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26 de dezembro de 2018

{Editorial} Fnac e Saraiva falindo e o que isso significa?

Eu gosto de livros, e, gosto de livros de papel.
Sinceramente já tentei me adaptar com o Kindle e similares (do Comixology para quadrinhos) e, por mais que eu leia e goste bastante, acabo correndo atrás de versões físicas.
Comprei Visão do Tom King numa ótima promoção do Comixology e depois comprei quando saiu aqui pela Panini... Ganhei o ebook 1822 do Laurentino Gomes numa promoção de caixa de bombom há uns bons dois anos atrás e mal terminei o quinto capítulo (e olha que gostei do livro bastante).
Sei que é algo mais meu do que outra coisa, afinal, eu gosto de livros e sei que muita gente não faz conta nem disso.

E o fato que muita gente não faça conta disso é em partes o problema que a Fnac/Cultura e Saraiva enfrentaram em 2018 (e terão nos anos por vir). Mas isso não é ruim somente para os livros e leitores.
Isso é ruim para consumidores em geral com a diminuição das opções para aquisição de uma vasta gama de produtos (livros, quadrinhos, jogos de videogames, cds - sim, ainda tem quem compre, eu juro - dvds e blu-rays), e os efeitos dessa diminuição de opções já são sentidos.

A Amazon anunciou um gigantesco encadernado da Panini com 688 páginas trazendo a, no mínimo medíocre saga Vingadores vs X-men. Preço de capa estipulado pela editora? R$200,00.
Há um ano (ou mais) com Fnac, Cultura e Saraiva vendendo esse mesmo produto teríamos uma redução de pelos menos R$20,00 no preço de capa em alguma promoção de 10% mas facilmente esse desconto chegaria a valores maiores, e o encadernado seria vendido a pouco mais de R$100,00. Digo isso de experiência própria comprando os encadernados de Sandman pela mesma Panini (preço de capa de R$145,00-R$150,00 enquanto paguei em média R$75,00 por edição).
Hoje? Desde o anúncio não houve uma redução de sequer centavos sobre o preço de capa...

O mesmo vale para cada uma das categorias citadas num parágrafo anterior, mas talvez a grande questão resida exatamente no que isso significa - que reside na mudança de paradigma de propriedade, um dos grandes paradoxos da modernidade digital.

Veja bem, eu fiz aqui uma piadinha sobre cds nesse texto já, mas de fato houve um tempo em que ter um enorme catálogo, fosse de lps, cassetes ou cds era algo digno de nota e de inveja dentro os inúmeros fãs de música. Hoje, francamente, quem se importa?
Qual o ponto de ter toda a coleção de discos dos Beatles se você pode compilar tudo isso num pen-drive - ou menos que isso, na nuvem?

Mas isso mudou ainda mais pois a ideia de 'propriedade' de mídia mudou ainda mais que a ideia de 'ter' a cópia física ou digital. Com serviços como Spotify e similares, é possível acessar (por uma assinatura mensal ou outros sem nem isso) a todo um enorme catálogo de músicas a qualquer momento desde que se tenha uma conexão com a internet.

O mesmo vale pra absolutamente tudo que eu citei antes: Pra filmes tem a Netflix, Mubi, Hulu e outros, pra livros a Amazon Unlimited, pra quadrinhos o Comixology Unlimited, pra jogos tem Xbox Game Pass e outras tantas. Mas não pára aqui.
A ideia dos veículos autônomos, por exemplo, torna a noção de ter um carro obsoleta - pois muito mais fácil utilizar um serviço à Uber (quiça o próprio Uber) com um veículo autônomo pra te levar onde precisa ir, sem se preocupar em estacionamento, onde mantê-lo durante o período ocioso.

Agora, o que tudo isso significa? Bem, de maneira bem simples é que os padrões de consumo estão mudando e algumas áreas terão de se adequar e adaptar para sobreviver a essas mudanças.
Aquelas que não conseguirem, bem, assim como a Abril, a Saraiva e a Cultura irão sobreviver somente com recuperação judicial...

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