Passaram-se alguns dias da estreia, todo mundo já viu (a previsível) reação negativa do filme e é muito fácil explicar o que ele tem de ruim.
Mas o anterior também era ruim.
E o anterior anterior (de 94, nem lançado, só disponível em versões bootlegs) também (ainda que eu particularmente ache a melhor adaptação até o momento).
Os desenhos animados? Bem, depois da versão de 1967 da Hanna Barbera - que só teve uma temporada com vinte episódios, e, na melhor das hipóteses é passável - a coisa degringolou em versão tosca após versão tosca (incluindo um desenho solo do Coisa - que é pior que você imagina - e a terrível versão mangalizada chamada Quarteto Fantástico - Os maiores heróis do mundo).
Se existe alguma exceção que prova a regra é a animação 'Os Incríveis' que, apesar de não ser diretamente baseada nos personagens tem temática similar (uma família de super heróis com cada qual o seu poder - ainda que levemente diferente no tom).
Então a pergunta surge: Porque eles não funcionam fora de seu meio - que são os quadrinhos?
Bem, existem duas respostas. 1) Eles também não funcionam assim tão bem no próprio meio dos quadrinhos (até vendem, mas longe de serem uma propriedade que a Marvel realmente se empenhe, ao ponto que será cancelada agora em 2015);
2) Porque o que funciona no Quarteto Fantástico nos quadrinhos é o que os faz diferentes de outros quadrinhos (todos os super-grupos são constituídos por gente estranha e aleatória: Alienígenas, monstros bizarros e bilionários entediados... O Quarteto Fantástico, por outro lado, é uma família).
Mais que isso, eles não são um grupo estritamente de heróis. Suas aventuras são mais exploratórias que de combate a vilões e planos mirabolantes para acabar com o crime.
O grupo derrota vilões, é claro, mas normalmente são vilões que querem dominar o mundo ENQUANTO eles estão na vizinhança... Caso contrário, deixe para os demais outros milhões de heróis.
Se isso parece um pouco familiar, é porque é típico de todo filme familiar/quadrinho Disney/quadrinho europeu (como Tintim ou Asterix) que você já viu na vida.
Sabe? A família sai numa aventura e se depara com um sujeito inescrupuloso com um plano mirabolantemente ridículo. Resolvem o problema de maneira meio estúpida meio acidental e todo mundo dá uma longa risada, talvez aprende uma lição.
É algo que a Marvel fez bastante ao incorporar em seus quadrinhos personagens que representam o que é(ra) popular e surgindo nos quadrinhos.
O movimento surfista ganhando um herói no Surfista Prateado surfando o espaço.
Dos motoqueiros vem o Motoqueiro Fantasma!
Os filmes de vingança (de Charles Bronson, Steven Seagal e cia) adaptados no Justiceiro.
Os filmes de Kung-Fu? Shang-Chi: O Mestre do Kung-Fu!
Blaxploitation? Claro! Blade e o Herói de Aluguel Luke Cage (com sua tiara, cabelo black power e o apelido 'Power Man').
Filmes de terror? Claro que sim! Tomb of Dracula, Werewolf by night (não estou inventando esses nomes)...
Droga, a Marvel até lançou literalmente adaptações de filmes de sucesso com os primeiros quadrinhos de Guerra nas Estrelas e, pasmem, 2001: Uma odisseia no espaço.
Esse é um tipo de formato que perdeu a força, mas ainda mais que isso, já foi repetido tanto à exaustão que para os espectadores é difícil acrescentar algo novo... Mesmo que seja com super heróis.
Claro, claro... Funcionou com a animação Os Incríveis (mas até aí, até uma animação de carros falantes foi produzida, droga teve uma continuação com aviões falantes).
Por outro lado, quem saiu da zona de conforto limitante da época, conseguiu produzir algo novo e interessante. Veja o brilhante Blade de Wesley Snipes (sério, perto do personagem original dos quadrinhos, o filme é puro Shakespeare).
Ainda assim, aqui entra uma nota mais pessoal que talvez não valha para todos os leitores e potenciais espectadores em geral: Eles não são assim tão fantásticos.
