Pesquisar este blog

2 de julho de 2017

{EDITORIAL} Nunca entendi o Homem Aranha

Pra variar de assuntos tenebrosos que vem rondando o mundo moderno - e mesmo esse blog quando resolvo fazer um editorial - achei nada mais justo que com o lançamento do próximo (e possivelmente melhor) filme do herói aracnídeo, que nada melhor que comentar o fato que eu nunca entendi exatamente o apelo do personagem.

Quer dizer, eu entendo nos anos 60-70 quando o personagem surgiu e quando foram publicadas boa parte de suas mais famosas histórias, assim como na década de 80 com as histórias (e artistas) mais populares como Todd McFarlane e Erik Larsen, e sei que isso traduz quase quatro décadas de popularidade que é bastante justificada e justificável, apesar que quando eu fui ler minha primeira edição de Homem Aranha em uma banca de jornais, bem, foi na pior fase do personagem da Saga do Clone (há! Mentira pois depois veio o J M Straczynski com a história da Gwen Stacy transando com o Duende Verde e do pacto com Mefisto para acabar com o casamento).

Não era exatamente um bom momento para a Marvel em geral com vários eventos, no mínimo sem inspiração, e, com a porca edição da Abril com os formatinhos e as enormes lacerações nas histórias (que algumas edições originais de 22 páginas tinham míseras 12 publicadas aqui - quando muito) fica ainda pior de pegar o fio da meada quando a história toda revolve sobre uma insana situação que parece saída de um desenho do Pernalonga (usando uma máscara de Homem Aranha e dizendo que ele é na verdade o Homem Aranha e o outro o clone).

Veio um bocado de coisa pior depois, é verdade, e eu nunca fui buscar muito do material do personagem justamente por esse primeiro contato ruim. Acabei lendo as histórias da linha Ultimate que traziam uma nova versão da adolescência do personagem nos anos 2000, e com o tempo acabei por ler algumas das histórias mais tradicionais e clássicas (a Morte dos Stacy - Gwen e o Capitão - assim como A Última Caçada de Kraven), mas acho que o momento já tinha passado, e, o apelo do personagem não mais ressoava (nem ressoa) como com outros que conheço e são ardorosos fãs do herói aracnídeo.

Talvez tivesse eu, nos meus quinze anos, lido as aventuras do Peter boboca na adolescência sofrendo com bullying enquanto um nerd caladão que secretamente era o herói mascarado e amigão da vizinhança Homem Aranha, bem, talvez tivesse enxergado alguns dos tons que ressonavam com minha adolescência como jovem caladão e tímido. A mudança na perspectiva e na óptica de um hoje adulto com seus trinta e poucos mostra algo bem diferente, no entanto...

Mas também cai naquele negócio de que, bem, nos meus quinze anos as histórias do Aranha da década de 60 já eram antigas e datadas pra caramba - e eu nunca gostei nem de longe de várias das resoluções mirabolantes do Stan Lee para derrotar vilões, como o aspirador de pó para vencer o Homem Areia (várias vezes, inclusive)...

Nada contra quem é fã, eu entendo e respeito pra caramba esse pessoal (e muitos de meus amigos SÃO esse pessoal), mas esses paralelos que muita gente vê na adolescência do Peter Parker com as próprias é simplesmente ridícula.

Sim, tem os paralelos da adolescência e tudo mais, e ele lida com vários problemas típicos de adolescentes, mas eu particularmente acho que a própria Marvel faz melhor com o grupo mutante X-men - que tem de lidar com, além de tudo com o ostracismo, ódio e a aceitação própria em um mundo em que todo mundo com poderes é legal, exceto eles...
E tudo bem, o aracnídeo recebe críticas do Clarim Diário - enquanto a população de NY o adora, inclusive seus amigos de escola que o desprezam...

Nos outros aspectos, por exemplo, na vida amorosa? A secretária do chefe dá mole pra ele, assim como a garota mais popular que é secretamente apaixonada por ele, e a garota que viria a se tornar modelo internacional e a garota mais gentil e doce já concebida para os quadrinhos (ou, sendo bem honesto, qualquer forma de ficção)... E isso nos anos 'sofridos' do colégio. Depois ainda tem a milionária ladra e sedutora que quer brincar de tirar as teias de aranha...

Dinheiro e emprego? Mesmo no colégio (e sem nenhuma experiência ou competência clara) ele consegue um freela bem remunerado (ei, paga as contas da casa e ainda sobra para os equipamentos caros que ele precisa) tirando fotos de si mesmo, e, mesmo matando e faltando a uma dezena de aulas ele se forma com uma mão nas costas E conseguindo bolsas de estudos para universidades conceituadas (onde conclui também com uma mão nas costas um programa de doutorado em bioquímica, também faltando de aulas para perseguir vilões) enquanto se mantendo em um apartamento próximo ao campus E ajudando com as contas da casa da Tia May, mantendo um empreguinho essencialmente freela de fotojornalista...

Droga, mesmo os problemas de família dele se resumem a uma tia que é frágil e está morrendo desde a década de 60 e não consegue se sustentar direito com a falta de dinheiro... E perder os pais e o tio enquanto muito novo (mas, até aí não é nada muito diferente de todo super herói que existe, afinal parece um pré-requisito que sejam órfãos).
Tá, tá, teve a namorada e alguns amigos, mas esses eu já acho mais difícil de se relacionar... E, de novo, não é uma exclusividade do aracnídeo.

Sei que existem boas histórias, e eu li algumas delas e acho que são incríveis (como algumas das aqui citadas), mas eu nunca entendi o personagem da maneira com que muita gente entende, e é obcecada por.

Ah, e eu também não entendo o hífen no nome (até por isso não uso)...

Nenhum comentário:

Postar um comentário