Eu li pela primeira vez a série 'O Guia do Mochileiro das Galáxias' na época entre o colégio e faculdade, não sabendo precisar exatamente os anos, mas acredito que de acordo com o lançamento pela Sextante mais ou menos na época do lançamento do filme de 2005.
Ainda que o filme seja uma droga, pelo menos vale destacar que graças a ele tivemos os cinco livros de Adams publicados na íntegra e, agora com um pouco mais de tempo, outros livros da série de Dirk Gently estão chegando nas livrarias.
Como diz o ditado, há males que vem pra bem.
Enfim, uma das minhas metas para o ano era reler todos os cinco livros da série do Mochileiro das Galáxias de Adams, e, quando terminei o segundo livro algumas semanas atrás, eis que me deparei com uma situação curiosa, que, em primeiro momento eu não me recordava - ou, mais precisamente eu recordava de maneira diferente.
Mais pro final do livro, por uma série de confusões e absurdos Arthur Dent e Ford Prefect estão há dois milhões de anos no passado, e, Arthur para tentar se distrair montou um elaborado jogo de scrabble para praticar com os ancestrais dos humanos... Vendo que a coisa toda não dá muito resultado, Ford propõe que eles tentem, através do acaso, retirar letras de uma sacola e tentar formar a pergunta definitiva para a resposta suprema sobre a vida, o universo e tudo mais (cuja resposta é revelada no primeiro livro como sendo 42).
Até aí eu lembrava dessa cena, e, relendo imaginei que aconteceria o que estava para acontecer: Arthur vai tirando as pedrinhas uma a uma e Ford lê até formar a frase 'quanto é 6 x 7?'.
Na verdade, como eu vim a perceber relendo agora em 2017, a pergunta na página 225 da edição da sextante é 'Quanto é 6 x 9?', e, minha primeira reação estarrecida foi: O QUEEE?????
Por um instante, eu refleti sobre a questão e, imaginei que ou a) fosse um erro de tradução da sextante (não exatamente um absurdo) ou b) fosse uma piada proposital de Douglas Adams (de que a pergunta e a resposta não estivessem exatamente conectadas OU que a forma para obter a pergunta não fosse de fato entregar pergunta alguma).
A resposta é um pouco da coluna a e um bocado da coluna b, como vim a descobrir com um pouco de pesquisa no assunto.
Primeiro existe sim uma diferença na tradução, pois a pergunta original é 'O que você consegue quando multiplica 6 por 9?' (que é uma pergunta bem diferente de 'Quanto é seis vezes nove?'), e ainda que o sentido da pergunta esteja ali, a forma como ela está composta rende uma interpretação diferente.
A segunda parte, no entanto, é bem mais complexa, pois de fato não é apenas o fato de que a pergunta não faz sentido e essa é a piada. É o fato que a pergunta FAZ sentido (acho que não vou colocar o gato de novo, mas só pra não perder a oportunidade...)
Veja bem, o sistema matemático que utilizamos é decimal (ou seja, atribui e remonta a conjuntos de 10) mas se utilizarmos um outro sistema matemático como o hexadecimal (que é bastante popular em sistemas de computação e trabalha com base 16) ou octal (base 8), binário (base 2) ou tridecimal (base 13) os resultados são diferentes, e, na base 13 o resultado de 6 x 9 é igual a 42.
Existe um pouco mais explanações sobre essa situação das bases matemáticas - e mesmo do raciocínio todo da pergunta de Adams no site Spooniom e é bem interessante ver o quanto uma pequena alteração pode resultar em uma reflexão interessante e bem mais complexa, que pode inclusive abrir espaço para novas reflexões.
Agora o que Adams QUERIA dizer com sua pergunta definitiva sobre a Vida, o Universo e tudo mais? Exatamente o que ele diz com o restante de seus livros: Que a visão subjetiva pode afetar uma conclusão objetiva (e às vezes até impedir de ver uma - ou mais - oportunidades de respostas).
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