Claro, claro, eles reuniram os Beatles E o Super Homem em seu casamento (vai por mim, eles estão ali), mas pare e pense por alguns instantes sobre o que faz deles especiais, porque a própria Marvel fez um belo trabalho em fazê-los MENOS especiais ao criar personagens com os mesmos dilemas E BEM MAIS INTERESSANTES.
O Coisa sofre com sua deformação física e o dilema de ser um monstro, certo? E esse é o mesmo dilema do Hulk (um personagem muito melhor construído e seu próprio protagonista, não mero coadjuvante e alívio cômico). Ele não é de todo mal, apesar de ser um disco riscado às vezes.
Tocha Humana não só é um parceiro mirim adolescente (Robin? Bucky? Anos 40...?) mas ele é um herói adolescente desinteressante num mundo habitado por gente identificável com o público e com problemas reais como Homem Aranha e os X-men (todos adolescentes). Além disso o personagem é uma reinvenção de um androide dos anos 40 de mesmo nome (sério).
Reed Richards, bem, além dos poderes que estão longe de serem originais (Homem Elástico de 1960 e Homem Borracha de 1941, ambos da DC), ele tem a personalidade de um bloco de papel. Não obstante, sua 'inteligência sobre humana' é mero mecanismo para a trama (constantemente ele inventa alguma bobagem que resolve o problema da vez e logo é esquecido - mesmo que um problema similar surja duas edições adiante).
E então resta Sue Storm, a Mulher Invisível... Quer dizer, eu até gosto da personagem em si, que tem alguns usos criativos de seus poderes e ideias interessantes como geração de campos de força e etcs.
Mas... Ela é tão mal escrita na maioria dos casos (sendo REALMENTE invisível por boa parte da história ou pior, sendo uma mulher histérica - apesar de ser a integrante mais poderosa do grupo) e tão obviamente sexualizada, além de ser constantemente assediada por vilões como Dr Destino, Namor e até o maldito Topeira, ela por um período não tão breve usava um uniforme assim:
Tudo bem que o poder dela é NÃO ser vista com um negócio desses (que stripers teriam vergonha de usar) mas... Uau. De novo, eu gosto da personagem, e acho que ela é a única com bom potencial no grupo, mas os criadores em si não parecem compartilhar dessa visão.
Droga, o próprio Stan Lee não se esforçava muito para incluir a Sue nas histórias com exceção de ser a personagem feminina resmungona... E Stan Lee ainda é talvez o melhor escritor de toda a história do Quarteto Fantástico.
Claro, claro, ainda existem as irritantes crianças Franklin e Valeria Richards e outros coadjuvantes com maior e menor representatividade, mas já é possível se formar uma boa ideia.
Então... Como é que eles duraram e existem há tanto tempo?
Bem, por uma fórmula simples de terem vilões realmente, REALMENTE interessantes.
Como eles já são invariavelmente quatro personagens contra um vilão, este vilão indubitavelmente tem de ser competente para enfrentar esse grupo sozinho, ao passo que os vilões vão ganhando mais desenvolvimento e foco, sendo cada vez mais grandiosos e grandiloquentes.
Gente como o Doutor Destino, Galactus, Anilus, o Aniquilador e toda a civilização Skrull são só alguns dos mais famosos (e que dão pesadelos para todo o restante do universo Marvel), mas ainda existem outros que ganhariam destaque surgindo das páginas do Quarteto Fantástico como o já citado Surfista Prateado, os Inumanos e o Pantera Negra. Droga, até o Homem Aranha foi ganhar mais destaque graças ao grupo...
Porque não funciona enquanto outras coisas mais bizarras e idiotas (sim, Pixels, eu estou olhando pra você) funcionam?
Bem... Nesse caso específico simplesmente porque não existe uma história que valha a pena ser contada, os personagens ainda que mais novos que da versão anterior parecem cansados e formulaicos e o vilão (que como o texto até aqui aponta, é o melhor do Quarteto Fantástico) é horrível! Junte a isso uma computação gráfica bem da sem-vergonha (nada do nível de Ex Machina ou mesmo Jurassic World) e ta-da! Se você se lembrar do filme até o final de semana que vem será mais esforço que os produtores, diretor e atores combinados!
Dá pra fazer algo legal - construindo um bom vilão e focando mais nele que especificamente no grupo dito 'Fantástico', até mesmo sem maior necessidade de conflito interno ou desenvolvimento destes personagens.
