(Ou três resenhas em uma).
Os três tem uma semelhante e inerente quebra de quarta margem para que, narrativamente o roteiro indague ao espectador e questione-o para as idiossincrasias intrínsecas do material.
Seja Anthony Hopkins falando que das histórias e como elas afetam (e mudam) de acordo com seus espectadores, seja com Alan Turdyk citando Grant Morrison (o escritor da fase mais emblemática da Patrulha do Destino) enquanto altera a narrativa conforme lhe parece conveniente ou com Frances McDormand como a voz de Deus narrando os eventos do Apocalipse.
E essa introdução serve para mostrar de maneira bem clara e direta as diferenças entre os três seriados no que tange a sutileza (do mais sútil para o menos), ao ponto de mostrar de maneira bem clara a qualidade de cada um deles.
Belas Maldições é terrível em sua literalidade na adaptação do livro de Gaiman e Pratchet, com o primeiro capítulo usando como narração o exato texto do livro de 1990. Palavra por palavra.
E a sucessão de eventos segue com mínimas alterações (mais para acrescentar alguns poucos personagens). E pra mim isso quebra a estrutura narrativa.
É normal o excesso de narrativa em livros (ou no rádio como no caso do Guia do Mochileiro das Galáxias). Faz sentido, afinal, que exista material mais interessante e inteligente na contextualização que nos diálogos, e é parte inerente destes textos.
No cinema e televisão, por outro lado, a regra é do 'mostre, não fale', e expor de maneira visual é sempre melhor do EXPLICAR a narrativa, e, como se espera, o excesso de narrativa impede o fluxo normal da trama ao que temos pouco espaço para o desenvolvimento natural dos personagens e contextos e excesso de contextualização forçada guela abaixo.
Sim, o material é interessante pela criatividade e tudo mais, mas lendo o livro e assistindo o seriado, mesmo com os ótimos atores envolvidos é difícil recomendar o material da Amazon Prime.
No meio do caminho, Patrulha do Destino é um seriado bem mais interessante como uma narrativa que remete bastante ao Deadpool (ainda que, se me perguntarem, com o roteiro muito mais inteligente e com um Alan Turdyk muito melhor que Ryan Reynolds em seus dias mais inspirados), e consegue construir um mundo bizarro de super heróis e monstros que vale a pena visitar.
Assim como Deadpool é bem provável que o espectador esqueça do conteúdo assim que termina o episódio...
É aquele blockbuster pipocão. Divertido sem questionar demais ou reinventar a roda.
Segue o que eu disse sobre o seriado dos Titãs (que a Patrulha do Destino já era lá o melhor do material), ainda que pareça meio desligado dos eventos daquele seriado (além das óbvias mudanças de atores como Timothy Dalton no papel de Niles Caulder enquanto nos Titãs é o ilustre desconhecido Bruno Bichir - assim como o tom destes personagens). Vale bem a pena conferir.
Mas é Westworld que chama a atenção efetivamente.
Primeiro pelo elenco que é incrivelmente superior aos dois seriados anteriores combinados.
Ed Harris, Anthony Hopkins, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, Evan Rachel Wood (a ótima Dolores) são apenas alguns dos ótimos nomes no material, e, ainda que eu insista que o primeiro episódio é bem desanimador, o material melhora bastante e embala conforme a história do parque e seus visitantes, da administração do mesmo e claro, das complexas ramificações éticas, morais e até mesmo filosóficas da vida artificial.
Existe muito espaço para debate sobre como os produtores constroem a história (que é brilhante e merece ser revisitada várias vezes) enquanto construindo um mundo que permeia filosofia e religião - com Hopkins, Harris e Wright fazendo os papéis de Deus, o Diabo e Jesus (assim como o Espírito Santo) enquanto levantando complexas perguntas sobre o que tudo isso significa. Claro, com espaço para nudez gratuita para manter o público interessado enquanto debate nossas escolhas e o processo decisório (se temos de fato escolha em nossas decisões - e livre arbítrio - ou se lidamos somente com um arranjo pré-programado de escolhas/opções).
Ainda que seja mais pesado que o material dos outros seriados (sim, mesmo considerando que um deles é sobre o Apocalipse bíblico), eu recomendo assistir de maneira espaçada, a conta-gotas com um intervalo de uns dias entre episódios para digerir melhor o que aconteceu em cada um deles, e, até para rever os eventos de cada episódio.
Duvido que eu tenha entendido tudo, e, quero rever a primeira temporada antes de começar a segunda.
Notas:
Belas Maldições - 3,0/10
Patrulha do Destino - 7,5/10
Westworld - 9,0/10
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