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4 de outubro de 2020

{Editorial} O dilema do (bom) gosto

Existe um axioma que tanto e tanto se repete que "gosto não se discute".

Eu abomino completamente essa ideia/visão de mundo por uma série de motivos, mas, principalmente por expor o ridículo da falta de critério que existe nessa, ou qualquer perspectiva similar, como se os gostos particulares fossem tábulas sagradas e tabus incontestáveis imovíveis e inabaláveis até o fim dos tempos.

Mas, sabe... As pessoas mudam e com suas mudanças seus gostos.

Quando crescia eu adorava frango e abominava feijão. Hoje a perspectiva é diferente, e, mesma forma acrescentei uma leva de itens a meu cardápio que outrora me causava asco - assim como fui aos poucos retirando ou ao menos diminuindo outros itens.

Com livros, quadrinhos, música e basicamente tudo mais funciona da mesma forma. Os gostos vão se aprimorando, refinando e adaptando ao momento da vida, e, o que parece fazer sentido aos 20 não mais faz aos 40. Discutir ou, mais importante, debater isso de maneira cordial, gentil e educada vai permitir expandir esse rol.

Ninguém vai começar a ler com Finnegan's Wake do James Joyce, mas uma indicação aqui, uma sugestão ali, uma conversa educada e uma sugestão bem intencionada e a pessoa chega ao livro, ciente do tipo de material que tem em mãos, caso contrário abandona a coisa toda antes de terminar a primeira página.

Gosto se discute, mesmo que não com qualquer idiota que se veja inclinado a opinar - até porque opinião, ao contrário de gosto, não é todo mundo que tem, mesmo que goste de regurgitar a dos outros como se soasse mais inteligente fazendo isso.

O debate enriquece e permite expandir de bases mais comuns e pedestres para conceitos mais complexos, rebuscados e interessantes. Permite sair da zona de conforto e (re)criar conexões onde antes não havia, expandir horizontes e conhecer novos paralelos (e paradigmas), enquanto manter numa caixa hermética, selada e inquestionável todos os 'gostos' alheios a escrutínio ou avaliação só forma gente que continua achando que a Jovem Guarda algum dia foi legal (e não cafona, brega e ruim pra cacete) ou que o Coldplay é uma baita banda (mêo!), seguindo com o cabresto da nostalgia ou qualquer outro construto social que limite e impeça de ver e ir além.

Mesmo que nem sempre vá parecer um progresso.

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