Better Call Saul é uma série que reforça o talento de Vince Gilligan (ainda que, considerando o quanto o diretor já fez com Breaking Bad e os Arquivos X, seja chover no molhado), e ainda que a temporada final seja bastante morna, seguindo bem a condição de Breaking Bad - com um final alguns capítulos antes do episódio final da série para que os demais episódios sirvam como epílogos amarrando as pontas soltas e preparando um belo laço para servir aos fãs.
Aqui, nessa condição de apreciação dos fãs, retornam vários personagens (sem spoilers) para uma ou outra cena curta, amarrando as duas séries (Breaking Bad e Better Call Saul, não Arquivos X, ainda que seria bem legal ver a agente Scully em Albuquerque), enquanto o material segue seu ritmo lento, quase um banho maria, conduzindo episódios sem pressa de chegar ao ponto final.
Rhea Seehorn se destaca com toda a certeza nos episódios finais (principalmente em Waterworks - o penúltimo episódio), ao ponto que eu realmente ficaria surpreso se a atriz não receba muitos prêmios somente por essa temporada. Odenkirk que teve problemas de saúde ano passado parece demonstrar isso nessa temporada final, e seu personagem não tem a mesma energia (ainda que seja parte da narrativa também), mas, assim como pizza, mesmo quando é ruim, ainda é bom.
Mas por mais absurdo que possa parecer, o final da série me fez lembrar do final de Seinfeld. Não quero entrar muito nos detalhes (de novo, sem spoilers), mas o capítulo final com toda uma sequência de julgamento e flashbacks intercalando personagens do passado do chicaneiro Saul Goodman para que finalmente ele encontre um julgamento (se não justiça), e mais importante a aceitação que sempre buscou (ainda que isso não seja exatamente algo que o final compartilhe com Seinfeld).
As cenas finais de Odenkirk e Seehorn explicam volumes sobre os personagens - e o talento incomensurável de seus atores - com uma química incrível na condução de uma cena simples, sem fala mas que define tanto o Saul Goodman quanto Kim Wexler em uma única cena.
E é a simplicidade e sutileza de uma única cena (que parece tão difícil para tantos outros diretores, muitos dos quais controlam milhões de orçamento para produzirem lixo execrável) que encerra uma das melhores séries da tv e não só da história recente...
Falando em lixo execrável, sim, Mulher-Hulk, a advogada. {Editado} Sim, até o título é copiado de outros seriados, incluindo do Adult Swim, Harvey, o advogado (com a estrutura de usar o nome do personagem seguido de sua profissão, no inglês 'Attorney at law').
Você sabe que um material é ruim quando a versão do Stan Lee faz mais sentido, né? Quer dizer, algumas gotas de sangue de Bruce Banner TOCAM a pele de Jennifer Walters (enquanto nos quadrinhos ela, ao menos, recebe uma TRANSFUSÃO DE SANGUE), e ela se transforma na Mulher Hulk. Essa é a premissa básica, além do fato que ela é advogada (e que a série parece focar mais do que outras versões da personagem), AH, e solteira procurando (o que vai fazer isso em algo como "Sex and the Hulk" pra pré-adolescentes já que é na Disney, eu acho).
Olha, eu sei que é difícil julgar uma série somente pelo primeiro episódio (e seus efeitos especiais terríveis - que parecem menos coerentes que de um filme ou jogo de videogame de 2003), mas, p0))@, isso é parte de um universo compartilhado que existe há quase vinte anos já! Não dá pra gente fingir que não vê a direção que vai e os erros que automaticamente isso já carrega na bagagem.
De repente, desde a primeira aparição do Hulk que conta (seja o do Ang Lee de 2003 ou o Incrível de 2008 - que, sim, faz parte do MCU - ou os Vingadores de 2012, se for pra contar a primeira aparição do Mark Hulkallo) ele tem uma família da qual ele é super ligado e chegado... Algo que nunca foi citado uma única vez em vinte ou trinta filmes nos quais ele aparece. De repente ele tem uma prima (que parece ser uns bons vinte anos mais nova que ele, o que eu só estou comentando) com a qual ele é super amigão, e de repente ele tem toda uma jornada do Hulk - porque afinal de contas, com vinte ou trinta filmes a Disney/Marvel não se deu a muito trabalho de desenvolver o personagem além de 'Hulk esmague aquele personagem'.
