Eu pensei em fazer uma resenha normal de 'Nosso querido Bob' (What about Bob? de 1991), que entrou na Netflix recentemente estrelando Richard Dreyfuss e Bill Murray na dinâmica de psiquiatra e paciente respectivamente.
Mas francamente eu não tenho muito a falar sobre o filme além de chega a doer assistir as cenas que se alongam enquanto Murray tenta encontrar a comédia numa cena que não tem nenhum humor.
Murray consegue criar boas cenas com seu jeito bonachão e escrachado que contrasta brilhantemente com o metódico e calmo personagem de Richard Dreyfuss, e existe uma dinâmica interessante entre os dois, mas fora isso o filme é uma bomba.
É o resultado de uma péssima sucessão de escolhas ruins que levaram o que deveria ser um drama sério e focado num protagonista buscando aprender a superar seu trama pessoal e crescer com isso (algo como Reine sobre mim para ficar num exemplo só razoável).
Droga, quando o Bob de Murray se faz de policial para atazanar as férias do seu médico (de uma única sessão) como se fosse uma 'brincadeira' ou algo engraçado - e não uma clara violação, não só da tratativa médico/paciente como de todo e qualquer comportamento humano.
Mas talvez você esteja pensando "ei, mas é só uma comedia, não seria mais o ponto de levar menos a sério?" e eu te respondo que é como fazer uma comédia romântica sobre uma mulher que não consegue se envolver em um relacionamento porque foi abusada pelo pai quando criança...
Tentar extrair humor da situação de um paciente com agorafobia (e pelo menos mais germofobia) porque ele é 'maluco' (ei, o pôster ao lado diz claramente que ele é o tipo de pessoa que vai te enlouquecer) forçando mais e mais a personalidade dessa pessoa para algo que beira o psicopático sem os colhões para trabalhar com humor negro resulta em algo insosso e idiota... E olha que mesmo com o humor negro (como no caso de O Pentelho de 1996) também não é muito fácil fazer funcionar.
Droga, quando o Bob de Murray se faz de policial para atazanar as férias do seu médico (de uma única sessão) como se fosse uma 'brincadeira' ou algo engraçado - e não uma clara violação, não só da tratativa médico/paciente como de todo e qualquer comportamento humano.
Mas talvez você esteja pensando "ei, mas é só uma comedia, não seria mais o ponto de levar menos a sério?" e eu te respondo que é como fazer uma comédia romântica sobre uma mulher que não consegue se envolver em um relacionamento porque foi abusada pelo pai quando criança...
Tentar extrair humor da situação de um paciente com agorafobia (e pelo menos mais germofobia) porque ele é 'maluco' (ei, o pôster ao lado diz claramente que ele é o tipo de pessoa que vai te enlouquecer) forçando mais e mais a personalidade dessa pessoa para algo que beira o psicopático sem os colhões para trabalhar com humor negro resulta em algo insosso e idiota... E olha que mesmo com o humor negro (como no caso de O Pentelho de 1996) também não é muito fácil fazer funcionar.
Talvez esteja vinculado com a escolha de marketing equivocada para conduzir o filme como comédia bem intencionada - e nisso buscar em Murray o que ele costumava entregar em sua comédia, algo mais para Caddyshack que para O Feitiço do Tempo. Talvez seja o que o estúdio enxergou e buscou do material, e talvez seja a falta de firmeza e inteligência do diretor em adaptar o roteiro.
Talvez até seja a marca de um período em que rir de problemas psicológicos (e mentais) era a marca do humor.
Mas a verdade é que é um exemplo claro de como as más escolhas podem deturpar a qualidade e percepção de um material.
Nosso querido Bob poderia ser um filme espetacular se carregasse sutileza e nuance em explorar cenas num crescendo buscando o desenvolvimento dos personagens e avançando a trama de maneira a concluir com seu efetivo amadurecimento.
O filme não lida com os problemas que oferece - sim, o médico é um charlatão ególatra que se importa mais em vender seu livro que efetivamente ajudar seus pacientes, mas isso não é motivo para humor nem para diminuir o problema do agorafóbico e germofobo Bob (que o filme mostra de maneira clara que não é um sujeito buscando atenção ou que sofre de hipocondria... Ele REALMENTE sofre de agorafobia, e os primeiros minutos do filme já mostram isso).
Não consigo recomendar para ninguém, mesmo quem seja tão fã de Murray a ponto de gostar dos filmes do Garfield... Mas que o potencial para um drama coeso, sútil e sensível sobre como conviver com um problema desses está ali (e germina cada aqui e acolá quando o filme não tenta desesperadamente ser uma comédia), isso ele está.
Talvez daqui uns vinte ou trinta anos também olharemos com desconfiança para algo produzido nos dias de hoje - tá, não acho que nem que vamos precisar de tanto tempo pra achar que o filme do Gentili do ano passado é exatamente o exemplo perfeito para isso - mas me cabe perguntar: Qual o ponto?
Talvez daqui uns vinte ou trinta anos também olharemos com desconfiança para algo produzido nos dias de hoje - tá, não acho que nem que vamos precisar de tanto tempo pra achar que o filme do Gentili do ano passado é exatamente o exemplo perfeito para isso - mas me cabe perguntar: Qual o ponto?
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