Nisso temos a figura de maior destaque Magog (imagem abaixo) que nas palavras do próprio Ross foi criado para representar tudo o que ele e o coautor Mark Waid mais odiavam desses heróis novos (na época contemporâneos). Existem inspirações de Liefeld e Cable (com o braço e o olho principalmente), mas o estilo de Jim Lee também é claramente notável. O personagem é a representação da era dos heróis violentos que carregam armas gigantescas, atiram primeiro e fazem perguntas depois (que geralmente tem alguma tirada saída de um filme de ação dos anos 1980), mas a seu lado estão outros tantos heróis com o exato mesmo bizarro estilo, e essa é parte da condição da narrativa. Sim, os super vilões foram extintos com a abordagem desses heróis de atirar primeiro e não fazer prisioneiros, no entanto a ausência de vilões não faz do mundo um lugar melhor ou mais seguro, pelo contrário.
A falta de preocupação dessa nova geração de heróis com a população, resulta em batalhas em espaços públicos - colocando cidadãos indefesos em perigo a cada momento e ação - enquanto titãs colidem por qualquer motivo que seja, geralmente só porque estão entediados. As balanças cármicas no entanto se movendo quando o Espectro busca um novo hospedeiro humano para guiá-lo (e o leitor) pelos meandros da ação que vai se desfraldando, conforme os velhos heróis (Batman, Superman, Mulher Maravilha e outros tantos com mais de 80 anos) voltam de suas aposentadorias para pôr um fim à ameaça dos novos heróis, e, a humanidade se vê mais e mais ameaçada (aqui em dois frontes, com vilões remanescentes como Luthor e Vandal Savage formando uma aliança para destruir todos os super seres, e a ONU buscando tanto controle quanto uma solução mais pacífica/ideal para a escalada da situação).
Continuar a narrativa geraria spoilers, mas, as linhas gerais estão aqui, e, não obstante, uma pedra importante no material de James Robinson para trazer de volta os heróis da Era de Ouro da Sociedade da Justiça (algo que ele já tinha feito na série em 4 partes de 1993, a Era de Ouro, e vinha fazendo nesse mesmo período com Starman e alguns anos após a série de Ross e Waid, na Sociedade da Justiça) ao mesmo tempo que expor um enorme desdém aos personagens novos cheios de atitude e violência. Mas, essencialmente, a história chega a sua conclusão lógica, e ainda que a editora tente espremer mais algum caldo, os resultados são, na melhor das hipóteses, altamente esquecíveis.
O ponto é que os heróis do passado com seus valores (nostálgicos) devem servir como o bastião a nortear as novas gerações, e isso vai reverberando bastante na editora tanto na série JSA (1999 a 2006), como da JLA (no arco Crisis times five - ou 5 vezes crise em tradução livre) ou outros tantas condições dos Titãs, Justiça Jovem e etc. Os heróis experientes acolhendo sob suas asas os novatos para garantir que respeitem os valores e ideais (nostálgicos) de moralidade e sigam na linha.
Em 2007 visando relançar o título da Sociedade da Justiça, Geoff Johns resolve se aproveitar de arte não utilizada de Alex Ross para a série, assim como de condições contratuais (para a produção de capas e uma edição especial do Superman) para produzir tanto um material novo celebrando os dez anos do aniversário da série original como reforçando os temas comuns tanto da minissérie como da série mensal da Sociedade da Justiça.
O problema é que, além de ser uma história bem mais longa que a minissérie original (a saga se inicia oficialmente na edição 9 que é o prólogo e termina na edição 22, além de um anual e 3 especiais) ela se esvai para todo lado (com tramas que envolvem tanto o Reino do Amanhã e seu Superman e Magog, como a Terra 2 que tinha as histórias prévias à Crise nas Infinitas Terras de 1985 e a ainda recente história escrita pelo próprio Johns da Legião dos Três Mundos - assim como salpicando aqui e ali algumas menções para eventos futuros envolvendo Adão Negro - e uma certa dose de menções sem o menor fundamento a O Quarto Mundo de Jack Kirby), e, essencialmente, o sentido toda da coisa se esvai.
Magog que em 1996 era um retrato dos heróis noventistas da Image Comics, acaba como um Surfista Prateado (que serve de arauto para um deus esquecido) e "preso em um mundo que não escolheu", lidando com a mão ruim que recebeu da melhor forma possível. Ele era um anti-herói ou um herói violento, mas aqui acaba virando um herói e alguém que merece simpatia - que não tem responsabilidade direta por seus atos, e, droga, inclusive é neto de um grande herói que foi responsável pela fundação da Sociedade da Justiça na segunda guerra mundial!
Ele inclusive é secundário a toda a trama do deus esquecido (do Terceiro Mundo, entendeu a referência à Jack Kirby), e, é esse personagem que conduz a narrativa à passos de formiga e pode ser responsável pela destruição do mundo (indiretamente), mas que gera uma cisão na Sociedade da Justiça daqueles que enxergam nesse personagem (o deus esquecido) um salvador e naqueles que não o fazem e desconfiam de suas promessas.
Com isso a trama geral de mais de um ano de histórias se perde em uma miríade de histórias que faz cada vez menos sentido - e que podemos citar inúmeros exemplos de histórias mais curtas abordando os mesmos temas com muito maior sucesso - e o resultado é apenas uma areia fina que vai escorrendo e se perdendo.
Johns prova vez após vez que sua falta de tato para lidar com temas mais complexos (como ao colocar um herói minúsculo da DC em pé de igualdade de grandes exemplos na luta por igualdade racial, só pra ficar em um exemplo) o coloca numa situação difícil na produção de quadrinhos moderna. Enquanto ele tenta legitimar o meio com produções que enaltecem os super heróis (do passado) e os reestabelecem no cenário moderno, ele pouco ou nada faz para justificá-los no cenário moderno e coerente - senão realista (algo que o MCU faz ao sumir com o Mordomo Jarvis que vira uma inteligência artificial por exemplo).
Mais do que isso, Johns em sua constante masturbação nostálgica repete mantras e noções de que nos tempos passados era melhor e que somente os heróis do passado eram bons, e, que nisso, é perfeitamente possível adaptá-los para cenários contemporâneos sem ressalvas ou restrições (o que o bem recente fracasso de Adão Negro nos cinemas nos mostra que não é bem assim). E com isso ele parece não entender que as imagens de Ross buscando clara inspiração mitológica nas figuras dos super heróis (e mesmo de Waid em sua construção da narrativa) não é por acaso, e isso sem falar com as histórias de Grant Morrison ou Alan Moore que o autor acaba referenciando e citando aqui e acolá.
Johns não entende os quadrinhos além do mais raso pires e produz sua obra justamente para esse público que igualmente não compreende além da superfície e das tangentes, por isso não há complexidade, e, essencialmente, substância.
Os dilemas do Superman do futuro e da figura messiânica do Terceiro Mundo não tem qualquer peso ou significância, e, mesmo as ações dos (muitos) personagens da Sociedade da Justiça não tentam articular qualquer coerência ou racionalidade. Todo o absurdo é tratado com naturalidade ao passo que tenta fingir ser complexo ou ao menos interessante, o que, sejamos francos, nada disso efetivamente é.
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