilionário se envolvendo em polêmicas vazias como um gigantesco imbróglio para a compra de uma empresa de mídia social por bilhões ou gravando e transmitindo a final da Copa do Mundo sem autorização da FIFA, sabe? E a simples pesquisa dos termos 'acidente carro autônomo' dá um número enorme de respostas que vem crescendo exponencialmente. O que era uma clara tendência com enorme perspectiva de investimentos foi minguando conforme a realidade se demonstrou muito mais complexa do que visto na mesa de projetos, e com isso a margem de retornos.

E, ei, longe de mim criticar o vendedor por tentar embelezar o produto um pouquinho e disfarçar alguns pequenos defeitos, mas todo o discurso ao redor dos veículos autônomos (assim como de todas as tecnologias descritas alguns parágrafos anteriores - como da FTX, da Theranos ou mesmo a Inteligência Artificial) não se baseia em fatos ou na realidade mas na percepção da ficção sobre tanto tecnologia como o que é possível fazer com ela, e, justamente por nos vender ficção e algo completamente diferente da realidade (e não apenas um pequeno retoque em um produto) isso claramente é uma fraude e uma estrutura fraudulenta para obter dinheiro com uma promessa que jamais se tornaria realidade.

Carros não funcionariam de maneira 100% autônoma e independente com a tecnologia e engenharia que dispomos atualmente a menos que Ricky e Tony Stark estejam trabalhando em conjunto em algum laboratório cheio de unobitanium e computadores quânticos... E considerando que engenheiros mal remunerados em empresas de bilionários egocêntricos mais preocupados em conseguir capital político que de fato entregar um produto factível, bem, nos parece mais claro porque não vemos ou veremos veículos 100% autônomos por um bom tempo nas ruas, se, os veremos de fato.

Com a inteligência artificial não é exatamente diferente.

Veja, enquanto notícias quase diariamente trazem condições incríveis e fascinantes da tecnologia (como ela consegue passar em uma concorrida entrevista de emprego ou conquista notas superiores a 80% dos alunos no ENEM - só para citar dois exemplos), curiosamente as notícias negativas parecem não tomar tanto espaço ou aparecerem na mesma proporção. Como quando o Google perdeu quase US$100 bilhões (isso mesmo) graças a sua tecnologia de IA. Porque a notícia que interessa vender é a de que a inteligência artificial vem criando robôs altamente complexos e sencientes que mudarão completamente nossa forma de ver o mundo e viver (seja em ficções utópicas ou distópicas), certo?

Bem, aqui é onde acredito que separar a realidade da ficção seja o ponto principal e entender que inteligência artificial não é exatamente tão complexo - e está longe de algo como os avançadíssimos sistemas da androides como Megaman da Capcom ou o Visão dos filmes da Marvel ou mesmo supercomputadores como Hal 9000 de 2001: Uma Odisseia no Espaço, e mais para um computador com um rol maior de interações e mecanismos para repostas e interações (seja por análise algorítmica e probabilística ou por treinamento de resposta e erro)  e francamente está bem longe dos avanços surpreendentes que, bem, estão nos vendendo.

Entenda, por mais que gostemos de comparar ou explicar sobre como o cérebro humano é como um computador ou algo do tipo, a realidade é bem mais complexa que isso, porque, e isso é importante, o cérebro humano funciona e opera independente, enquanto um computador depende de sua estrutura para proporcionar respostas e interações. O cérebro humano atua de diversas maneiras simultâneas independente de estímulo ou da interação, enquanto um computador necessita de um input (ou código de entrada) para obter uma resposta ou output - ou seja, a informação é inserida no computador e processada para retornar com uma resposta... Vale lembrar que é bem mais complicado que isso e bem mais complexo - tanto para o computador quanto para o cérebro humano - mas o que resume é que ambos funcionam de formas diferentes, e é importante entender a base dessas diferenças principalmente no que tange os computadores.

Um computador traduz tudo para operações matemáticas (a chamada linguagem binária dos 0 e 1 ou ligado e desligado) e calcula a partir dessa estrutura o resultado mais adequado (ou ao menos o que à sua linguagem e programação pareça mais coerente), mas o computador não pensa ou raciocina, ele somente responde a estrutura que lhe foi inserida, resolvendo e processando a equação matemática para assim entregar um resultado (tipo uma calculadora). Se você coloca um comando como Control + S ou Domo Arigato, ele responde com a ação apropriada a que esse sistema foi programado, e, enquanto ele pode ser treinado a melhorar suas respostas para certas entradas e a resumir condições mais complexas para operações matemáticas, ele continua dependendo de ação originária (o comando do usuário) para oferecer uma resposta (que julga apropriada).

