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30 de maio de 2016

{Editorial} Distribuindo a culpa

Em 1888, as ruas de Whitechapel foram tomadas por um assassino serial que, ao que se sabe, assassinou cinco prostitutas.
Alega-se que o assassino tenha escrito à polícia provocando os investigadores sobre a natureza de seus atos, destacando que ele estava, efetivamente, parindo o século XX com a violência, e assinando suas cartas com o remetente singelo 'Do Inferno'.
O notório 'Jack, o Estripador', pesquisado e procurado por mais de cem anos mas quem melhor explicou a história do assassino foi o brilhante Alan Moore com seu fantástico quadrinho 'Do Inferno', e, mais do que em toda sua série de quadrinhos foi num epílogo brilhante para a edição encadernada intitulada 'A Dança dos Caçadores de Gaivota' (que é um trocadilho pelo fato que o sobrenome do principal suspeito na teoria de Moore tem o sobrenome 'Gull' que também é Gaivota em inglês), numa imagem da hq como segue:

"A Incerteza quântica, que é a impossibilidade de determinar tanto a posição de uma partícula quanto sua natureza, requer que mapeemos todos os possíveis estados de uma partícula: É uma superposição. Jack não é Gull, ou Druitt. Jack é uma superposição".
Moore continua e afirma, em outra passagem deste extra, destaca que até poderíamos encontrar o assassino, mas estávamos todos muito distraídos olhando para as mulheres nuas (as vítimas). 

Para resumir a longa história, o fato é que houve acobertamento da polícia, mas não apenas isso, uma vez que boa parte da falta de empenho na investigação se deu por uma questão bastante clara: As vítimas eram 1) Prostitutas, 2) Pobres e, claro, 3) Mulheres.
E o que Moore deixa bem claro no caso do Estripador é que, bem, como a arte de Eddie Campbell deixa bem explícito é que a figura nas sombras que constituí a imagem comum do facínora sanguinário espreitando à procura de sua próxima vítima não foge de uma pessoa comum - com um emprego pedestre e uma vida igualmente mundana.
Como a imagem do último quadro (e o texto sobre incerteza quântica) ele é um pouco de cada um de nós. Compartilhamos um pouco da culpa, seja pela omissão, seja pelo desejo secreto (vagueando nas sombras), seja pela defesa e fascínio com o criminoso... Um fascínio peculiar que nos coloca a observar e, de certa forma até admirar os atos perversos, glorificando e glamorizando o criminoso (que já ganhou toda a notoriedade e entrou para a história).

Ainda bem que não estamos mais na Londres de 1888...

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