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21 de julho de 2017

{Resenhas} Deus o abençoe, Dr Kevorkian - Kurt Vonnegut

Nota: 6,0/10
Compilando um pequeno número de bizarras 'entrevistas' com pessoas mortas explorando um exercício de empatia como pretexto para um segmento da rádio pública de Nova Iorque WNYC, Vonnegut abusa da linha entre o autoplágio e homenagem para nomear sua obra de 1999 com título altamente inspirado em sua obra de 1965: Deus o abençoe, Sr Rosewater.

Mas as similaridades param por aí - Rosewater é um romance sobre um ricaço que abre mão de sua fortuna, Kevorkian uma compilação de textos bastante curtos abordando a ideia do autor conversar com os mortos e, dessa maneira obter alguma perspectiva sobre a vida (assim como permitir traçar melhor os absurdos da mesma).

Entretém, sem sombra de dúvidas, afinal, mesmo sem inspiração Vonnegut ainda é brilhante, mas é um dos materiais menores, do tipo que se lê em menos de duas horas e por vezes é preciso se perguntar que diabos o autor pretendia com esse ou aquele comentário ou esse ou aquele 'entrevistado', como as entrevistas tanto com Shakespeare (completamente sem graça e cheia de citações porcas e piadas idiotas) ou Hitler (que parece extremamente zelosa e bizarramente quase respeitosa - de novo, é Hitler, não é como se fosse errado debochar dele).

Quer dizer, existem momentos brilhantes, principalmente ao destacar pessoas extraordinárias que não parecem ressoar como tal pelos livros de história - como, bem no começo, o livro destaca um dos maiores ativistas dos direitos aborígenes na história (e bastante desconhecido para o restante do mundo, ao ponto que a Record traduz errado o seu nome como 'Birnum Birnum', sendo o correto Burnum Burnum).

Na verdade, acho que é a falta de zelo pela obra por parte da Record que mais salta aos olhos...
Com um índice no final do livro que é simplesmente horroroso - por algum motivo eles o colocam por ordem alfabética dos 'entrevistados' e não numérica das 'entrevistas', assim como o texto simplesmente horroroso das orelhas do livro para 'apresentar' o autor aos leitores que desconheçam seu trabalho.

No fim é um material curto, rapidamente lido e digerido que fica um gosto meio amargo pelos erros grotescos da Record e escolhas confusas do autor, e que, apesar de alguns momentos de elevada genialidade com textos incisivos, criativos e brilhantes.

Quase parece um show de stand-up em forma de livro (e bem nessa onda mesmo, com piadas que funcionam e piadas que passam batido, tentando manter um ritmo, mas com toda a certeza dependendo e muito da qualidade das legendas/tradução para não se perder a piada).

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