Existe uma cena que eu acho significativa no livro e que explica muito bem a situação e o tema proposto por Ishiguro - neste que é sem dúvida seu melhor livro até o momento. É o capítulo mais longo do livro, e ocorre um longo evento em um casarão inglês, onde o nosso protagonista (Stevens) trabalha como mordomo.
Seu pai está passando mal durante o evento, onde uma série de dondocas e pseudo-importantes se reúnem, e, nos momentos finais de vida do pai, além de abrir mão de estar com ele - para trabalhar - o mordomo cede o médico, em seus momentos finais para um célebre senhor que sente dores nos pés...
É verdade que ele cede o médico do pai para o lorde já ciente do óbito do pai, mas ainda assim, ele se mantém firme e íntegro trabalhando e a cena é impactante para mim muito mais do que o restante do material sobre o apoio dos ingleses ao nazismo e toda uma série de fatos que vai se destrinchando na história.
Mas é a história deste subalterno que, efetiva e claramente é mero coadjuvante nos eventos principais e importantes, é esse homem que se dignifica a ser mero coadjuvante e não apenas aceita seu papel como o faz com enorme dedicação e afinco, é esse homem que vai ganhando o respeito e a solidariedade do leitor.
De fato ele é por vezes pomposo e é difícil aceitar seu lado ou concordar com sua postura (é difícil empatizar com um homem que abre mão de estar com o pai morrendo para cumprir sua função, ainda mais uma função, sejamos francos, insignificante e que pode facilmente ser substituída por qualquer pessoa), mas é a narrativa clara e bem conduzida de Ishiguro que torna essa transição fácil mesmo que sem a ligação.
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