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13 de dezembro de 2019

{Resenhas} O Senhor dos Anéis (a po))@ toda mesmo, volume único) - J R R Tolkien

Eu queria gostar de J R R Tolkien.
Quase todos meus amigos do colégio leram e gostaram (é, eu andava com essa turma, mas realmente não deveria parecer surpresa...), e da faculdade alguns tantos igualmente. Eu assisti aos filmes de Peter Jackson e adorei, e, até o momento eu só tinha lido outros materiais diferentes de Tolkien e minha opinião sobre O Hobbit continua a mesma: "Tolkien é de fato um escritor primoroso e sua narrativa é envolvente e cativante, com uma bela cadência e exemplar construção de história, mas nada disso faz com que o livro deixe de ser chato pra cacete com suas milhões de canções e poemas", e os problemas daquele livro e desse(s) se repetem e se avolumam.

Com O Senhor dos Anéis - dividido em três volumes, sendo eles A Sociedade do Anel, dividido em livro 1 e 2, As duas torres, dividido em livro 3 e 4 e O Retorno do Rei, dividido nos livros 5 e 6 - cada um com mais ou menos quatrocentas páginas cada e uma grandiosa história com centenas de personagens, raças, povos e um enorme conflito entre luz e trevas com animais fantásticos e criaturas fabulosas em cada espaço... Bem, parece que não sobraria espaço para enrolação, enxeção de linguiça e para o texto embarrigar dando voltas sobre si mesmo, não é mesmo?

Mas se você pensou isso é bem provável que não se familiarizou com Tolkien...
O primeiro livro em si é uma enorme, colossal e abissal perda de tempo com algo em torno de dez capítulos dos quais aproximadamente 6 não acrescentam nada para a história propriamente dita - que começa no segundo livro quando A Sociedade do Anel finalmente se forma e a jornada de fato se inicia.
No primeiro livro no entanto, sobra Tom Bombadil, e, eu realmente queria entender o processo mental de construção desse personagem, seus propósitos, motivos e funções.

Quer dizer, ele aparece, salva os Hobbits umas cinquenta vezes em três ou quatro capítulos, prova que é a criatura mais poderosa e fodona de todos os tempos (tanto que seu nome é repetido mais vezes no primeiro livro que qualquer outro), e simplesmente desaparece da história. Por mais uns dois capítulos no livro 2 ainda falam dele ou mencionam "Ei, lembra daquele xarope do Tom Bombadil?" e é isso. A partir do livro 3 o personagem não é mais citado, e novamente, você fica se perguntando porque ele recebeu tanto destaque, por tanto tempo.

Porque não desenvolver Sauron e toda a mitologia do Um Anel com mais detalhes, lendas e história que com esse personagem chato pra caramba que simplesmente diz e repete inúmeras vezes o quanto ele é perfeito e fenomenal - e que volta a ser mencionado somente brevemente no volume final sem acrescentar absolutamente nada para a história?

Depois disso melhora bastante, ainda que a melhora substancial ocorra em As Duas Torres, mas os problemas persistem e a questão toda que se leva em conta em especial é: Porque isso é uma longa saga em seis livros (ou três cada qual dividido em duas sessões) com pouco mais de 1000 páginas na qual ocorre muito menos que no outro que é a prequela (com dragões, trolls e guerras de cinco exércitos)...?

Lendo a saga do Senhor dos Anéis e o Hobbit, eu realmente não soube responder categoricamente.
Não é como se o material aqui trabalhasse muito mais no desenvolvimento de personagens e do cenário para contextualizar um evento grandioso enquanto o outro livro foque mais numa jornada divertida com uma moral no final... Até porque com exceção de Aragorn e Frodo os demais personagens tem pouca(s) nuance(s).
E, de novo, não é como se as ameaças apresentadas nessa série de livros sejam de fato mais interessantes ou maiores que as de O Hobbit.

Sim, Sauron e seu exército irrefreável marchando com Saruman como seu principal aliado são grandes ameaças, mas... O outro livro tem um dragão incrivelmente versado e a "febre do dragão" faz bem mais sentido que a ameaça de um anel que controla pessoas.
Tá, tá, faz parte da ópera de Wagner "O Anel de Nibelungo" da qual Tolkien se inspira e distila parte do conteúdo, mas isso não faz com que automaticamente o material faça sentido.

Ainda assim, eu entendo que em "19-- e minha avó mocinha" quando o livro foi escrito e publicado, era uma outra, completamente diferente, realidade, ao que o material criou e estabeleceu todo um novo gênero ou ao menos uma ressurgência das histórias de magia e espada - ao lado de Conan de Robert E Howard. E é graças a esses vovôs da literatura de fantasia que mais recentemente livros (e séries e jogos de videogames) mais interessantes ganhariam vida.

Só que se estabeleceu uma demanda verborrágica desnecessária que ainda persiste (como no caso de Harry Potter ou da canção de gelo e fogo) com histórias mais e mais longas mesmo quando não existe motivo para tamanha grandiloquência. Folgo a dizer que é justo o contrário - nos momentos de introspecção em que o herói se depara com suas decisões e precisa questionar suas motivações, que de fato essas histórias ganham dimensão, corpo e propósito.

Pra mim é a jornada de Frodo que de fato dá o tom do que constrói O Senhor dos Anéis e o estabelece como limiar na literatura. É o herói imperfeito - e que para todos os motivos NÃO deveria ser um herói - mas que se erige quando a oportunidade clama, e se assusta com o preço que lhe será demandado.

Mas, sim, sem sombra de dúvidas, o final é uma maratona.
Com um final, um epílogo, e outro, e outro, e mais um... Parece que o livro não quer (ou consegue) encerrar sua história de maneira satisfatória, e, como se pode imaginar, não consegue.
Com tantos extras que pouco ou nada acrescentam de interessante a coisa toda só vai degringolando e gastando qualquer restos de boa vontade que o leitor ainda tenha ao final de tão longa jornada.

Gostei de algumas coisas, detestei outras tantas (ou mais) e no fim achei bem aquém de qualquer expectativa.
Fraquinho.
Nota: 4,5/10

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