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23 de outubro de 2020

{Resenhas} Sandman - Neil Gaiman

Elogiar Sandman é chover no molhado. A série ganhou praticamente todo tipo de prêmio existente para literatura infanto-juvenil e quadrinhos no planeta de alguma forma ou outra, e, não seria de duvidar que alguns prêmios inclusive foram criados somente para a série.

Neil Gaiman conseguiu uma enorme popularidade e lançou sua carreira literária (que, como eu destaquei algumas semanas atrás, é bem aquém e previsível), até por ser não apenas seu melhor e mais brilhante trabalho até o momento como um dos mais audaciosos quadrinhos adultos da história - contando com uma longa história que lida com temas extremamente polêmicos e difíceis (trazendo personagens transexuais e com HIV no início dos anos 1990, por exemplo) enquanto contando uma história não linear que aborda desde o princípio dos tempos (sim, afinal os 'perpétuos' surgem com o nascimento do universo e desaparecerão quando ele chegar ao final - ou não) e se estende por múltiplos séculos, dezenas de personagens e tramas paralelas (e até, sejamos francos, realidades paralelas) enquanto trilhando relações pessoais e familiares em sua complexidade e interconectividade.

A trama tem grande ênfase sobre as decisões, sobre arcar com elas e, mais importante, ser capaz de lidar com seus atos - assim como eventualmente corrigi-los e repará-los, mas, mais importante, aprender a mudar e se adaptar às mudanças.

Mas, de novo, nada disso traz exatamente algo de novo (até porque a série terminou de ser publicada já faz uns bons vinte e seis anos, apesar de alguns volumes e séries extras), então é justamente por isso que minha resenha vai tentar focar em apenas dois pontos: o que a série tem de melhor e de pior.

Não vou comentar arcos individuais ou histórias ou qualquer coisa do tipo, quem quiser uma versão mais detalhada, eu já escrevi em 2014 pro Universo HQ, e não acho que tenha muito mais a acrescentar.

Começando pelo pior, a edição 54 da bem fraquinha saga 'Fim dos Mundos', que é basicamente uma coletânea de contos tangentes, pouco relevantes e em geral que seguem uma enorme encheção de linguiça (trazendo gente contando uma história dentro da história que está sendo contada, por exemplo), mas a história de Prez Rickard é muito idiota.

Tá, tá, eu sei que é um personagem do Joe Simon para uma série de 1973 que é tão idiota quanto a história aqui relatada e tudo mais... Só não acho isso justificativa por diversos motivos.

Um, que essa situação toda de um presidente adolescente hippie nos anos 1970 (de uma realidade alternativa) não parece coerente com nada do que é apresentado no restante da série. Sério, olhando para todos os demais 75 volumes de Sandman, mais especiais e epílogos, onde que a história de Prez parece se encaixar - ainda mais se considerando que é uma história de uma terra alternativa...?

Dois, a história é contada por um personagem (que deixa isso bem claro pelo começo da história), mas em determinado momento ao final da história isso é completamente ignorado para dar vazão à conclusão que envolve a Morte e Morfeus em fatos que o narrador simplesmente não teria nem como saber ou como imaginar.

E três, e mais importante, a história não é interessante. Várias histórias de Sandman são tangentes ou pouco relevantes para as tramas maiores - como os arcos Fábulas e Reflexões e, claro, as demais edições da saga Fim dos Mundos, como a história de Cluracan ou, bem, qualquer outra das histórias. Só que a saga de Prez Rickard de garoto engajado politicamente até presidente mais jovem (e perfeito) da história dos Estados Unidos não traz reviravoltas e momentos interessantes. Droga, mesmo a arte de Mike Allred está longe de seu melhor neste fascículo...

Do melhor da série, por outro lado, a disputa é bem mais acirrada, com arcos mais longos e histórias bem curtas disputando ferrenhamente a posição de melhor história, e, por mais que a edição 50 (Ramadan) e a edição 18 (Um Sonho de Mil gatos) estejam entre minhas favoritas e sejam obras primas em seus próprios direitos, eu não consigo pensar em algo que consiga encapsular todo o potencial da série e tudo o que ela tem de brilhante em tão poucas páginas quanto Os Caçadores de Sonho (a versão original, e não a quadrinização feita por P. Craig Russell).

Não usarei qualquer spoiler mas a história cria uma lenda japonesa com enorme sutileza e elegância que é só uma pena chegar ao final. No entanto é o destino de todos os sonhos...

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