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16 de outubro de 2025

{Hallowsenhas para maiores de 18 de Quinta} Druuuuuuuuuuuuuuna

Druuna é um quadrinho que me assusta por mais de um motivo.

O primeiro é o motivo pelo qual eu tive que enorme dificuldade para escolher uma imagem para referenciar o material para quem nunca tivesse sequer ouvido falar e provavelmente pensasse que eu escrevi errado Duna ou Bruna o usei lá mais o quê.

Sim, é quadrinho erótico/pornô e a protagonista está em trajes sumários por boa parte do material - só que esse não é o problema. Manara também faz quadrinhos nessa toada, e o mesmo posso dizer de Crepax e outros tantos e tantos artistas que produzem material nesse estilo e gênero, e, a arte de Serpieri sem sombra de dúvida se destaca pela qualidade do traço e arte final que consegue criar tanto personagens quanto mundos que são ao mesmo tempo bizarros, alienígenas e ainda assim familiares.

O que acontece é que, bem, da amostra que eu li de Druuna - e eu confesso que não fui muito adiante - o material pende bem mais para a pornografia que erotismo (ao contrário dos exemplos do parágrafo anterior) e, não apenas ou mera pornografia, mas pornografia de estupro o que torna as cenas que envolvam sexo no geral bem mais desagradáveis de se ver - e talvez esse seja o ponto em si, criando um contraste com a arte produzindo uma protagonista estonteante que se vê vez após vez em cenas intragáveis de sexo.

Pra mim o limiar de tolerância não foi muito além da primeira história Morbus Gravis, até porque a parte narrativa não é muito melhor. O mundo é nojento, grotesco e, com exceção da protagonista Druuna, permeado por gente desagradável, detestável e terrível - e ao longo de pouco mais que 60 páginas desse primeiro volume (tá, eu acho que eu li ou passei por cima o volume 2, Delta, mas não é particularmente muito melhor nos argumentos que estou reclamando, talvez eu até ache que é pior no sentido de como toda cena de sexo seja de estupro).

Olha, eu não vou fingir que quadrinhos eróticos - ou que utilizem elementos mais pendendo para o eróticos - tenham roteiros estelares, brilhantes e incríveis. Talvez com a exceção de Black Kiss, não sei dizer se existe algum outro quadrinho que eu realmente me lembre com um roteiro mais elaborado ou minimamente escrito, e, Druuna não é exceção sob nenhum aspecto. 

Os personagens são rasos e geralmente as cenas são, como você pode esperar em pornografia, uma mera desculpa para que alguém acabe transando (sendo que, como eu comentei a pouco, esse sexo não seja consensual).

Então o material é mais repulsivo que erótico (de novo, o que talvez seja o ponto), mas existe um elemento que está intrinsicamente ligado ao universo da série, com um mundo de Mad Max mais perverso e violento que Mad Max (e com sexo), e, enquanto não funcionou para mim para criar um mundo e personagens interessantes (por mais que, como eu disse antes, seja um mundo e personagens visualmente interessantes), talvez seja algo que funcione para bastante gente, o que, não me parece tão absurdo considerando o quanto já esgotou e foi reimpresso.

E acaba meio que nisso uma vez que os personagens não são interessantes e a história não são interessantes ou empolgantes enquanto a arte que é o grande chamariz acaba criando mais cenário desagradáveis e repulsivos que efetivamente te engajando (ou compensando as falhas do roteiro no que tangem personagens e enredo).

Mas isso é terror para justificar uma Hallowsenha?

Bem, não tecnicamente - está mais para o erotismo ou pornografia - mas de fato é algo que me assusta bastante, saca?

Talvez a série melhor imensamente em volumes seguintes e eu esteja errado em minha avaliação do material, mas olha, não vamos fingir que nessas histórias que eu citei (Morbus Gravis e Delta) não aconteça uma quantidade enorme de estupros - eu acho que é em Delta que é apresentada uma garota careca que, a cada dois quadrinhos ela está sendo abusada por algum personagem diferente.

Porra, talvez a Itália dos anos 1970 fosse ainda mais machista que o Brasil de 2025, talvez um monte de talvezes, mas é muito difícil defender esse material pelo que ele apresenta, e, de novo, isso me assusta, saca?

A Pipoca e Nanquim lançou uma edição bastante cara em 2009 e, está esgotada com mais de uma reimpressão. Esse material já foi republicado diversas vezes no Brasil por várias editoras pequenas aqui e acolá (enquanto material bem mais interessante nunca viu a luz do dia ou está perdido em edições precárias, como Astrologia Divertida do Will Eisner que só saiu por aqui na revista DESTINO - que vale lembrar, sequer tem uma página própria da Wikipedia - da Editora Globo em 1991) e eu insisto que não consigo defender o material sob nenhuma luz ou perspectiva.

Não é inteligente, não é erótico, não é interesssante... Então qual é o ponto?

O ponto é que isso funciona para uma galera, né? Até tem uma galera que vai tentar justificar o contexto do estupro ficcional numa obra, mas é bem diferente quando uma narrativa que constrói e usa o assunto (Alan Moore trabalhou com isso em Watchmen e Monstro do Pântano, e Claremont lidou com o assunto durante sua passagem pelo X-men) mas existe sempre a diferença em lidar com um assunto e fetichizar sobre um assunto, o que, claro, depende e muito do talento do autor produzindo o material.

Além disso acho bem interessante que o ex-prefeito (e futuro presidiário, se houver alguma justiça) do Rio além de outros da patotinha dele viu problema numa hq com beijo gay consensual, mas ninguém da equipe dele pensou que uma série com retratos gráficos de estupro tenha qualquer problema. Curioso, né? 

Mas vamos combinar que eu já gastei tempo demais explicando ou falando sobre um material que não vale a pena tanta reflexão...? Passe longe.

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