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15 de dezembro de 2022

{Deixa eu resenhar de quinta...} Geoff Johns e a retriconveniência infinita

(Eu realmente não sabia muito o que fazer nesse conteúdo, se uma resenha de quinta - mas pelo tamanho do material abrangido, achei que era muita coisa - ou se um 'deixa eu te explicar' sobre os quadrinhos e mesclei os dois... nisso pra ver o que acaba saindo).

Geoff Johns é, em poucas palavras, Forrest Gump mesclado com um guaxinim.

Ele deu muita sorte em seu momento de chegada aos quadrinhos em 1999 com a série Stars and S.T.R.I.P.E. e bem próximo ao final da série de James Robinson, Starman (o que foi iguais partes de conveniência e sinergia, uma vez que o revival do personagem Star-Spangled Kid coincidia e bastante com o ponto do final da série - em que o titular homem das estrelas passa o bastão, literalmente), e num ponto no início dos anos 2000 que podemos definir em termos gerais como a 'Era do Remake/Reboot', e Johns encaixa perfeitamente nisso. Enquanto a Marvel relançava basicamente seus títulos principais com uma nova roupagem (Grant Morrison nos X-men abandonando uniformes para seguirem com um estilo mais fetichista em couro, ou o Demolidor mais pé-no-chão de Bendis e Maleev e por aí vai) a DC seguia caminho similar trazendo de volta velhos conhecidos como o Gavião Negro e Arqueiro Verde ou personagens esquecidos da Era de Ouro como o Senhor Incrível e Doutor Meia Noite, e, Johns caiu como uma luva nesse cenário, justamente porque como autor ele é incrivelmente propenso à fazer exatamente isso (recriar personagens antigos e franquias em novas condições para os tempos modernos), e, é em grandes partes do que ele faz em seus anos seguintes escrevendo, e, posteriormente, como executivo/editor.

O novo tem muito pouco espaço, quando existe, mas a partir 

Da parte Forrest Gump ele estava no momento certo na DC e conseguiu cair pra cima um bocado de vezes, e em grande parte pela enorme sorte que ele teve. Chegou no ponto certo após uma longa fase de Mark Waid no Flash (onde fez sua primeira fase de maior notoriedade), chegou no momento certo em que James Robinson estava por terminar sua fase em Starman (e iniciar a Sociedade da Justiça), para substituir David Goyer (que deixaria o título para uma bem mais sucedida carreira com filmes) e por aí vai até chegar a um elevado cargo na editora.

Do outro lado, como um guaxinim ele rouba tudo o que consegue da lixeira do Alan Moore, e de uma história de quatro páginas saem os quase cinco anos de histórias dos Lanternas Verdes, e de uma graphic novel do Coringa nasce a horrível minissérie dos três Coringas e, ainda que não escrita por ele, mas por ele aprovada, sai a, no mínimo questionável, Um dia Ruim com a pretensão de fazer exatamente uma Piada Mortal para cada vilão do Batman. E isso ainda não acaba com os roubos de ideias do Moore pelo Johns (sim, ainda tem Watchmen 2: O Boogaloo Elétrico ou o Relógio do Juízo Final, eu não me lembro exatamente qual dos dois foi usado) e mais algumas em menor ou maior escala (e que ainda virão nos anos vindouros), mas isso não é também o que define o autor, porque faz parecer que ele rouba somente do Alan Moore, o que não é verdade.

Com o James Robinson e o Mark Waid aconteceu essencialmente a mesma coisa nos títulos da Sociedade da Justiça e Flash respectivamente (além de O Reino do Amanhã do Waid também). A questão nesse ponto específico é que o Moore é um contraste mais claro e nítido para o trabalho do Johns.

Enquanto o Moore produz uma obra com personagens complexos (e complexados) cheios de falhas e com nuances que os humanizam, tornando-os tridimensionais e realistas (ao mesmo tempo que abordando temas de maneira mais adulta, sem resoluções mágicas fáceis e simples - pois não funcionam para personagens complexos e cheios de falhas), Johns faz basicamente o oposto, com personagens bidimensionais (quando muito) e soluções rápidas e fáceis e que não agregam coisa alguma.

Moore faz a Piada Mortal e há todo um intrincado jogo de xadrez entre Batman e Coringa no qual todos os demais personagens são peças, e do qual cabe a ação do Batman de continuar jogando ou de encerrar a partida (por isso a nuance do final em aberto em que o personagem mata o Coringa) enquanto mais de décadas depois Johns faz Os Três Coringas e não existe qualquer tentativa de nuance ou algo do tipo. Os personagens retrocedem à Era de Prata em termo de simplicidade narrativa, mas em histórias escritas no século XXI (com violência, sangue e em um bocado de casos, temas mais adultos) e isso é muito estranho e confuso, mas, mais que isso, genuinamente difícil de se fazer competentemente. Moore até consegue algo parecido com Tom Strong, mas, de novo, existe nuance e construção de personagens. Johns mantém as coisas rasas, e seu material é sempre altamente consciente de que é uma história - e que justamente por isso pode ser alterada a qualquer momento pela conveniência necessária de um retcon safado para justificar porque um personagem tem agora cabelos brancos ou que um herói negro que ninguém realmente ouviu falar é tão importante quanto Martin Luther King.

A diferença notável é que Johns tenta legitimar suas histórias por artifícios diversos que nunca são suas histórias especificamente. Ele não tenta melhorar como escritor ou produzir histórias melhores, afinal suas histórias estão sempre a um retcon safado de voltarem ao ponto de partida e ao status quo.

Johns tem perfeita noção de que produz um produto e pra isso quer apenas vender o máximo de unidades - no entanto tenta engrandecer o material e legitimá-lo como algo maior e melhor do que realmente é. Dá-lhe mega-eventos-da-semana-que-alterarão-todo-o-universo-como-conhecemos e similares. Por outro lado, Moore nunca trabalhou dessa forma e seu material sempre consistiu em se legitimar em si próprio.

Monstro do Pântano era um título qualquer existindo em meio a uma enorme e turbulenta reestruturação editorial, e, Alan Moore produziu com histórias contidas (mas não menos épicas) gigantescas análises sobre seus personagens, condicionando a análise de consequências de cada ações, sem que um retcon safado apague tudo o que foi desenvolvido até agora porque cada personagem e ação.

Eu posso focar em alguns dos exemplos, e, acho que Três Coringas é o exemplo mais claro sobre essa comparação entre Johns e Moore, mas honestamente eu prefiro uma análise do material da Sociedade da Justiça reiniciada em 2007 entre as Crises Infinitas (o mega evento do próprio Johns de 2006) e Final (de Grant Morrison de 2008),e mais especificamente a longa saga Reino do Amanhã (no original Thy Kingdom Come), que tenta fazer a continuação da saga de 1996 escrita por Mark Waid e ilustrada por Alex Ross, e ênfase no tenta.

Detalharei mais em detalhes as comparações entre as duas na parte dois desse post (que já ficou bem longo).

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