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11 de dezembro de 2018

{Editorial} A Terra Plena

Continuando o debate da semana passada, o grande ponto da desinformação enquanto garantindo o poder para uma parcela (e algo feito e refeito desde tempos imemoriais, e, para efeitos de exemplos podemos citar o Egito Antigo e seus deuses crocodilos - substituídos para se dar a ideia de perpetuidade enquanto mantém um líder religioso que se comunica com a criatura - que é algo de milhares de anos e que continua sendo feito), porém essa desinformação cria brechas e complicações imprevisíveis e categoricamente complexas.

Veja por exemplo o caso do aborto. O aborto resulta em polêmicas entre evangélicos e crentes religiosos por questões bíblicas sobre definições éticas da vida, alma e outros parênteses abertos aqui e acolá, mas, é essencialmente um debate sobre a questão da vida e mais importante sobre como ela inicia e qual o ponto da relevância desta vida em questão. Legislativamente é algo bem mais acético - ou ao menos deveria ser.
E é importante que seja, pois a incapacidade de resolver esse tema nos trará questões ainda mais complicadas.

Primeiro porque nos colocará com debates altamente complexos sobre a ideia e noção da vida, que, deveriam ser meras filosofias e não debates legislativos. E não estou nem tangenciando a questão da vida animal e de direitos deste ou aquele ser de quatro patas, estou no debate sobre inteligência artificial mesmo.
E antes que você vire os olhos e pense que é maluquice ou tema de ficção científica (ou similares), pense que nós já estamos rodeados por inteligência artificial. Sim, a Bia do Bradesco está longe de ser a Cortana de Halo ou o Jarvis do MCU, mas quanto tempo levará para isso? Ou para a Siri da Apple ou a Alexa da Amazon que já são IAs mais sofisticadas?

Devemos considerar essas entidades como capazes de compreensão e lógica, ou mais que isso como seres viventes? Poderemos chegar a esse ponto? Aqui é exatamente o cerne da questão do aborto, afinal, se não compreendemos o ponto em que a vida humana surge (seja do ponto de vista ético, seja do ponto de vista legal), como poderemos categoricamente dizer que uma IA é somente uma combinação de linhas de código que nunca chegou a constituir vida? O sêmen e o óvulo são basicamente linhas de código (DNA no caso) e ainda que se repliquem quando se unem (que uma IA também pode fazer com aprendizado de máquina - ou machine learning) então qual é exatamente a diferença?
Que uma é orgânica e a outra computacional?

E é justamente nessa suposta simplicidade que as complicações jurídicas que se formam pelos argumentos de gente idiota defensora da moral e dos bons costumes (sim, como o futuro presidente do Brasil) que recusam a compreender a necessidade da legislação clara e definitiva sobre assuntos desse tipo de natureza. Ao que só tende a piorar conforme os problemas ficam mais complexos.
Principalmente quando os biólogos tem menor autoridade sobre um assunto que meia dúzia de beatos religiosos...

Não fica assim tão simples quando caímos em território das pesquisas de ponta que estão surgindo, como a integração mente/máquina que estamos vendo. Por mais absurdo que seja, mesmo a perspectiva de trabalhar com a condição de mimicar padrões mentais de uma determinada pessoa - com o ovo em Black Mirror. E aí?

Se essas linhas de código replicam padrões específicos de uma pessoa, eles passam a ser ou constituir uma pessoa? Ou são uma extensão dessa pessoa?
Se uma máquina possui meus padrões mentais, eu posso simplesmente optar por desligá-la ou isso constituí em assassinato/eutanásia?

Pode parecer coisa de ficção científica, eu sei, mas muitas tecnologias para esse tipo de raciocínio estão em andamento e antes do que pudermos supor estarão em voga aqui e acolá.
Por mais que seja fato que nós aqui no Brasil não estaremos na vanguarda desse tipo de pesquisa (vide os idiotas de amarelo que defendem os valores da família) mas temos de antever que isso será nossa realidade mais dia ou menos dia e não apenas ficção.

Esse é o momento de filosofar - enquanto ainda é possível somente supor - e não quando tivermos de decidir se a Bia do Bradesco é capaz de desvios e fraudes ou se minha Cortana está tentando me matar...

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