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30 de abril de 2016

{EDITORIAL} Uma questão de perspectiva



Essa imagem, que todo mundo já viu ao menos uma vez na vida (a menos que seja um deficiente visual, ao que me deixa intrigado como está acessando meu blog - sério... É algum daqueles leitores eletrônicos? Como é a voz que está lendo o meu texto? Suave e elegante como Sean Connery ou esganiçada e fanhosa como a minh... Digo a de Jerry Lewis?), esse é um mapa mundi.
Exceto na Austrália.

Não, não... Por favor, não estou supondo ou dizendo nenhum absurdo sobre a Austrália viver numa dimensão paralela ou seus geógrafos estarem tão atrasados que não tem sequer um mapa mundi, é só que a maior ilha do mundo tem uma perspectiva, 'diferente' de como representar um mapa: A ilha está, não só no 'topo' do mapa como no centro (e não segregada a parte inferior direita de nosso mapa tradicional).


Pra fins gerais, o primeiro mapa que nós usamos é a versão, digamos 'universal' de como o mapa do globo deve ser representado no que foi definido no século XVIII quando se estabeleceu que Greenwich seria o "meio" do globo em condição longitudinal enquanto o Equador seria o o meio do globo na condição latitudinal. Nada demais, não é mesmo?

Bem, sim e não. Há um pouco mais na estrutura toda - afinal, o encontro que definiu Greenwich como o meridiano se resolveu num encontro com apenas 25 nações, das quais a maioria era da Europa, e o encontro seu deu em Washington. O que quero dizer é que a noção do 'norte' para 'cima' tem um viés mais ideológico (assim como o da Inglaterra no centro do mundo). Curioso que muita gente associa rapidamente a ideia de 'norte' e 'cima', e, uma grande parte disso se deve a convenção dos mapas (seja nas salas de aulas ou mesmo livros/atlas e meios eletrônicos).

Principalmente quando levamos em conta o quanto essas ideias são fatalmente absurdas.
Quer dizer, lembre-se que primeiro o mundo não é plano (e esse foi o maior erro de Mercator) e sim um geoide (se for mais fácil pense numa bola ovalada - mas num formato único).

Apontar o 'meio' de uma bola é estritamente difícil, só que fica ainda mais complicado quando você deve levar em conta que essa bola está rodopiando a uma enorme velocidade em torno de si própria ao mesmo tempo que ela também orbita uma outra bola maior (que chamaremos de 'sol'). Obviamente essa é a versão simples da coisa toda, uma vez que o universo está expandindo, o sol não está parado estático em um ponto fixo no universo e os campos magnéticos da Terra tendem a oscilar e mudar o ‘ponto’ real do Norte e Sul do globo (de novo, devido a uma série de fatores, alguns dos quais inclusive são desconhecidos sobre toda a questão do eletromagnetismo - no video do Kurtzgesagt há um pouco sobre eletromagnetismo e mais, bem mais sobre o planeta), e ainda tem um agravante sobre a forma como fazemos e fizemos todos esses mapas por anos e anos a fio, e, que volta ao problema proposto da questão de perspectiva.

Veja, somente recentemente graças a tecnologias avançadas e satélites de alta precisão a humanidade teve a oportunidade de ‘ver’ a Terra efetivamente de uma perspectiva externa (que é como todos os mapas desde os mais antigos, tendem a parecer, vislumbrando o mundo ‘de cima’). Nossos mapas mais antigos eram, na melhor das hipóteses, presunções e liberdades poéticas sobre a forma que o mundo deveria ter (na pior, terrivelmente inacurados).

Acontece que a Europa demandou, por muitos anos, de imensas quantidades de mapas para seus exércitos (o Império Romano foi uma força impressionante que dominou toda a Europa e partes da África e Ásia), e a expansão das rotas marítimas europeias nos séculos XIV e XV demandaram mais e mais mapas (as rotas comerciais no Atlântico com o 'descobrimento' das Américas só cimentou isso). Daí até o século XVIII quando se definiu a Inglaterra como o meridiano central foi apenas uma passagem de tempo.

Isso e a animosidade da Austrália com a Inglaterra (até porque a ilha nasceu como uma prisão para ingleses deportados) explicam os primeiros parágrafos, mas no fim, tudo é, nada mas que uma questão de perspectiva.

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