Cem anos de solidão é um dos livros mais difíceis que eu já li, e, talvez seja parte de nossa estrutura moderna de desvio de atenção constante (em que frases que não cabem em um tweet são, por muitas vezes, complexas demais para nossa leitura e assimilação), mas, eu queria destacar que o livro literalmente traz uma personagem que come terra, então...
Tá, é uma metáfora que traduz o cerne do realismo fantástico e que visa justamente a partir deste tipo de choque criar algo maior e mais complexo para reforçar a estrutura narrativa - que, nesse caso visa estabelecer paralelos com a história dos países da América Latina da formação dos pequenos vilarejos independentes até o mais próximo da modernidade passando pela ascensão de ditaduras militares, enquanto foca em uma família envolvida em cada momento pivotal da história desse vilarejo - criando os nós e laços que vão ao mesmo tempo tecendo e envolvendo o leitor enquanto vão o enforcando. Longe de algo como Contra o Dia de Thomas Pynchon (até pelo elevado número de páginas e histórias aparentemente desconexas por uma porção considerável do início do livro), bem mais perto da obra de Mia Couto (com um texto mais enxuto que aborda o fantástico de forma paralela ao mundano, justamente para potencializá-lo e com isso justificar a história).
Só que às vezes tem uma menina que come terra e eu juro que eu tentei entender o que isso tenta significar num contexto maior ou mais abrangente (e talvez eu entenda dois minutos depois de publicar essa resenha e fique com um baita remorso), mas, eu realmente não vejo a clareza nessa fantasia e metáfora.
Só que a verdade é que boa parte disso é chover no molhado. A obra é uma das mais vendidas e conhecidas na literatura da América Latina, e Marquez um dos leitores mais conceituados, vencedor de Prêmio Nobel de literatura inclusive... Então cai mais na minha opinião pessoal, e, no que eu vejo desse material em contraste com outras obras que li e gostei (ou não) para definir em minha particular visão de gostos. E, pelo fato de ser difícil, eu posso dizer que não foi uma leitura prazerosa e agradável.
Não muda o fato que a prosa é brilhante, que o livro é muito bem escrito e blá-blá-blá. Mas pra mim não foi prazeroso ler.
Diferente de um Moby Dick que por vezes é tedioso mas sempre é um deleite e fascinante.
No fim das contas, é um bom livro que eu fico contente que pelo menos uma vez me dei ao trabalho de ler, mas duvido que algum dia volte a revisitar Macondo e suas histórias.
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