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8 de dezembro de 2017

{Resenhas} Quando éramos órfãos - Kazuo Ishiguro

Verdade seja dita, Kazuo Ishiguro é um excelente autor, e, mesmo nesse que eu considero seu livro mais fraco (até o momento dos que li do autor), é incrível como prende o leitor a todo momento.

Eu li o livro todo em três dias (durante a semana, ou seja, somente lendo nos horários fora do trabalho) e não conseguia largar, sempre querendo ler um capítulo a mais, uma página a mais e, mesmo depois de terminado eu gostaria de algumas coisas a mais (como um pouco mais de contexto para esse ou aquele personagem secundário que eu realmente achei mal explorado).

Ainda assim, o que me incomoda nesse livro reside principalmente em seu protagonista, e, quanto mais o livro avança mais é difícil de fato empatizar com ele...
Ele é um tremendo iludido, vivendo sonhos de criança e incapaz de ver ou compreender o mundo de maneira racional, e, enquanto isso não é exatamente um problema (afinal, essa é a grande marca de Dom Quixote), acaba se tornando confuso conforme a trama avança e, bem, parece que outros personagens também estão venturando pela visão iludida do protagonista.

Fica a grande dúvida se estão somente caçoando dele, se de fato é mais uma faceta de sua auto-ilusão ou o que quer que possa ser, principalmente nos trechos mais a frente no livro quando o protagonista ruma a uma casa abandonada em meio a uma zona de conflito...
Nunca fica exatamente claro ou certo se ele está imaginando ou vendo as coisas diferentes do que estão acontecendo ou se de fato as pessoas estão embarcando em sua viagem.

Nisso acho que faz falta o Sancho Pança para esse Dom Quixote, para expor sob nova luz as ilusões do protagonista, e, eu digo isso com grande convicção, pois quando o livro se dispõe a expor ao menos em parte as ilusões do protagonista, meu Deus é devastador.

Quase no final do livro, o protagonista se depara com alguém que tem as respostas - ou grande parte delas - sobre o desaparecimento de seus pais, e, as respostas são coisas de tirar o chão de qualquer um. De um sujeito iludido, então, que esperava um grande banquete e uma enorme festividade? Pode apostar que é avassalador.

O que atrapalha mesmo, porém, é que o livro gasta tempo demais criando uma fantasia à Grande Gatsby na alta sociedade de Londres em que o protagonista vai construindo sua carreira e vão surgindo coadjuvantes sobre coadjuvantes que pouco ou nada acrescentarão para a trama principal (e, em alguns casos como da filha adotiva, infelizmente - sério, eu realmente queria saber mais da história dela).

Sim, é verdade que esses momentos de festas e da high society se intercalam com fragmentos do passado para explorar e explicar o caso do desaparecimento dos pais décadas atrás com um pouco mais, e oferece um certo grau de variedade à trama. Eu só acho que é um grau de variedade desinteressante, que acaba minando outras histórias de se desenvolverem.

Nota: 7,5/10

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