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26 de janeiro de 2017

{Resenhas de quinta} O Xangô de Baker Street - Jô Soares

Sabe aquele seu amigo mala sem alça que, não perde a oportunidade para comentar sobre sua viagem à Paris (doze anos atrás)?
Que precisa, mesmo que você não esteja falando de nada que envolva a França em qualquer natureza ou estrutura, mas que vai encaixar e reforçar o quanto ele, em sua soberba tentará destacar sobre como ele é melhor que todo mundo pois conhece a cultura francesa.

Talvez a cidade seja diferente (Milão? Veneza? Bariloche?) mas você conhece essa pessoa, eu sei que você conhece (e não, isso não é prepotência da minha parte, é um enorme desejo de que eu não seja o único azarado a ter amigos assim).

Se esse amigo fosse um livro ele seria O Xangô de Baker Street - querendo gastar todo seu francês, inglês, citações e referências a pessoas famosas e importantes que ele puder numa maratona por parágrafo...
E, ainda que exista um bocado de inteligente e louvável, de inteligente e brilhante, tudo se perde nessa soberba irritante para se mostrar superior... De, puta que pariu, achar que precisa de uma bibliografia!

Pô, o Jô não facilita com a fama de arrogante que tem...

De novo, existem boas sacadas (Sherlock Holmes mais cego que uma toupeira destaca que suas suposições estão certas mesmo quando erradas, a população se vê mais informada e capaz de elucidar os crimes que, tanto o detetive inglês quanto a polícia local, e, francamente Watson é brilhante - mais até, gosto bastante das páginas que simulam jornais durante a obra), mas o excesso de coisas intragáveis (o péssimo hábito de achar que se faz necessário haver uma citação a cada cinco palavras, eu acho que é um bom começo) mas se tem algo que eu efetivamente abomino é o final desse livro.

Quer dizer, eu não gosto particularmente do quanto o livro foca no Sherlock dos cinemas fingindo que é o Sherlock dos livros - tá, tá, a bibliografia (putz eu não vou conseguir superar isso, vou?) traz como fonte a versão da Barnes e Nobles de 1992 de as obras completas, mas eu duvido firmemente que essa edição traz a frase 'Elementar, meu caro Watson' (que não, não fazem parte do cânone) e a francamente, a sra Hudson aparece em apenas três contos curtos, não vamos fingir que ela é tão importante para o cânone...) mas o final é atroz e, entenda que tem um spoiler a partir daqui: Ao tornar o criminoso da história no infame Jack, o Estripador além forçar bastante a barra é uma péssima ideia. Os crimes da história são fictícios, os de Jack não. SE, os crimes relatados no livro fossem baseados em fatos reais (além da conexão tênue com o Stradivarius, da Baronesa) ainda teríamos uma linha, mesmo que tênue, para o raciocínio... Mas pior é a ilógica linha de raciocínio que um assassino serial partiria de um país para outro para prosseguir sua carreira criminosa do outro lado do Atlântico - para simplesmente parar após cinco crimes?

Da edição da Cia das Letras eu realmente tenho a dizer que estou desapontado.
Não sei porque é 'econômica' (com o valor que tem - R$34,90 cheio, sendo que está R$28,72 na Amazon) além do acabamento que é bastante econômico... Ainda mais quando a Zahar lançou livros de bolso - em capa dura - muito superiores EM TODOS OS QUESITOS (acabamento, editoração e, claro, preço, como no caso de O ladrão de Casaca - que eu já resenhei - que tem preço cheio de R$29,90 e está R$23,43 na Amazon, com CAPA DURA, reforço!).
E me assusta inclusive porque a própria Cia das Letras já lançou muitas edições espetaculares - inclusive em formato econômico - com preço verdadeiramente econômico - com vários exemplos das obras de Mia Couto.

Apesar dos (poucos) positivos, não recomendo.
Nota: 3,0/10

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