Nota: 6,5/10 |
Quando eu resenhei o livro Equador do mesmo Miguel Sousa Tavares ano passado, eu comentei que o livro dava uma embarrigada e poderia manter o conteúdo da história original se cortassem uma bela quantia de páginas sem nenhum prejuízo.
Rio das Flores padece do mesmo mal. Das 624 páginas o livro poderia abster-se de umas boas cem ou mais sem grande prejuízo... Mas curiosamente, eu acho que aqui essas cem páginas que se limassem serviriam muito melhor ao propósito do livro SE focassem mais nos aspectos da Guerra Civil espanhola.
Explico: O livro conta a história de dois irmãos (Diogo e Pedro), grandes fazendeiros portugueses crescendo nas imediações da primeira metade do século XX, e, através de ambos o livro faz paralelos com a história de Portugal, Espanha e do Brasil nesse período tenebroso da história recente.
Esse é um período histórico bastante conturbado por uma infinidade de motivos, mas, especialmente estes três países pouco ou quase nada são lembrados ou inseridos no contexto histórico maior do cenário da grande guerra e demais mudanças políticas ocorrendo no mundo, ficando quase sempre como notas de rodapé para a história maior a transcorrer.
Nisso, Tavares tenta tecer melhor os contextos e explanar melhor estes e toda a história por trás destes fatos enquanto contextualizando com paralelos da situação de cada um dos protagonistas com o cenário global e suas mudanças.
No entanto, Tavares foca muito mais tempo na história portuguesa e brasileira que no que se passava efetivamente na vizinha Espanha, e, enquanto isso pode até se explicar pela enormidade de livros lançados por brilhantes autores espanhóis sobre o assunto (do qual destaco Soldados de Salamina de Javier Cercas se for necessário destacar apenas um), ao que a história do irmão mais novo Pedro acaba relegada a segundo plano, e, soando menos interessante.
Tá que ele é o reaça babaca que acaba estuprando uma menina e nunca tem argumentos para defender sua posição escrota (de superioridade com base em status social ) mas pelo menos em Soldados de Salamina (que é mais curto também, destaca-se), Cercas se dá o tempo de desenvolver o argumento de ambos os lados de maneira inteligente!
Tá que ele é o reaça babaca que acaba estuprando uma menina e nunca tem argumentos para defender sua posição escrota (de superioridade com base em status social ) mas pelo menos em Soldados de Salamina (que é mais curto também, destaca-se), Cercas se dá o tempo de desenvolver o argumento de ambos os lados de maneira inteligente!
Droga, talvez até seja menos interessante que a do irmão vivendo do bom e do melhor no Copacabana Palace, conhecendo gente importante e viajando de dirigível através do oceano, mas, bem, então pra que os dois protagonistas? Sério... Se todas as coisas interessantes vão acontecer com um deles, pra que dois?
Fica mal dividido, com bem mais destaque a uma das histórias que a outra, e, ainda que sirva muito bem ao propósito inicial (de desmembrar mais essa nota de rodapé da história maior), acaba com um excesso de didatismo em certos pontos e falta de efetivo paralelo com a trama principal.
Tavares corta a história para explicar o que está acontecendo no cenário global em vários dos capítulos, e, enquanto algumas vezes é orgânico e funciona bem, em outras é truncado e forçoso.
Um bom livro ainda que com ressalvas e que eu efetivamente recomende com muito maior ênfase ler a Soldados de Salamina.
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