Raulzito pedia já na década de 1970 no álbum Há 10.000 anos atrás também queria reclamar, e pedia para o mundo parar que ele queria descer (em alusão a outra canção, esta de Silvio Britto). Eu entendo bem o sentimento.
Trump nessa semana que passou anunciou sua campanha pra reeleição e nela disse com todas as letras que vai curar a Aids, o câncer e seu filho, Don Jr ainda acusou Joe Biden de incompetente por não fazê-lo antes.
Além daquele microvômito que vêm a garganta ao ler esse parágrafo (ou no meu caso duas vezes pois teve um escrevendo-o e depois lendo para verificar se faltou alguma coisa) existe toda uma gama de escrotrice nesse comentário de Donaldo que é simplesmente impossível sumarizar de uma única vez (ainda mais sem uma nova golfada de vômito advir à garganta).
Primeiro porque, bem, como diabos um presidente americano ajudaria na cura do câncer ou Aids? Ele vai atuar como presidente durante o dia e à noite desce num dos laboratórios super secretos, coloca um jaleco e vai pesquisar combinações medicamentosas?
Porra, se fosse o CEO da Bayer (não confundir com o Bayern do futebol, é o conglomerado empresarial que entre outras coisas tem uma das indústrias farmacêuticas mais avançadas no mundo) anunciasse a cura pro câncer e pro HIV eu já ficaria com o pé atrás, mas o presidente norte-americano que acumula escândalos e mais escândalos e parece incapaz de entender as nuances de alguns crimes bem claros...
Segundo, mesmo ignorando que um presidente não pode explicitamente influenciar a pesquisa com muito mais que sugestões ou indicações - e que Trump é responsável por acabar com o mais próximo que os EUA tiveram de um sistema de saúde universal - como diabos ele imagina que nos próximos cinco anos seria possível fazer algo que é um enorme desafio para a mais nossa já bastante avançada ciência médica moderna?
Quer dizer, a Aids não é mais o mesmo bicho papão de décadas atrás, com mais de uma alternativa no tratamento, seja no coquetel diário, sejam alternativas mensais/bimestrais ou alternativas em caso de contato de risco como o PEP (profilaxia pós-exposição) que de maneira geral controlam e bastante o risco da doença. Não que eu esteja diminuindo a doença ou minimizando o que ela de fato é, só que hoje, pelo menos, a Aids é manejável.
Com o câncer, no entanto, o problema é bem mais sério - até porque um dos problemas ao se falar da doença é categorizá-lo no singular como se fosse UMA ÚNICA doença, quando o Instituto Nacional do Câncer diz com todas as palavras: "é um conjunto de mais de CEM DOENÇAS que têm em comum o crescimento desordenado de células".
"O" câncer não tem cura porque não é possível antecipar um ou determinado crescimento desordenado de células (porque a palavra de destaque é DESORDENADO e não CÉLULAS), e existem coisas demais para aumentarem os riscos para esse tipo de crescimento desordenado.
Um dos fatores está justamente na água que consumimos diariamente com os contaminantes emergentes, e, existe uma bela quantidade de artigos que justamente fala sobre a vinculação deles com o aumento de casos de câncer. Até porque além dos hormônios (que são um grupo bastante estudado e que são sim contaminantes emergentes) temos contaminantes bem mais comuns que incluem a cafeína e que resultam em mutações genéticas de pequenos organismos.
Mas mais que isso tem, é claro, os agrotóxicos, a volta dos asbestos/amianto (sim, Trump defendeu liberar o uso e nosso excrementíssimo seguiu) e, bem, até mesmo a carne (mais especificamente a carne processada que estudos apontam ser tão perigosa quanto tabaco). Além disso existe muita e muita coisa que a gente ainda não entende sobre o assunto que traz margem para pesquisas e novos problemas (como a análise toda sobre os telefones celulares aumentando incidência de câncer por exemplo)
AH, e vale destacar que o Doutor Drauzio Varella diz com todas as letras "que nunca existiu nem nunca existirá um único remédio pra tratar todos os casos de câncer" (e isso em 2016, vale lembrar).
Mas sabe o que realmente assusta? Por mais que tudo isso seja ridículo, por mais que seja absurdo e pareça mais com debate para escolha de representante de classe na quinta-série, esse tipo de estratégia pode ainda levar à reeleição dessa criatura.
Mesmo com tanto e tanto e tanto escândalo, aliado a tantas e tantas e tantas más decisões fica realmente difícil entender esse crescimento desordenado social que se espalha para o mundo e nos faz cada vez mais questionar (sem entender) o que diabos está acontecendo no mundo.
Até porque aqui nos deparamos com um 'suposto' jornalismo que investiga mais a fonte que a notícia (e esse nem é o problema efetivamente mais grave em meio ao mar de teorias de constipação do tio bêbado Olavo do Caralho com a terra plana e iguais estupidezas, ou Flávio e seu conje Queiroz e claro, a improvável disputa para elencar o pior ministro deste desgoverno).
Ou claro, do silêncio ensurdecedor quando morre Bete Carvalho, quando Chico Buarque vence o mais importante prêmio de literatura de língua portuguesa mas que se manifesta minutos depois da morte de uma criatura abjeta (que após quase matar uma mulher se suicidou como um covarde que é).
E saber que isso ainda é só o começo.
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