Pesquisar este blog

14 de agosto de 2015

{RESENHA} Uma confraria de tolos - John Kennedy Toole

Dados bibliográficos: Bestbolso, 2012, 432 páginas.
Título original: A confederacy of dunces (1980)
Resumo dinâmico: Uma comédia triste.

Resenha: Poucos livros produzem ao mesmo tempo admiração e repulsa, e, sem dúvida o trabalho de John Kennedy Toole é o de poucos.

Sua obra publicamente postumamente, rendeu inclusive o prêmio Pulitzer no ano seguinte e um certo culto e reconhecimento. A escrita prende o leitor com seu tom hipnótico conseguindo mesmo em meio a episódios sem qualquer evento desenvolver um estranho enlace com o leitor, em meio a bizarros personagens (o obeso, preguiçoso e presunçoso Ignatius é o mais improvável dos protagonistas, mas não está sozinho em um mundo permeado pela amalucada Darlene e seus pássaros de estimação, o malandro Jones que acaba mais vezes sendo vítima da própria malandragem ou o incompetente policial Mancuso e por aí vai).

Sobre a criatividade e competência de Toole de através de personagens horrorosos e praticamente sem identificação com o leitor (no caso a identificação vem através do exagero de nossos maiores defeitos) ver o sinal da crítica e comentário social estabelecido.

Ignatius é malandro preguiçoso constantemente trabalhando duro para não precisar trabalhar. Presumidamente é o homem mais inteligente do livro (com seu mestrado e um trabalho prévio como professor de universidade), enquanto seu comportamento não parece nem de longe refletir tamanha capacidade mental.
Seus discursos acalorados tendem a uma complexidade parva, perdendo-se dentro de sua própria incongruência. Ignatius parece a cada uma de suas cartas como a oferecer mais corda para lhe enforcar.

Sua estupidez em contraste com sua suposta inteligência serve como um dos muitos contrastes do livro, refletidos por todos (ou boa parte dos) personagens.
A mãe de Ignatius reclama que o homem é preguiçoso e precisa trabalhar enquanto o mima e faz todas suas vontades. Mancuso tenta de toda forma estabelecer sua figura como a de um policial efetivo e correto, mas mais frequentemente que não se vê em situações constrangedoras por motivos tolos. Mesmo a boate Noite Feliz cuja gerente constantemente reclama da falta de clientela é um reflexo deste contraste (o ambiente ruim, garrafas de bebida preenchidas com água, as constantes brigas e ingerências entre funcionários e patrões...)

É uma pena que essa seja a primeira versão do livro em português, e, ao que tudo indique também a última (encontrei por acaso numa Nobel). A pena, na verdade, é a trágica história do próprio Toole.
Escritor que passou anos tentando emplacar uma mera publicação sem encontrar público viu em sua mãe a única leitora e crítica durante a vida (tragicamente e prematuramente encerrada), e só pelos esforços dela que a obra foi publicada postumamente, quase dez anos depois da morte do autor.
Ainda assim se vê a depressão do autor traduzida no texto, nas palavras frustradas de Ignatius, Mancuso, Jones e mesmo Levy durante o decorrer da trama.

Nota: 9,0/10

Nenhum comentário:

Postar um comentário