Pesquisar este blog

25 de julho de 2024

{Resenhas de Quinta} O Ursinho nada carinhoso Temporada 3

Se você não assistiu às duas primeiras temporadas de The Bear (da FX/Star/Disney), você perdeu um dos melhores seriados dos últimos dez ou mais anos.

Os personagens são bem construídos, as histórias interessantes e evoluindo constantemente, a direção consegue capturar perfeitamente tanto a tensão do cenário caótico de um restaurante cheio e os pedidos atrasando quanto a sublime beleza de um prato bem montado ou das paisagens. Tudo isso com uma trama que sabe lidar com assuntos mais pesados (como um irmão drogado que se suicida, que é o ponto de partida da série) sem fugir de humor bobo de quinta série de vez em quando, e com uma sutileza ímpar.

Com tantos predicados, obviamente a terceira temporada tem tudo para funcionar, correto?

Bem....

Um dos maiores problemas da terceira temporada reside no fato que não existe uma história central. Eles montaram o novo restaurante e é isso. Depois das duas temporadas construindo o objetivo como a reestruturação e reinauguração do restaurante (agora como algo mais refinado e de alta gastronomia), basicamente os personagens voltam à configuração de fábrica e voltam vários dos conflitos resolvidos na(s) temporada(s) anterior(es).

Não me leve à mal, eu entendo que isso é o comentário central da temporada com sua crítica a essa tal 'alta gastronomia' e a tendência de tornar chefs/donos de restaurantes em celebridades (ignorando os comportamentos escrotos desde que produzam pratos elegantes), e o reflexo geral é de que não importa colocar um terno elegante e uma camada nova de tinta em um restaurante velho que os problemas acumulados e não resolvidos viriam à tona.

Ok, entendo que esse é o comentário e esse é o ponto (ainda que, e vamos deixar claro, outras temporadas já deixaram isso evidente e abuntamentemente claro), mas e o restante?

Não existe um objetivo maior para desenvolvimento, os personagens estão desfocados e sem propósito andando sem rumo do episódio 2 (uma vez que o primeiro é em suma uma retrospectiva) ao episódio 10 (e, sim, também pulando um outro episódio de retrospectiva no meio da temporada) e muitas vezes a situação se perde entre participações especiais desnecessárias (sim John Cena, é de você mesmo que estou falando, mas ele não é o único).

A temporada apresenta alguns cenários que não se compromete a desenvolver ou tentar resolver - como a crítica feita ao restaurante em um dos episódios, ou o conflito de Sidney entre aceitar a sociedade com o Bear ou partir para outro restaurante que lhe fez uma oferta ou a situação de Richie com sua ex ou a situação de Carmen com Claire, droga, nem a situação de Marcus criando sua sobremesa nova é concluída - terminado com um brochante 'Continua na próxima temporada', e, de novo, eu entendo.

Quando a série surgiu ela trouxe atores relativamente desconhecidos (ainda que Jeremy Allen White tivesse participado de 11 temporadas de Shameless), e no último ano com o sucesso da segunda temporada principalmente o elenco vem recebendo propostas e crescendo exponecialmente (com Ebon Moss-Bachach no MCU como o Coisa, e Ayo Edebiri como a grande sensação trabalhando em tudo nos últimos anos como Tartarugas Ninja, Divertida Mente 2, Homem Aranha Através do Aranhaverso, Black Mirror, estrelando um filme e por aí vai), e com as dimensões que a série chegou, conciliar agendas e manter sob contrato a quantidade de talento é extremamente difícil, o que explica as tramas unidimensionais e personagens aparecendo pouco durante os episódios (são tramas mais simples para que eles não tenham que depender do conflito de personagens caso determinado ator não possa filmar devido a seus outros compromissos). Só que se isso não funcionou como Arrested Development anos atrás, deveria servir de lição para quem tentasse fazer de novo, não?

E eu geralmente digo que não importam esses dramas de bastidores, e, reforço que não importam mesmo. Se precisassem de um hiato maior para entregar uma temporada completa e coerente,  bem, que lançassem a terceira temporada em 2025 ou 2026 ou quando o material estivesse pronto (a HBO vem fazendo isso com vários de seus seriados alterando anos como a Casa do Dragão ou Pacificador ou The Last of Us e ainda que isso possa muito bem ser sinal da compra pela Discovery focando muito mais em realities idiotas sobre gente idiota do que em seriados de prestígio e qualidade, só tira um pouco do valor do meu argumento).

Só que, e isso é efetivamente importante, com recordes de indicações de Emmy e prêmios para praticamente o elenco principal e diretores, não é díficil entender porque o material seria produzido a toque de caixa para lançar mais uma (duas, três, quatro ou cinco) temporada(s) enquanto o dinheiro e os prêmios continuarem vindo.

Do jeito que está, o que fica é a sensação de um produto incompleto, com bons momentos e ideias aqui e ali, mas que não conseguem formar um material interessante no fringir dos ovos, ainda mais com um final que só aponta para uma quarta temporada (na qual, dependendo do sucesso e visão de executivos pode partir para uma quinta, sexta ou sabe-se-lá quantas mais - droga, talvez eles lancem um spinoff com os Faks). E ainda que uma temporada ruim de The Bear seja muito melhor que a melhor temporada de Bridgerton e outros tantos seriados similares, não deixa de ser uma temporada ruim, e que pareça vazia.

Mas mais do que qualquer coisa, eu realmente ficaria puto se esse material saísse semanalmente... Só funciona maratonando (e com a perspectiva de passar pra frente ou até mesmo pular algum episódio).

Nenhum comentário:

Postar um comentário