Ainda assim, aqui entra uma nota mais pessoal que talvez não valha para todos os leitores e potenciais espectadores em geral: Eles não são assim tão fantásticos.
O Coisa sofre com sua deformação física e o dilema de ser um monstro, certo? E esse é o mesmo dilema do Hulk (um personagem muito melhor construído e seu próprio protagonista, não mero coadjuvante e alívio cômico). Ele não é de todo mal, apesar de ser um disco riscado às vezes.
Tocha Humana não só é um parceiro mirim adolescente (Robin? Bucky? Anos 40...?) mas ele é um herói adolescente desinteressante num mundo habitado por gente identificável com o público e com problemas reais como Homem Aranha e os X-men (todos adolescentes). Além disso o personagem é uma reinvenção de um androide dos anos 40 de mesmo nome (sério).
Reed Richards, bem, além dos poderes que estão longe de serem originais (Homem Elástico de 1960 e Homem Borracha de 1941, ambos da DC), ele tem a personalidade de um bloco de papel. Não obstante, sua 'inteligência sobre humana' é mero mecanismo para a trama (constantemente ele inventa alguma bobagem que resolve o problema da vez e logo é esquecido - mesmo que um problema similar surja duas edições adiante).
E então resta Sue Storm, a Mulher Invisível... Quer dizer, eu até gosto da personagem em si, que tem alguns usos criativos de seus poderes e ideias interessantes como geração de campos de força e etcs.
Mas... Ela é tão mal escrita na maioria dos casos (sendo REALMENTE invisível por boa parte da história ou pior, sendo uma mulher histérica - apesar de ser a integrante mais poderosa do grupo) e tão obviamente sexualizada, além de ser constantemente assediada por vilões como Dr Destino, Namor e até o maldito Topeira, ela por um período não tão breve usava um uniforme assim:
Tudo bem que o poder dela é NÃO ser vista com um negócio desses (que stripers teriam vergonha de usar) mas... Uau. De novo, eu gosto da personagem, e acho que ela é a única com bom potencial no grupo, mas os criadores em si não parecem compartilhar dessa visão.
Droga, o próprio Stan Lee não se esforçava muito para incluir a Sue nas histórias com exceção de ser a personagem feminina resmungona... E Stan Lee ainda é talvez o melhor escritor de toda a história do Quarteto Fantástico.
Claro, claro, ainda existem as irritantes crianças Franklin e Valeria Richards e outros coadjuvantes com maior e menor representatividade, mas já é possível se formar uma boa ideia.
Então... Como é que eles duraram e existem há tanto tempo?
Bem, por uma fórmula simples de terem vilões realmente, REALMENTE interessantes.
Como eles já são invariavelmente quatro personagens contra um vilão, este vilão indubitavelmente tem de ser competente para enfrentar esse grupo sozinho, ao passo que os vilões vão ganhando mais desenvolvimento e foco, sendo cada vez mais grandiosos e grandiloquentes.
Gente como o Doutor Destino, Galactus, Anilus, o Aniquilador e toda a civilização Skrull são só alguns dos mais famosos (e que dão pesadelos para todo o restante do universo Marvel), mas ainda existem outros que ganhariam destaque surgindo das páginas do Quarteto Fantástico como o já citado Surfista Prateado, os Inumanos e o Pantera Negra. Droga, até o Homem Aranha foi ganhar mais destaque graças ao grupo...
Porque não funciona enquanto outras coisas mais bizarras e idiotas (sim, Pixels, eu estou olhando pra você) funcionam?
Bem... Nesse caso específico simplesmente porque não existe uma história que valha a pena ser contada, os personagens ainda que mais novos que da versão anterior parecem cansados e formulaicos e o vilão (que como o texto até aqui aponta, é o melhor do Quarteto Fantástico) é horrível! Junte a isso uma computação gráfica bem da sem-vergonha (nada do nível de Ex Machina ou mesmo Jurassic World) e ta-da! Se você se lembrar do filme até o final de semana que vem será mais esforço que os produtores, diretor e atores combinados!
Dá pra fazer algo legal - construindo um bom vilão e focando mais nele que especificamente no grupo dito 'Fantástico', até mesmo sem maior necessidade de conflito interno ou desenvolvimento destes personagens.
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