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1 de agosto de 2019

{Resenhas de mês do Desgosto} Chernobyl (HBO, 2019)

Nota: 10
Primeiro de tudo, é impecável e eu recomendaria não somente que todo mundo assista como tente ao máximo entender o material e absorver o que ele traz AINDA QUE ciente de que é bastante gráfico e em partes chocante (sim, traz vítimas de radiação com queimaduras em todo o corpo, mostra animais sendo executados e faz menção ao aborto e morte de crianças mal formadas pela exposição à radiação), só que é importante entender que nada disso é mostrado somente com o propósito de chocar e alienar a audiência.
É pra mostrar o que aconteceu da melhor forma possível - e para discutir um assunto tenebroso o ideal é mostrar o quanto ele é tenebroso.

Sei que, pra alguma parcela estúpida da população vê no material da HBO e sumariza a coisa toda como a culpa única e inefável do comunismo...
Hei, o comunismo é a causa de todos os males, tem até um pastor evangélico garantindo que é por isso que o excrementíssimo sr presidente brasileiro não está fazendo um bom trabalho...
Ignoram, é claro, que aqui mesmo já tivemos nossa gama de acidentes grandiosos... Claro que nenhum do nível de Chernobyl, ainda que Mariana (2015) e Brumadinho (2019) sejam enormes, mas ainda tem aquele bem brasileiro acidente com césio 137 em Goiania em 1987...

Só que não é bem assim - nem nunca foi, obviamente (nem precisa ler os comentários dos próprios criadores do show comentando como existem paralelos claros com a presidência do orangotango laranja norteamericano)... Fica bem claro que, bem, o problema desde o começo reside na falha sistemática em reconhecer a verdade.

E é isso. São as fake news repetidas e propagadas (tipo que nióbio é fodão e vai ser a salvação do país ou que as terras do Tio Sam precisam de um muro com o México - que o México vai pagar) como se fossem verdade IGNORANDO a verdade completamente.

Você tem uma explosão de um reator nuclear e o responsável pela usina sai gritando com os funcionários que dizem que o reator explodiu que eles estão histéricos, que seria impossível um reator explodir (mesmo que tenha ACABADO DE ACONTECER!). Numa reunião mais tarde, junto de proeminentes figuras, ignoram a óbvia decisão de isolar a cidade e evacuar o máximo de pessoas para colocar ainda mais gente em risco de exposição prolongada à radiação...
E as decisões ruins vão solapando outras decisões ruins que só vão tornando a coisa toda ainda pior.
Sem dúvidas existe o fator do ineditismo que prejudicou (e muito) os profissionais que não imaginavam como proceder, quais protocolos atender e qual a ideal velocidade de resposta.

A velocidade de resposta foi cadenciada, é verdade, e exigiu muitos sacrifícios, muito sangue e suor de inocentes para que um desastre ainda maior não ocorresse e se alastrasse para boa parte do restante do globo (não, não é alarmismo).
E vem a grande descoberta do que causou o acidente em si - conforme pesquisadores reconstituem os eventos e chegam cada vez mais aos detalhes do que aconteceu - e soma-se ignorância, mau caráter com inúmeras camadas de psicopatia e negligência (algo que, verdade seja dita, é tão intrinsecamente humano) que o grande desafio ao chegar ao final, mais que entender o que de fato aconteceu, é se perguntar como esse incidente seja ainda de fato único.

O que, ao menos pra mim, é um pensamento de fato muito mais assustador e chocante que qualquer imagem presente no seriado.

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