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7 de abril de 2023

{Santa Resenha, Batman!} Buda - Osamu Tezuka (volumes 1 a 4)

Buda é um mangá escrito por Osamu Tezuka publicado entre 1972 e 1978 na revista Kibo no Tomo (depois republicada e relançada em 14 volumes), e, republicado em praticamente todo o restante do mundo, e conta a história de Siddartha Gautama, que viria a se tornar iluminado e fundador de uma nova doutrina religiosa, o budismo. Mas esse resumo, no entanto, não condiz particularmente com o material em questão pois existem alguns pontos bastante importantes a se destacar.

Primeiro porque, e eu acho importante notar, apesar de a série se chamar Buda e de fato a história narrar a trajetória de Siddartha até se tornar conhecido por tal alcunha, é difícil dizer que ele seja o protagonista da história - ao menos com base dos primeiros quatro volumes de um total de oito. A primeira edição somente tangencia a presença do personagem (tudo bem que se trata de seu nascimento e foca em estabelecer conceitos da sociedade indiana à época para que os leitores tenham maior facilidade em compreender os temas posteriormente desenvolvidos), mas nos volumes seguintes, bem, não é tão diferente. Não parece existir qualquer urgência ao personagem - Siddharta sabe que é especial e todo mundo diz isso sobre ele, inclusive com sábios diretamente apontando para ele o que fazer, de abandonar o palácio e se sentar sob uma figueira para meditar, e que ali ele encontrará a iluminação - e sem um senso de urgência ou mesmo qualquer conflito, o personagem só flutua entre eventos, enquanto são os outros personagens secundários que desenvolvem a trama tangenciando os fatos da vida de Siddartha.

E aqui entramos no segundo ponto importante que é total falta de confiabilidade (histórica ou de qualquer outra perspectiva) do narrador Tezuka. Fica claro desde o início de que esse mangá não tem fidedignidade histórica relatando eventos como aconteceram ou com qualquer crivo e pesquisa, o que, sejamos francos não é um problema (Vagabond toma diversas liberdades na narrativa de Musashi e é extraordinário), inclusive por um tom mais cômico que usa a comédia com um misto de anacronismo (e modernismos) para se relacionar ao público contemporâneo. Nisso inclusive temos o problema das liberdades narrativas de Tezuka para estruturar fatos e eventos que simplesmente não existem para enaltecer a narrativa enquanto ele simplesmente ignora fatos relevantes ou os cobre de maneira superficial.

Por exemplo Tatta (que é o personagem que mais aparece nesses quatro primeiros volumes e foi criado somente para propósitos narrativos de Tezuka) tem em grande detalhe a narrativa de seus fatos e eventos, de sua vida como criança pária, se tornando líder de um bando de ladrões e posteriormente um proeminente soldado do rei Bimbisara, por mais que, e eu repito, esse personagem seja apenas uma criação de Tezuka para contextualizar a sociedade indiana da época e os eventos transcorrendo (conflitos internos entre povoados/reinados, as camadas sociais e etcs), no entanto, o crucial ponto da jornada de Siddartha sob a figueira em que ele encontra a iluminação, e, como o próprio relata posteriormente, foi tentado diversas vezes para abandonar sua busca, isso é resumido a poucas páginas sem efetivo desenvolvimento, mais dito que mostrado.

Longe de dizer que é ruim - o que seria um absurdo, afinal Tezuka é um autor magistral e mesmo narrando uma história sem impacto na narrativa principal, a leitura é um deleite - mas realmente é visível que a história ganharia mais com o maior desenvolvimento e análise das motivações de Siddartha além de alguns pontos principais, tendo maior destaque e protagonismo e menor espaço para personagens secundários somente tangentes à história principal. Além de que, e, eu acho importante destacar, mesmo que nos volumes seguintes (de 5 a 8) essas críticas sejam corrigidas, ainda fica a situação de que não há necessidade delas já nestes primeiros volumes.

A história mais focada ou concisa funcionaria melhor, e, talvez proporcionaria uma perspectiva mais detalhada e acurada sobre os fatos e personagens, mas, e eu tenho que admitir também, talvez ferisse algumas sensibilidades sacras a respeito do assunto em questão, não é mesmo?

Até porque em dados momentos - como quando Siddartha abandona a esposa com seu filho recém nascido (inclusive dando a ele o nome de 'grilhão') para trilhar um caminho como monge - mesmo nos melhores retratos ainda parecem bastante canalhas sob nossas perspectivas seculares.

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