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28 de dezembro de 2018

{Editorial} Mas o que tudo isso quer dizer?

Comecei na quarta falando da situação financeira da Fnac, Cultura e Saraiva, passei a falar de serviços de streaming e inclusive automação de veículos e mais um bocado de coisas a mais, mas, bem o título do editorial diz quase tudo que eu preciso perguntar, não é?

As livrarias no Brasil não deveriam se ver surpresas com vendas ínfimas. Pesquisas mostram que 30% da população jamais comprou um único livro (e antes que alguém veja nisso uma oportunidade, lembre que dos 70% que sobram a média nacional não chega a 3 livros por ano - com 2,43 livros/ano temos algo como dois décimos de um livro por mês!).
Considerando que a lista dos 10 livros mais vendidos de 2018 do Estante Virtual contém Úrsula de Maria Firmina dos Reis tem 576 páginas, Me Chame pelo seu nome de Aciman André tem 288, O Sol na Cabeça de Geovani Martins meras CENTO E DOZE, Poesia com rapadura de Bráulio Bessa 152, O Conto da Aia de Margaret Atwood 368, Ainda sou eu de Jojo Moyes 400, O quarto do despejo de Carolina Maria de Jesus 200, A Mulher na Janela de A.J.Finn tem 352, O Segredo de Helena de Lucinda Riley tem 464 e O que o sol faz com as flores de Rupi Kaur tem 256 - o que daria um total de 3168 páginas (que por mês seria somente 264 páginas, ou o equivalente a O Sol na Cabeça E Poesia com Rapadura).

Esses números são bastante perturbadores, mas, não são exatamente novidade.
Uma pesquisa de 2016 apresentou números bem parecidos, e em 2007 apontava ainda menos com 1,8 livros (não chegando a meros 2 livros). Talvez na China ou na Índia as livrarias brasileiras teriam mais sucesso e não num país em que "pobre tem mania de fazer faculdade"...

Mas acontece que a mudança nos perfis de consumo, incluindo hábitos de compra de revistas e periódicos (a tradicional Playboy mesmo deixou de ser publicada), está diretamente ligada a estas mudanças na forma e material consumido. Filmes pornô mesmo deixaram de ser lançados em dvd (ou blu-ray) somente por demanda e com condições de disponibilização por assinatura. 

E isso tem muito em comum com essa mudança na forma do consumo. Não é que o brasileiro passou a ver menos revista de sacanagem ou comprar/ver menos pornografia.
É que esse mesmo consumidor de pornografia migrou para meios digitais, afinal aproximadamente 30%  do tráfego da internet estão atrelados a pornografia (ou estavam em 2012). O maior volume de tráfego de dados hoje é da Netflix.

Para as livrarias é a mesma métrica: O brasileiro já não consumia muito desses produtos, e, com a internet (possibilitando maior facilidade e acesso) o consumidor migrou.
Além de custar muito menos para a Amazon manter seu site no ar que a Saraiva gasta com uma livraria grande em um shopping em Campinas (sem contar que existe outras várias lojas).

Mas isso tudo só explica o que veio até agora.
As mudanças ainda estão acontecendo, e, é onde entramos em terreno bem curioso com os aplicativos como o uber ou airbnb para compartilhamento de bens próprios (posso usar meu veículo particular em horas vagas para trabalhar como motorista do uber ou mesmo alugar minha casa nas minhas férias, por exemplo), e avanços científicos como os veículos autônomos (que podem facilmente ser utilizados para um sistema como uber para coleta e entrega de passageiros sem necessidade de um motorista, gerando lucro para o proprietário desse[s] veículo[s]).

O assunto ainda está longe de uma conclusão, mas, encerro aqui meu texto e meu 2018!
Um forte abraço aos leitores que me acompanharam durante o ano ou em posts ocasionais e até 2019!

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