Pesquisar este blog

15 de dezembro de 2019

{Editorial} Quadrinhos e política

Você deve ter visto a imagem durante a semana de uma página de The Dark Knight Returns: The Golden Child (O Cavaleiro das Trevas: A Criança Dourada em tradução livre) que é uma espécie de Cavaleiro das Trevas 3,5, servindo de continuação para a terceira série escrita por Frank Miller.

A imagem de um tweet na página como segue:


Não há nenhuma tentativa de esconder que é o presidente brasileiro defendendo justamente o argumento que ele tanto defende - que o 'cidadão de bem' deve ter uma arma em casa. A imagem em si é bem provável mais coisa do artista Rafael Grampá que do autor Frank Miller.
Miller, no entanto, é bem claro que é responsável pela bem mais impactante página 14 (com o presidente norte-americano Trump como uma marionete do vilão Coringa como plano do também vilão Darkseid). E algumas páginas depois, com posteres de Trump ao fundo, o vilão Coringa usa um terno com as estrelas e as listras.


É verdade que Frank Miller - faz tempo inclusive - está bem caduco. Já disse isso em várias resenhas que fiz do autor (inclusive o recente 'Superman Ano Um'), e ainda que o original de 1986 traga em um de seus momentos mais importantes justamente a morte do vilão Coringa, essa hq por mais caduca que seja tem algumas das melhores ideias do autor em muito tempo.

A analogia (extrema) de Miller da manipulação de opinião pública para fins nefastos é uma grande sacada da hq (ainda que, como eu tenha dito, falhe em outros aspectos) ainda que não se limite ao universo de Batman, enquanto o Hulk Imortal de Al Ewing traz o protagonista lidando com celeumas do capitalismo e da estrutura moderna global de poder.
E verdade seja dita, política e quadrinhos nem são algo recente. Tem os X-men com o Apartheid de Genosha ou o Capitão América enfrentando o Império Secreto de Nixon (que ao invés de um impeachment acaba se suicidando no salão oval) ou praticamente toda história digna de nota do Arqueiro Verde (de sua fase correndo a América na década de 1970 lidando com problemas tópicos como drogas e racismo, enquanto na década de 1980 o personagem enfrentava armações da CIA e atentados contra líderes globais).

Droga, mesmo nos tempos de Segunda Guerra Mundial, em que nos EUA enquanto ainda haviam muitos apoiadores de Hitler (sim), o Capitão América já socava a fuça do nazista em sua primeira edição (e Jack Kirby ouviu muita gente querendo desafiá-lo por isso).

Política faz parte dos quadrinhos, querendo ou não, seja por descobrir em dados momentos que quando boas pessoas se calam enquanto os vilões vencem, seja pura e simplesmente porque fazem parte de nossa vida (e nos afeta), e muitas vezes mudam a forma como os heróis devem e precisam agir - pois que tipo de monstro e tirano vai querer conceder um mínimo limiar de esperança na forma de heróis ou ao menos homens e mulheres de bem que queiram fazer a coisa certa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário