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23 de março de 2023

{Resenhas de Inisherin} Os Banshees de Quinta

Os Banshees de Inisherin é, curiosamente, um filme que eu preciso dizer bastante paradoxal e que permeia sua narrativa através de, justamente, paradoxos e absurdos.
A narrativa não é exatamente complexa: centrada em um vilarejo pequeno na Irlanda no início do século XX tem dois homens que sempre foram amigos, bem, deixando de o sê-lo e o quanto (e como) essa desavença afeta a vida das demais pessoas do local.

O vilarejo pacífico e rupestre é tomado pela disputa dos dois homens, e o antagonismo claro se vê por escolhas e palavras. O filme nos mostra isso (ainda que não esfregue na cara do espectador). Há um silêncio comum de uma comunidade rural do início do século XX, as pessoas geralmente dizem exatamente o que querem (e o que vai acontecer) e mesmo assim há todo um enorme ruído e confusão na comunicação entre os personagens.

Eu poderia resumir entre muitos temas - inclusive aqueles que os próprios personagens destacam e apontam, como o do legado e caráter (inclusive se ambos se contrapõem) - mas isso tudo é ruído. O tema do filme é um só que é a razão da picuinha dos homens, e é a mesquinharia da coisa toda.

Entenda bem que eu não quero ignorar que o personagem de Brendan Gleeson claramente sofre de alguma doença que requer tratamento e acompanhamento psicológico/psiquiátrico (mas, sabe, na Irlanda de 1923 procurar aconselhamento faria dele menos homem ou alguma mesquinharia do tipo), e nem só esse como os muitos temas complexos que se voltam ao redor dessa mesquinharia e contrabalança os elementos da mesma mesquinharia ocorrendo no continente, e, isso e muito mais acaba se perdendo como ruído.

Inclusive se perde como ruído o ponto do filme da lenda dos/das banshees da cultura céltica são criaturas que gritam na noite como prenúncio de uma morte, no entanto, o filme traz sua própria banshee que é uma senhora silenciosa que anuncia a morte do mesmo jeito - apontando justamente pela condição do silêncio mortal do vilarejo, mas, verdade seja dita, não só de lá.

O silêncio das personagens acaba lhe custando demais, justamente por esperarem que todos os demais os compreendam (e a si mesmos) através do ruído.
O que, sejamos francos, é um desafio muito maior do que parece, ou deveria.

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