Nos quadrinhos, principalmente com Peter David ou na fase recente 'Imortal' do Al Ewing há toda uma exploração dos temas de dor, sofrimento e porque não de terror associados ao personagem e toda a, perdão da palavra, gama de personagens relacionados a ele. Toda a condição da maldição relacionada à transformação pelos raios gama que persegue Banner e tanto seus amigos como inimigos. Rick Jones, Doutor Samson (ou Sansão dependendo da versão), o Hulk Vermelho e mais uma dezena de personagens nunca foram apresentados nos filmes (e séries). Só existe o Hulk (que diferente dos quadrinhos onde é perseguido e odiado pelo governo, no MCU ele É adorado e idolatrado pela população em geral) e o Abominação (que é aquela piada recorrente para aparecer enfrentando o Wong - outra piada recorrente - em uma arena).
Mesmo que Banner e o Hulk tenham seus altos e baixos nos filmes, nada é particularmente próximo do tumultuoso relacionamento dos dois nos quadrinhos, onde realmente é uma maldição e um dilema existencial. E até o enfraquecimento disso oferece menos contextualização para Jennifer e sua personalidade.
Enquanto o Hulk é um monstro gigante para proteger o fraco Banner (de novo, coisa dos quadrinhos, nunca explorada nos filmes), Jennifer se projeta como uma mulher forte, grande e linda que é basicamente uma supermodelo de pele verde (e aparentemente no MCU ganhando uma chapinha quando se transforma) enquanto ela própria é mirrada e alguém que facilmente seria ignorada em uma multidão. A personalidade dela se mantém (ao contrário de Banner) mas ela ganha mais confiança enquanto uma amazona esmeralda que ela não tinha enquanto uma mirrada advogada... Só que isso já é defenestrado pela série porque ela é tão confiante quanto sua roupa íntima (que sobrevive com enorme facilidade a qualquer alteração de tamanho... Talvez as moléculas instáveis já existam no universo Marvel e sejam usadas no 'elastano', né? *pisca, pisca*).
"Ah, mas a história é da Jennifer e não do Banner", certo, só que eles precisam desse primeiro episódio para gastar todo o orçamento do seriado com uma longa participação do Mark Ruffalo, então, desculpe se o personagem ganha mais exposição no texto, até porque é justamente essa condição e contexto que vai direcionar a personagem da Jennifer. Mas isso é mentira também.
A personagem da Jennifer não é direcionada pelas ações do Hulk ou mesmo por nenhum contexto dos eventos da série. Ela é direcionada por forças externas, que basicamente são os 'criadores' da Marvel olhando em séries melhores e em versões de seus quadrinhos para inspiração. Então dá-lhe Fleabag Hulk quebrando a quarta margem (surpresa ao perceber que está "conversando" conosco, o público, porque afinal, ninguém fez isso antes, né Ryan Reynolds? Ou Mike Myers em 1992? Ou Pirandelo em 1921?), e toda focada em sua carreira (afinal o fato que ela se transforma em um monstro gigante e verde que é uma força indestrutível não é empecilho para nenhuma mulher moderna/independente que Sarah Jessica Parker adora produzir em seus filmes e séries). Então dá-lhe participação especial de astro de Hollywood e conversa (sim, teoria de fã) sobre a virgindade do Capitão 'murica, e dá-lhe um material que não funciona ou faz sentido em seus quase quarenta minutos porque ele não existe para isso.
Mas... E aquele final horroroso? Jesus, Community fez aquela baboseira de super-herói advogado enfrentando super vilão como piada (num comercial para o protagonista Jeff Winger) em 2014 no primeiro episódio da quinta temporada e ainda assim é melhor que essa cena feita em 2022! E o que é pior, a sátira TEM EFEITOS ESPECIAIS (e atuação) MELHORES!
Eu não sei quem é o público alvo para essa série, não sei qual é o ponto que eles esperam com essa série, e talvez até eu seja mais crítico com um material sobre advogados após o final de Better Call Saul (na mesma semana). Mas, não consigo olhar pra essa comédia cheia daquilo que se passa por 'humor' que a Marvel produz (sabe, que você até sabe que foi uma piada só que não tem graça nenhuma?) e imaginar qualquer potencial para um futuro próximo ou futuro qualquer mesmo.
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