(Roteiro: Eddie Campbell e Paul Jenkins; Arte: Sean Phillips; DC Comics, 323 páginas, US$12,99)
Essa é uma fase bem pouco popular de Hellblazer, e eu, após ler praticamente tudo do personagem, costumo me perguntar porque.
Phillips é o melhor artista da série sem grande esforço (ainda que Leonardo Manco consiga arrancar um segundo lugar com sua deslumbrante arte em edições futuras) e Paul Jenkins consegue caracterizar Constantine tão bem como poucos, sempre sarcástico e sacana e os riscos aqui conseguem escalonar de maneira coerente.
Muita gente gosta de ficar na sua zona de conforto, fazendo (e lendo) as mesmas histórias pra todo o sempre, outros buscam o pólo oposto que é o choque pelo ponto do choque (que não me motiva muito), mas Jenkins busca e excede expectativas, com uma história lenta que vai gradualmente caminhando para - o que ao meu ver - é o mais brilhante retorno de um personagem em toda a história.
Sim, o Primeiro dos Caídos, derrotado no arco 'Um patife às portas do inferno' (Rake at the gates of hell, volume 8 dessa mesma coleção da Vertigo), volta no arco que dá título a esse encadernado a história 'Critical Mass', e ainda que seja só o começo da nova fase, Jenkins já dá o tom de sua narrativa, principalmente no que pra mim é a cena definidora dessa fase, o demônio rindo como uma colegial após devolver a ofensa à John (o icônico dedo médio de Hábitos Perigosos, garanto que você já viu a imagem por aí), e, se ainda não ficou claro - além de que esse é o volume 9 de uma série de encadernados que compila as histórias da edição 85 a 96 da série mensal Hellblazer - é preciso um pouco de bagagem para apreciar as histórias contidas nesse volume.
Bagagem e paciência, haja vista que o fantástico arco 'Critical Mass' é apenas parte do conteúdo - e Jenkins traz outras boas histórias como Dreamtime, Dangerous Grounds e mais pendendo para o humor, desde a capa inspirada por ET - O extraterrestre, Riding the Green Lanes - só que pra chegar até isso você precisa sobreviver ao arco Warped Notions (noções perversas) de Eddie Campbell que só pra resumir tem algo com o fantasma de Benjamin Franklin tentando dominar o mundo (mentira, é um tal de Francis Dashwood, mas eu prefiro acreditar que é o Franklin... Faz parecer mais interessante).
Uma pena que a edição 97 (minha favorita da série, sem dúvidas, em que Constantine encontra Jesus - sim), epílogo do arco principal acabou de fora, mas aumenta o interesse pelo próximo volume!
Nota: 7,5/10
Rebels #1 (de 6)
(Roteiros: Brian Wood; Arte: Andrea Mutti e Jordie Bellaire; Dark Horse Comics, 32 páginas, US$4,99)
Brian Wood é um dos poucos autores que é realmente capaz de escrever ficção histórica com talento e qualidade enquanto levantando as exatas informações de datas e eventos (e perguntas sobre o quanto é ficção e quanto fato).
É difícil não amar história lendo qualquer um de seus trabalhos dessa natureza, como Northlanders ou agora Rebels contando a história da guerra da secessão norte-americana.
Cativante, com personagens bem construídos, cenários bem definidos e uma arte espetacular, Rebels é fácil indicado para listas de melhor mini-série de prêmios como Eisner ou Eagle (e pra mim sem competição até o momento), mas, obviamente é aquela versão romantizada da história que transforma todo homem do lado vencedor em nobre e honrado e todo homem do lado perdedor um verme bastardo maldito. E isso irrita um pouco em se tratando de Brian Wood (que conseguiu fazer algo bem mais isento de uma postura maniqueísta em outros trabalhos), e parece tipicamente ufanista para buscar o público da 'Murica, ou ao menos o dinheiro deles. Talvez seja apenas coisa da primeira edição, mas posso dizer que tira a credibilidade, sem sombra de dúvidas do roteiro como referência histórica. Como ficção histórica ainda é uma narrativa bem contada que se passa num período interessante, e que tem tudo para render um bom caldo, e mostra que a Dark Horse ainda está bem viva no mercado editorial (mesmo que a gente não se lembre dela quase nunca).
Nota: 9,0/10.
Capitão Britânia
(Roteiros: Alan Moore; Arte: Alan Davis, Panini Comics - republicação das histórias originais da Marvel Comics - , 246 páginas, R$26,90)
Esse é o motivo para Alan Moore não trabalhar mais para a Marvel - e, diga-se de passagem com alguns motivos.
Ele remodelou e tornou interessante um dos maiores arremedos de personagem que era o Capitão Britânia (já que existe o 'Capitão América' porque não fazer também uma contraparte na terra da rainha?) com histórias bem escritas, imaginativas e capazes de desafiar a inteligência do leitor e inclusive o molde da estrutura de histórias em quadrinhos (teorias de física quântica e noções complexas de filosofia e política)... E a Marvel sacaneou o cara na questão de direitos autorais.
Porque a Marvel sacaneou o Alan Moore? Bem, por algumas questões de direitos autorais, que também envolviam o personagem 'Marvelman' criado por Mick Anglo (que Alan Moore escreveu as histórias mais famosas em um acordo por direitos autorais - e que acabaram enrolados num longo processo tanto com a Marvel - pelo uso justamente do 'Marvel' no nome do personagem, posteriormente mudado para 'Miracleman', inclusive que é citado nesse arco justamente por se passar nesse período em que Moore detinha ou acreditava deter os direitos) e resumindo uma longa história, foi a primeira vez que o autor aprendeu que acordo de verdade só com contrato e muito bem assinado - e nem isso o preveniu de ser sacaneado pela DC e por Todd MacFarlane em ocasiões futuras.
Direitos autorais de lado, Capitão Britânia é o tipo de história pela qual todo fã de quadrinhos deveria louvar. Inteligente, intrigante, bizarra... Só que, verdade seja dita, falta alguma coisa.
É aquela relíquia de outra era, então é verborrágico, sobram diálogos e recordatórios com exposição (e repetição desnecessária) tornando o ritmo truncado e prejudicando o desenvolvimento da trama, e perto de outros trabalhos do Moore... Bem, é como um trabalho de quinta série contra um livro aclamado e laureado com prêmios de literatura... Pode até ser o mesmo autor, mas o estado cru e menos refinado no primeiro momento demonstra o longo caminho necessário para se tornar aclamado e laureado. Claro, claro que é um imenso exagero (Moore consegue criar algo bem inteligente aqui - e é uma fonte da qual Grant Morrison passaria as próximas três décadas bebendo, inclusive na recém concluída Multiversity), mas quando é o mesmo sujeito que fez isso umas vinte vezes melhor em Promethea (e eu li Promethea primeiro), fica difícil defender esse material perante toda a gama enorme de obras fantásticas do autor.
Mesmo Alan Davis está longe de seu melhor, com uma arte um tanto errática (entre o excelente de seu padrão e algo tão estranho e diferente que até parece o trabalho de outro autor).
Mesmo Alan Davis está longe de seu melhor, com uma arte um tanto errática (entre o excelente de seu padrão e algo tão estranho e diferente que até parece o trabalho de outro autor).
No geral é uma boa leitura, ainda que longe de ser o melhor do autor.
Nota: 7,0/10.
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