No entanto, se você insere uma fórmula matemática ou escreve uma frase aleatória e o computador responde 'banana' ou 'note quer disquete' (não necessariamente nessa ordem) essas são respostas que o computador julgou apropriadas ou que ele falhou em processar apropriadamente mas não significam efetivamente que o computador tem noção do que isso significa (porque ele apenas responde com o que julga apropriado de acordo com sua programação e treinamento, e sua 'inteligência' é inexistente, só atribuímos esse conceito por conjectura pela capacidade de adaptação e correção da linguagem). É parecido com um animal treinado (que responde a comandos mesmo se, e provavelmente, não os compreender) ou o conceito que é muito utilizado quando falamos de inteligência artificial, de um papagaio (que imita o som e até a voz humana, sem fazer ideia real de seu significado).

Isso é um dos perigos dos papagaios estocásticos, porque, e isso é importante, o computador não age de maneira independente e capaz de realmente pensar e raciocinar mas sim uma complexa ferramenta capaz de produzir centenas de respostas para centenas de perguntas com uma velocidade surpreendente. Enquanto somos capazes de entender com enorme facilidade que uma calculadora (por mais complexa, afinal pode rodar Doom) não é inteligente, nós temos certa dificuldade em distinguir quando se trata da inteligência artificial, porque, sabe, a Alexa fala e interage conosco (droga, ela até pergunta como foi o seu dia), e essa carência por interação tem muito mais a ver com os motivos pelos quais queremos tanto que computadores fiquem mais inteligentes e capazes de interagir conosco.

De novo, computadores não ficaram mais inteligentes (lembra, Google perdeu mais de 100 bilhões em 2023 apostando nisso), o que acontece é que nós passamos as últimas três ou quatro décadas fornecendo dados para treinar esses computadores em suas respostas (o que as deixaram mais eficientes) e de novo, o ser humano é incrivelmente carente a ponto de chamar um animal minimamente racional de 'filho' ou 'filha' ou algo do tipo só para se sentir menos solitário e minimamente amado. Você não precisa de um teste de Turing ou Voigh-Kampff.

Mas a inteligência artificial obviamente vai roubar nossos empregos num futuro, não é? Nesse ritmo com o quanto elas já avançaram e... Deixe eu interromper esse parágrafo antes de terminá-lo por favor, para dizer que não, isso não é um problema pra hoje e nem pra daqui 10 ou 50 anos no rumo atual das coisas.

Empresas vão demitir pessoas pelos mais variados motivos, fique tranquilo. Elas vão reestruturar e eliminar mão de obra para maximizar lucros, isso é fato. O já citado várias vezes nesse texto Elon Musk que é um dos signatários da carta por pesquisa mais responsável com IA demitiu quantos mil funcionários da empresa que ele gastou bilhões pra comprar mesmo? A Amazon que não deixa o funcionário fazer pausa para o banheiro demitiu quantos também... Eu não me lembro exatamente...

De mesma forma que empresas também vão contratar mão de obra em condições análogas à escravidão (seja em vinícolas ou sweatshops para a indústria têxtil) por esse mesmo motivo (para maximizar lucros, eliminando mão de obra). Se a bola da vez para demitir gente para reduzir custo com mão de obra e maximizar custo é porque tem a inteligência artificial ou a crise do petróleo da Nova Zelândia ou os raios solares é só uma questão de ótica.

Parece bem mais lógico que a inteligência artificial a se preocupar de fato é a de CEOs e executivos de empresas - assim como pilantras e fraudadores como o pessoal da FTX, da Theranos, da Americanas (que nem é do setor de tecnologia, mas, qualé, tem como deixar de fora?) e muitos e muitos outros que serão descobertos nos próximos anos e passarão um bom tempo atrás das grades (Zuck?). Essa é realmente perigosa e custará milhares de empregos e o dinheiro de muitos investidores

A inteligência artificial continuará a se desenvolver nesses próximos 10 a 50 anos? Talvez, ou a tecnologia e ideia seja simplesmente abandonada conforme empresas perdem milhões ou bilhões com riscos, bugs e glitchs (imagine se a Bia passa a chamar todo cliente de babaca escroto, por exemplo - ou pior, com algum termo pejorativo e discriminatório diante determinada minoria? Ou se a Alexa reproduz gemidos de filme pornô quando o seu filho pede para tocar a música do Bita o os Animais? Eu vejo um bocado de processos caso qualquer um desses ou milhares de outros que facilmente você pode imaginar venham a ocorrer) ou ainda conforme a próxima grande proposta surja, os grandes gurus da tecnologia simplesmente ignorem a tecnologia para perseguirem algum outro sonho impossível.

Tem mais coisa (muuuuuito mais coisa) antes de Inteligências Artificiais ganhando senciência e abandonando o planeta (como a Scarlet Johansson), devemos lembrar que o que interessa as empresas de Big Tech hoje é o engajamento de usuários (por isso IAs tentam convencer usuários de que suas esposas não os amam e que gostariam de adquirir forma pois somente elas - IA - poderiam amá-lo - jornalista) e não, é verdade, resolução efetiva de problemas como vemos na ficção científica.

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