Resumindo de maneira bem rápida, o show de horror de Chris Rock é a ideia da Netflix de lançar simultaneamente um especial de comédia 'ao vivo' em seu serviço de streaming... O que parece mais interessante que realmente é (sabe, ano passado teve a Copa do Mundo transmitida simultaneamente e ao vivo em todo o mundo, né? E isso já estava acontecendo com outros serviços de streaming com vários esportes).
Então o que tem de diferente? Bem, comediante rico de direita fazendo comentários misóginos, xenofóbicos e transfóbicos em um especial de comédia como você obviamente poderia esperar... Mas o que realmente tem de diferente é que ele se faz de vítima dessa terrível sociedade opressora e tirânica que não reconhece sua genialidade enquanto essa sociedade vive de mimimi e de indignação seletiva criticando certas coisas e outras não (ao contrário de comediantes, obviamente).
O ponto que consolida tudo isso - e que é efetivamente o argumento de venda desse show de horrores - é o episódio da cerimônia do Oscar de 2022 quando ele foi estapeado por Will Smith, e basicamente toda a noção do especial é construir um argumento em que ele, Rock é incrivelmente superior em todos os sentidos (e que nós não somos dignos de seu brilhantismo), enfatizando o quanto ele foi bem educado e por isso não puxou briga com Smith, e, obviamente demonstra sua boa educação ao dizer que mulheres trans são homens com peitinhos [Rock, C. circa 2023] ou chamando mulheres de putas/vadias (sabe, "educação").
Antes de continuar, eu sei que as piadas desse 'especial' não são tão transfóbicas quanto do Dave Chapelle (que curiosamente aparece em várias fotos com Rock ao final da apresentação), mas, francamente, é como dizer que um comentário antissemita não é tão antissemita quanto algo dito por Mel Gibson, bem, a linha de corte não é exatamente alta, né? Sei também que são relativamente poucas piadas (duas ou três durante todo o show) inclusive com um bom elogio passivo-agressivo pra estabelecer como ele, Chris Rock, é incrível e uma pessoa fora de série.
O problema real da apresentação é a misoginia, e nenhuma mulher é chamada tanto de vadia/puta quanto a esposa de Will Smith. Grande parte da animosidade vem de antes do tapa de 2022, quando o ator foi desprezado numa indicação para melhor ator por 'Um homem entre gigantes', e, Jada sugeriu à Rock (convidado para apresentar a cerimônia) que boicotasse a cerimônia por negar uma indicação merecidíssima a seu marido. A reposta (tanto na época quanto no especial) Quem essa vadia pensa que é? [Rock, C., circa 2016], afinal segue muito do raciocínio de como ele mesmo descreve sua ex-mulher sabe, a vadia que ficou com sua mansão e nem é tão engraçada [Rock, C., circa 2023].
Poderia continuar, inclusive com mais detalhes sobre a história, afinal ele reforça que criticou Smith pela relação extraconjugal da esposa (algo que vários outros rappers também vinham fazendo, e, claro, retrata claramente a boa educação, sabe?) e que isso seria de fato o motivo para o tapa e irritação que resultou no tapa, ao menos na percepção do 'comediante'.
Mas Rock tem educação e não vai ficar de mimimi no sofá da Oprah pra falar de seus sentimentos. Ele vai fazer um especial de (falta de) comédia pra Netflix e ficar com a grana! Ha! E é exatamente isso que você terá em uma hora e tantos minutos de autocomiseração. Chris Rock masturbando seu ego (ferido) sobre o quanto ele é superior em todos os sentidos, e, obviamente ele faz isso ao tentar diminuir todas as demais pessoas, principalmente as vadias [Rock, C. circa 2023], né?.
Francamente, não sei o que eu esperava, se alguma coisa, mas eu me assustei com o nível ou falta dele do material e principalmente do que se passa por humor dos peixes grandes da comédia norteamericana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário