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5 de novembro de 2020

{Resenha?} Os Sete Soldados de Grant Morrison

Sete Solados é uma mini-série que não é uma mini-série (está acompanhando até aqui?) afinal tem duas edições apenas (sendo uma a 0 e a seguinte a edição 1, e final) enquanto os eventos da história principal se desfraldam em sete títulos independentes - um para cada um dos soldados, Cavaleiro Andante, Guardião (e a Legião Jovem), Zatanna (a mais famosa do grupo), Klarion, o Menino Bruxo, Projétil, Senhor Milagre (Shilo Norman) e Frankenstein - cada um lidando ou com aspectos da história maior ou como peões dos eventos que estão para se desfraldar, ou, no caso do Senhor Milagre em uma história que é altamente alucinógena, psicodélica e, na melhor das hipóteses tangente pra cacete.

E aí cabe o ponto de tentar justificar SE a história começa e termina com os eventos da edição 0 e 1 ou se ela se estende pelas maxi-séries 52 (em que personagens da trama aparecem) e Crise Final (em que os Novos Deuses, Shilo Norman e Darkseid tem papel crucial para o desenvolvimento da história), ou se a história de JLA Classified 1 a 3, em que Neh-buh-loh ataca a Tropa dos Ultramarines (na devastada Montevideu) e o Gorilla Grodd tenta fazer churrasquinho de Batman... Ou ainda o fanzine por Morrison num guardanapo em que estão as instruções para reler inclusive outras obras do autor de trás pra frente e plantando bananeira...

MAS, eu particularmente vou tentar ignorar todo o demais (que se estenderia por mais uma dezena de títulos que acabam tangenciando de uma forma ou outra) e focar no que existe que em si já é um trabalho hercúleo e extremamente difícil de (tentar) entender a história e analisá-la até porque, de maneira geral, não há uma história. Perdão, não há UMA história.

São várias.

Enquanto alguns títulos tendem a trilhar caminhos mais lineares com algo que se parece com uma única narrativa mais coesa e lógica (como Cavaleiro Andante, Projétil ou Zatanna) outros apresentam episódios isolados que colocam os protagonistas pulando de capítulo em capítulo para história diferentes (como Klarion, O Guardião e Frankenstein que enfrentam várias ameaças completamente distintas em cada um de seus capítulos, sendo que no caso de Frankenstein é ainda pior, com uma diferença de séculos entre cada capítulo em particular) enquanto vale destacar que, essa percepção pode variar, afinal, cada personagem em particular passa por histórias fechadas, isoladas enquanto tem tramas maiores e mais compreensivas.

E aí tem o Senhor Milagre, cuja história é tão bizarra, esquisita e viajada na batatinha que é difícil de entender se de fato é uma história, um sonho louco de ácido ou o que diabos. Parece mais um reboot, uma reimaginação da franquia como uma versão mais realista com os deuses de Nova Gênese e Apokolips como pessoas da Terra (Darkseid como um mafioso com capangas em diversas esferas atuando e favorecendo seu plano de dominação). Eu confesso que não consegui entender se ele volta no tempo, se ele morre (duas vezes), se ele está alucinando ou se acaba despertando em realidades alternativas, mas o pior mesmo é que eu não consigo entender o que diabos a história dele tem a ver com a história de Neh-buh-loh, da Rainha das Fadas Sheeda e todo o mais considerando que nada disso é citado sequer uma vez em sua trama (ao contrário das demais mini-séries).

Tudo é bem experimental e malucão, e, verdade seja dita, faz bem pouco sentido no fim das contas como uma história 'maior'. A vilã acaba derrotada sem muito contexto e na verdade parece que tem muito mais coisa se desfraldando no futuro (que é de onde os vilões de fato vem) e ainda tem, bem, o que quer que seja o Pântano da Matança e aquela trama com os alfaiates (que tem a cara do Grant Morrison).

Isso é bem diferente de O Quarto Mundo de Jack Kirby em que séries paralelas (Novos Deuses, Senhor Milagre - nesse caso Scott Free -, O Povo da Eternidade e a série de Jimmy Olsen) contam as histórias dos habitantes de Nova Gênese e Apokolips e a busca pela Equação da Anti Vida, assim como do confronto definitivo com Darkseid. No caso da história de Kirby, cada série é independente e tangente (Superman enfrenta Drácula, o Monstro do Lago Ness ou o comediante Don Rickles, para se ter uma ideia), mas as histórias de Kirby TEM um propósito e uma trama maior, mais abrangente e que une as diversas histórias individuais.

Não é o caso de Sete Soldados. Apesar das tangentes e menções aqui e acola, nada parece de fato pertencer ao mesmo contexto ou história - muito pelo contrário - e o desfecho pouco ou nada usa dos personagens ou representa algum ponto crucial que justifique cada um dos 'soldados' em ações específicas ou no desfecho de suas tramas (na verdade, Eu, Aranha - que está entre os heróis que fracassa na edição 0 - é mais relevante que, o Klarion ou mesmo Zatanna no desfecho da história).

Mais que isso, parece até que cada história tenta criar sua própria futura (se possível) série derivada e recriar cada um dos personagens com novas estruturas e condições próprias, permeando condições e disposições diferentes do universo DC (a vida de pseudocelebridades que Projétil aborda, enquanto Guardião enfrenta ameaças bizarras urbanas escrevendo para um tabloide sensacionalista), e, bem, até foi o que aconteceu com o Frankesntein pelo Jeff Lemire e Matt Kindt...

No fim, a história da invasão Sheeda que tende a iniciar milhares (ou milhões?) de anos no passado quando os Novos Deuses vieram para criar a raça humana e depois centenas (ou milhares?) de anos no futuro resultarão na raça humana se tornar a raça de fadas Sheeda, enquanto um garoto mágico que morreu (ou não?) aposta com um alfaiate cósmico que tece o destino do universo num casebre no Pântano da Matança na garantia de uma antiga profecia trará sete soldados para salvar o mundo.

E esse é o resumo mais compreensivo que eu posso fazer da história, mesmo que contenha spoilers (eu acho), mesmo que bem provavelmente faça pouco sentido, eu não sei se consigo explicar melhor.

Preciso repetir, é algo tão experimental que fica difícil dizer o que de fato se tenciona com a história - até com as ramificações e continuações da história em outros eventos e momentos - e é mais no estilo 'porraloca' do Grant Morrison com viagens bizarras e coisas que pouco ou nada fazem de sentido (como Piratas das linhas esquecidas de Metrô de Nova Iorque ou cidades subterrâneas de bruxos Amish) que em poucos momentos trilham por ideias convencionais interessantes (como grupos de apoio para super heróis fracassados ou Convenções para que estes se apresentem e concedam entrevistas e autógrafos).

Tem boas ideias, algumas coisas bem legais e histórias interessantes, mas a ameaça principal é tola e pouco desenvolvida (se de fato o é), e, considerando que a história 'principal' só é tangente por natureza, fica bastante difícil formar uma narrativa maior e coesa. É possível tratar como Lost ou algo do tipo e buscar as pistas e reler ad infinitum até localizar todos os aspectos e maneiras como as histórias se cruzam, mas, não vejo justificativa para a falta de uma ameaça tangível e bem desenvolvida e construída ao final.

Então, o que posso dizer, é que enquanto funciona um pouco e em algumas escalas, falta substância para a 'história' principal e acaba algo bem desconjuntado, perdido e confuso no final (se é que é o final). Só está bem longe de trilhar algum novo e fascinante caminho na história das histórias em quadrinhos.

Nota: 6,5/10

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