Confesso que fiquei surpreso de nunca comentar a série da Netflix aqui no blog (além de vagamente), e, nisso acho que falar somente da temporada final seria um tanto contraprodutivo.
Não que a série precise de muita introdução ou contexto, afinal foi um dos maiores fenômenos da Netflix e o título resume bem o material. Sim, é sobre educação sexual para adolescentes à flor da pele, ainda que, de maneira bem menos literal sirva e trabalhe mais para educar aos espectadores através dos muitos (e muitos e muitos) arquétipos, maneirismos, condições e perspectivas sexuais que afligem os adolescentes da série.
E funciona muito bem nesses aspectos em todas as temporadas. Com o avatar de Otis (vivido por Asa Butterfield) que aprendeu muito sobre sexo convivendo com sua mãe terapeuta sexual (vivida por Gillian Anderson), a série permite que os casos sejam apresentados, desenvolvidos e tratados pelo personagem ao passo em que se tece também uma narrativa mais abrangente explorando os personagens.
Sinceramente é um roteiro muito bem costurado e elegante nesses aspectos mesmo quando dá algumas derrapadas desnecessárias (sim, o episódio do cocô) ou até forçando situações e personagens em pontos que não agregam ou são interessantes. A viagem de Maeve (interpretada por Emma Mackey) para os Estados Unidos funciona muito pouco para a estrutura narrativa ou mesmo a jornada dos personagens, e acaba como um dos pontos mais fracos na conclusão da quarta temporada, e subsequente, da série - que, honestamente não exatamente um ponto final, mais um ponto e vírgula.
Em termos de destaques positivos, sem sombra de dúvidas a jornada de Adam (Connor Swindells) e seu pai, o ex-diretor Groff (Alistair Petrie) é um dos pontos altos da série toda, e que acaba como o mais próximo de uma jornada do começo ao fim (Adam começa como um estudante pouco interessado em aulas - mas com vários problemas de aceitação por ser filho do diretor - e termina finalmente se aceitando e reconciliando com seu pai, enquanto ambos aprendem). Outros personagens também funcionam muito bem, ainda que tenham momentos piores, como Aimee (Aimee Lou Wood) que oscila bastante na terceira temporada mas tem uma jornada interessante para encontrar seu lugar e sua voz, Ruby (Mimi Keene) que começa como uma simples garota popular valentona mas supreende como alguém muito mais interessante e obviamente, o melhor amigo do protagonista, e geralmente o personagem mais interessante Eric (Ncuti Gatwa) que tem seus momentos negativos, e até uma temproada bem ruim, mas sua jornada para conciliar sua identidade com sua religiosidade é algo incrivelmente bem construído e trabalhado.
A ideia geral (de apresentar problemas - ou dúvidas sexuais) com a narrativa dos personagens acaba em conflito na construção de arcos coerentes e interessantes, principalmente porque em determinado momento parece que os autores não sabem exatamente o que fazer com alguns destes personagens e nada deixa isso mais claro que o titular Otis na quarta temporada (sim, justamente na temporada final).
Ainda que na terceira temporada com um constante Ross e Rachel entre ele e Maeve (e que conclui com a personagem mudando para os EUA, porque, claro) e Otis já funcione muito mal ali, na nova temporada ele e demais alunos de Moordale se mudam para uma nova escola, e enquanto essa adaptação é interessante para os demais alunos com novas amizades e novos problemas, Otis (que é o protagonista da série) não funciona. Ele quer montar sua clínica para educação sexual, mas já existe uma clínica e obviamente eles não podem competir (porque afinal de contas em todo e qualquer lugar do mundo só existe uma pessoa desempenhando determinada atividade), e, a mesquinharia da disputa torna aos dois responsáveis por clínicas (Otis e a personagem O apresentada na quarta temporada) incrivelmente desinteressantes, ao ponto que mesmo a série não parece se importar mais com essa situação e joga pra escanteio a narrativa até uma conclusão que no mínimo é aquém e boba.
É um dos melhores materiais na Netflix, sem dúvidas, vale conferir, mas é importante ajustar as expectativas para um final brochante.
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