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28 de abril de 2022

{Revenhas de Quinta} Senom: Tempo de zzz

Nota: 2 pelo preço de 1
Venom é um personagem que pra mim é aquele testamento do que existe de errado com a indústria de quadrinhos (e nossa sociedade). "Pô, Tiago, isso é um exagero, você precisa ver que o personagem é um fanfarrão e...", vamos parar por aqui, por favor?

O personagem surge nos quadrinhos em 1988 (mesmo ano do Homem Animal de Grant Morrison e Hellblazer do Jamie Delano, só para efeito de comparação) que é ali um ponto do zeitgeist dos quadrinhos norte-americanos, com Alan Moore publicando clássico após clássico, Grant Morrison e Neil Gaiman surgindo, assim como grandes nomes como Chris Claremont, Frank Miller e John Byrne fazendo história na Marvel Comics (com os X-men, Demolidor e Quarteto Fantástico respectivamente). Só que enquanto todo esse talento fervilhava e despontava, também surgiam as ervas daninhas para miná-lo e ir corroendo, porque afinal de contas, nós não merecemos coisas boas. A ideia era de fazer um 'Homem Aranha violento' (entende o 'Protetor Letal'?).

A Marvel apostou bastante nessas ervas daninhas e Jim Lee, Todd Macfarlane e Rob Liefield são exemplos tremendos disso tudo. Todd dominava as páginas do Homem Aranha com um estilo mais dinâmico (ainda que fosse o artista Erik Larsen o verdadeiro talento da fase, mas, de novo não é o foco aqui) e o artista buscava sempre que possível através do vilão Venom uma forma de mostrar algo de mais intenso para a vida do cabeça-de-teia. E enquanto as histórias eram essencialmente estúpidas e idiotas - afinal, toda a trama já fora conduzida até o momento em que o simbionte e o Homem Aranha se separam - a fórmula continuaria por anos e anos e renderia histórias mais e mais idiotas.

Histórias idiotas como "e se além de um simbionte preto nós tivéssemos também um vermelho"? "E um amarelo?" "E um planeta cheio de simbiontes incluindo toda uma religião, deuses e tudo mais?" Não é por nada que Neil Gaiman escreve hoje somente livros e Alan Moore sente um enorme desprezo pela indústria de quadrinhos norte-americana.

O personagem perdeu espaço e acabou virando meio que mais um vilão ou personagem secundário pouco utilizado da galeria de personagens do Homem Aranha, aparecendo de vez em quando em alguma história da mesma forma que o Rino ou outro vilão idiota. E a vida segue.

Aí por algum milagre que acontece uma vez a cada lua cheia e os astros se alinharam e filmes de super-heróis se tornaram populares e, bem, os estúdios começaram a reservar todo e qualquer personagem que algum dia fez sucesso (ou não, afinal, quem diabos é El Muerto? Sério, eu não faço a menor ideia). No entanto, cadê meu filme do Homem Animal?

Com o sucesso cinematográfico de Deadpool, pareceu tão bom momento quanto outro que a Sony tentasse trazer às telas o 'protetor letal'. É claro que Tom Hardy não é Ryan Reynolds, mas é aquele tipo de óbvio que precisa ser dito: Tom Hardy jamais, em um milhão de anos e por mais que queira ou se esforce conseguiria ser Ryan Reynolds.

Hardy é o sujeito de filmes sérios e densos, de personagens complexos e heróis taciturnos. Hardy está mais para um Eastwood moderno. Reynolds é o sujeito de comédias românticas com a Sandra Bullock, não se levando à sério mesmo em filmes sérios (se é que ele fez algum até o momento) e talvez seria um Tom Hanks antes de Filadélfia, inclusive com o carisma e magnetismo instantâneos. Então é óbvio um dos dois teria maior facilidade com a ideia de um personagem com propósito e função mais cômica e que não se levaria tão a sério. Acaba meio que perdendo o ponto da coisa - é para ser ridículo, mas não faz sentido se a pessoa que atua nisso parece levar à sério demais a coisa toda.

Ajuda, é claro, que a estrutura do mercenário tagarela Deadpool é de romper a quarta margem e buscar uma estrutura menos linear desde que faça sentido para a piada (e isso inclui colocar um dos atores mais conhecidos do mundo como o Homem Invisível e outro com tanta maquiagem e prostéticos para fazer uma cena sobre o devido uso de papel higiênico) enquanto, bem, o outro personagem é Venom (o traje alienígena do Homem Aranha que se viu ressentido e se juntou com outra pessoa querendo vingança).

Então o primeiro (grande) problema da franquia se faz em tentar criar Venom sem qualquer ligação com o Homem Aranha, e, acabamos com uma narrativa genérica e sem muita imaginação mas que essencialmente é a origem do personagem sem o Homem Aranha. Alienígena melequento na terra se funde a um jornalista em desgraça. Onde expandir a partir daqui? Oras, com o grande vilão de Venom, Carnificina, é claro!

E no que isso muda para o filme...? Bem, no primeiro nós tivemos dois monstros de geléca escura gigantescos bastante equivalentes brigando sem que ficasse exatamente claro porque ou o que qualquer um deles ganharia no confronto, enquanto no segundo nós tivemos dois monstros de geléca escura gigantescos bastante equivalentes brigando sem que ficasse exatamente claro porque ou o que qualquer um deles ganharia no confronto. Ah, só quem um desses monstros é de geléca vermelho escura dessa vez e ele era um assassino serial que tudo o que queria no mundo era um amigo (que dó, né?). Então completamente diferente!

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