Pesquisar este blog

12 de julho de 2019

{Resenhas} Harry Potter e o Cálice de Fogo - J K Rowling

Nota: 5,0/10
É difícil comentar o quarto livro de uma série com sete sem parecer um tanto pedante, e às vezes até sem parecer levemente idiota.
As principais ocorrências para caracterizar a trama se estabelecem nos volumes anteriores e este é um volume para firmar os capítulos vindouros, e, até mais que isso, mudar de forma tonal a trama para algo menos episódico (como nos primeiros três livros) para algo mais contínuo (de uma trama grandiosa e maior do conflito com o lorde das trevas Voldemort).

Dito isso, e, aqui cabe a maravilha da perspectiva (afinal, eu escrevo essa resenha já em 2019 com os sete livros publicados e lidos), que eu particularmente acho que esse livro e o sexto poderiam facilmente inverter a ordem de seus eventos sem muito prejuízo (pelo contrário). Falarei mais disso na resenha do sexto livro, mas acho que seria bem mais proveitoso um livro sobre o passado do lorde das trevas e as Horcruxes que as Olimpíadas jovens para feiticeiros...

Ok, faz sentido mirar um fim de jogo para estabelecer as metas para concluir a trama de maneira satisfatória, só que não é exatamente o que o livro faz. Voldemort só volta no final do livro e, no volume seguinte (principalmente) ele ainda é uma ameaça velada (como nos primeiros), e mais que isso o livro se dá tempo para uma série de fatos aleatórios que não fazem muito sentido no grande esquema das coisas, como uma final de copa de Quadribol, uma Mini-Olimpíada para bruxos, intrigas jornalísticas permeadas por drama adolescente e um mistério à Scobby Doo (com direito a, literalmente, tirar a máscara do monstro para descobrir quem de fato é o vilão).

O que realmente me irrita no livro em si reside no quão bizarramente incompetente os grandes feiticeiros de Hogwarts de fato são (e eu sei que eu já falei disso antes, mas aqui consegue ser ainda pior) colocando em risco a vida de seus estudantes de maneira tão descuidada que beira o criminoso.
No que a gente cai no que pra mim é o grande ponto espinhoso do livro que reflete bem essa questão da incompetência e falta de contato com a realidade por parte dos administradores da escola (e bruxos em geral) que é a subtrama dos elfos domésticos que são basicamente escravos dos bruxos mais abastados.

Sei que como um homem branco e hétero é difícil fazer críticas sem parecer, bem, o Danilo Gentile, Olavo de Carvalho ou outro idiota do tipo, mas o fato que cabe aqui especificamente nem é a crítica pela autora ser mulher mas por ser uma ideia racista e que não faz sentido... Até porque entendo com toda a certeza que é uma mulher bastante inteligente que viu com toda a clareza que numa perspectiva de marketing lançar o livro com o protagonista sendo um garoto bom em esportes em detrimento da garota nerd seria mais rentável e melhor aceito pelo público.
Dito isso, droga, que tipo de retrato especificamente alude o grupo de 'elfos' escravos que trabalham nos afazeres da casa? Não é à toa que J K Rowling tente tantas e contínuas retconear a história para que o impacto desse racismo todo seja menor ou pareça menos racista ao menos, mas fica difícil.
Principalmente porque não existe um argumento coerente para a existência destes personagens (os elfos domésticos) em primeiro lugar.

Sério, é um universo de magia em que mover uma varinha faz com que as coisas se façam e aconteçam, pra que você precisa de empregados escravos pra fazer tarefas?
Mesmo que sirva para mostrar um certo passado tenebroso e cheio de preconceito e racismo, bem, o tiro sai pela culatra ao mostrar que por tantos e tantos anos esse pessoal se viu alheio a movimentos sociais (sabe, como toda aquela história do século XX com Marthin Luther King, Mahatma Ghandi e Nelson Mandela) mantendo costumes vitorianos que, droga, eles precisam de uma menina de catorze anos organizando um grupo de direitos dos elfos para entender que tem alguma coisa errada (e mesmo assim a mensagem passa desapercebida a ouvidos surdos).

Mas, mais que isso, pra que serve essa trama dos elfos domésticos como vítimas oprimidas de escravidão no século XX/XXI? Não quero tapar o sol com peneira e fingir que não existe um problema de escravidão no século XXI e até que compramos produtos originados de mão de obra escrava, só que o livro nunca se aprofunda no tema ou de fato desenvolve algo interessante com isso.

Os professores se fazem surdos ao 'F.A.L.E.', os outros alunos também e nada efetivamente muda ao ponto que, de novo, essa questão só levanta mais questões que não fazem sentido... Porque é o que eu estou insistindo, não acrescenta nenhuma camada efetiva sobre o mundo mágico... Que eles são escrotos? Bem, isso fica claro pela ascensão do lorde das Trevas Voldemort e seus asseclas comensais da morte continuando a trabalhar normalmente (como os Malfoy ou mesmo o professor Snape) assim como todas as gírias extremamente desrespeitosas (e racistas) com que muitos deles usam para descrever pessoas normais (como 'trouxas') ou mesmo os próprios feiticeiros como 'sangues puros' e 'sangues ruins' e coisas do tipo numa estrutura bastante elitista (no m

Fica difícil entender qual o propósito disso tudo num mundo de fantasia voltado para o público infanto-juvenil, inclusive quando o foco da trama é uma mini-Olimpíada, que é bem divertida dadas devidas reservas (como a preguiça irritante de Harry Potter e o fato que ele se torna novamente o centro das atrações mesmo sem nenhum motivo aparente, mesmo com a 'justificativa' do final) e termina com o retorno do mal encarnado da série numa demonstração de seu poder e ameaça - o que torna bastante irrelevante uma série das tramas secundárias.

No fim, fica claro que se editado/resumido/suprimido não faria falta alguma.
E na verdade só piora no volume seguinte...

Nenhum comentário:

Postar um comentário