Machado de Assis nasceu em 1839, quando no Brasil e em boa parte do mundo a escravidão era a norma, e publicou seu primeiro livro em 1864 Crisálidas (mais de dez anos antes de Mark Twain publicar As Aventuras de Tom Sawyer, e apenas um ano após o fim da escravidão nos EUA - mas ainda vinte e quatro anos antes do fim dela no Brasil).
Machado, negro que viveu boa parte da vida sob o regime monárquico sendo ele um republicano chegou até 1908 - sete anos desde a primeira edição do prêmio Nobel, já com o prêmio de literatura concedido a partir de 1901 - mas não viu sua obra ser publicada fora do país, afinal a primeira versão de Dom Casmurro em inglês foi sair somente em 1953 - depois do vexame da Copa no Brasil e apenas um ano depois da publicação do primeiro livro de Kurt Vonnegut, O Piano Mecânico, e pouco menos de cinco anos depois da primeira publicação de O Aleph do eternamente desprezado pelo prêmio de literatura Jorge Luis Borges.
Em 2020 Machado foi redescoberto em língua inglesa, republicado pela Penguin Classic e celebrado merecidamente, afinal é facilmente um dos mais brilhantes autores negros de todos os tempos (sem qualquer demérito a Octavia Butler, Maya Angelou ou Ta-Nehisi Coates e tantos e tantos outros) enquanto por aqui muito se falou de um outro senhor negro que por algum motivo foi proclamado rei sem nunca de fato ter merecido majestade.
Homem que atuava brilhantemente em campos - ainda que no momento em que era grande, o mundo da bola tinha o Uruguai como gigante - e enquanto esteja fora deles há muitas décadas, onde, sejamos honestos ele nem de longe mereça qualquer mínima reverência nesse quesito onde está longe de magnânimo. Seja sentando nos colos de generais e outros poderosos para se manter e sustentar, seja renegando a própria filha, do grande apoio ao filho traficante, por ser conhecido por suas opiniões incrivelmente equivocadas ou por sua ganância (que o colocou inclusive num dos episódios de Os Simpsons), ou por, sinceramente, ser tão completa e inequivocamente tão minúsculo fora dos campos em comparação com outros ícones - como Zico que ajudou a popularizar o esporte na Ásia ou Maradona, que como outros grandes jogadores se tornaria técnico, contribuindo para a comissão técnica e o esporte em seu país.
Machado, ao contrário desse homem que por alguns é chamado de 'rei' (sim, em minúsculas devido ao irrelevante tamanho de sua majestade) jamais teve seu trabalho devidamente reconhecido, e, talvez nunca o terá, seja em parte por um racismo - que algumas figuras do governo insistem que tal qual o Pé Grande ou o Monstro do Lago Ness não exista - ainda que, talvez um dia possamos retificar, corrigir e quiçá um dia reconhecer.
Do outro, bem, ele já teve seu lugar ao sol e o melhor mesmo é deixá-lo ser o poeta que é quando está calado e relegado à irrelevância, afinal, em repúblicas, somente abacaxis usam coroas.
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