Eu adoro Bob's Burgers e acho que devo falar mais do show e que (muito) mais gente deveria assistir. É engraçado, os personagens são insuportáveis (mais justamente por isso incrivelmente próximos do mundo real - e de pessoas que você provavelmente conhece) e inegavelmente o show melhora conforme você conhece mais os personagens.
Não que eu acredite que as histórias melhores ou os autores se tornem melhores em construir histórias, mas sim que quanto mais o espectador conhece os personagens e se familiariza com seus hábitos, suas manias e talvez até principalmente seus defeitos, fica mais claro o que faz os episódios funcionar e o material funcionar.
Louise é um barril de pólvora sempre prestes a explodir de alguma forma caótica, Gene é musical e extrovertido enquanto a introvertida Tina passa por problemas com garotos lidando com a puberdade (e claro também tem os adultos, clientes, amigos e inimigos que aparecem aqui e ali também todos cheios de personalidade).
Com os Simpsons, as personalidades não são tão definidas (até porque mais de 30 temporadas, incontáveis roteiristas e equipes criativas e por aí vai), mas enquanto podemos olhar com clareza que alguns personagens mantiveram ao menos traços de suas personalidades (Homer continua um idiota com bom coração, Bart um pilantrinha ardiloso e Marge é a matriarca que tenta segurar a família junta de toda forma), mas alguns exemplos ficam extremamente claros e nítidos com o seriado da família amarela e não existe exemplo maior que a Flanderização (que de maneira geral é reduzir um personagem mais complexo à sua versão mais simples, ou, mais especificamente, a uma caricatura de si mesmo - Flanders nas primeiras temporadas é um vizinho bem sucedido e carola que exemplifica a frase que a grama do vizinho é mais verde, enquanto temporadas mais tarde ele é somente um carola, cada vez mais carola).
Mas Lisa era, de certa forma, a voz da razão da série, como a bússola moral apontando para o lado certo mesmo que nem sempre correta (sabe, como quando ela se torna vegetariana e impõe seu modo de vida ao restante da família), e não somente nas últimas temporadas mas há um bom tempo parece que os autores não sabem bem como trabalhar com a personagem.
Ou ela é tem algum de uma série de problemas (auto-estima, ansiedade, depressão e por aí vai) ou ela está vinculada a alguma trama da Marge (geralmente sobre como ela e a Marge não se dão bem), e muitas vezes são histórias da tal 'continuidade do futuro'.
Enquanto isso parece oferecer mais para a personagem - ela não é só a sabichona voz da razão, ela tem problemas - é curioso como tudo isso parece extremamente uma nota, e essa uma nota é que Lisa é mimada/mal agradecida.
Ela tem problemas de auto-estima? Muito mimada que não pode aceitar alguma crítica legítima por estar acima do peso.
Depressão e tomando ansiolíticos? Criança mimadinha.
Não se dá bem com a mãe? Não reconhece todo o esforço dela...
Parece sempre uma crítica às gerações mais novas que tem tudo de mão beijada e não valorizam, e, é onde eu comparo com a família de Bob e o quanto, por mais horríveis que sejam as crianças (e muitas vezes seja culpa delas o que acontece), a série tenta sempre e constantemente reconhecer as crianças e seus projetos (idiotas) não importa muito os motivos.
Honestamente eu não sei qual é o pior episódio da Lisa ou mesmo se o pior episódio dela chegaria a uma nota abaixo de 3,5 para qualificar (talvez aquele episódio sobre a corrida eleitoral na escola de Springfield contra uma menina republicana), ainda assim eu vejo que cabe um comentário sobre como a personagem foi mudando ao longo dos anos num caminho confusamente diferente da Flanderização (acredito piamente que ela tinha menos personalidade ou características fundamentais antes do que hoje), deixando de ser a menina tímida e inteligente que tinha dificuldade de fazer amigos para se tornar, bem, uma menina bastante arrogante, sabichona e essencialmente mimadinha.
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