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1 de dezembro de 2016

{RESENHAS DE QUINTA} High Rise de J G Ballard

Escrito em 1975, o livro de J G Ballard com grande possibilidade e probabilidade foi visionário em seu momento, e, algo nele me faz muito lembrar de Neuromancer de William Gibson (de 1984) nesse sentido.

Não na temática, não na estrutura (Ballard sem a menor vontade massacra o mais inspirado material de Gibson), mas no ponto em que, bem, algumas décadas atrás isso pareceria bem mais interessante. Bem mais atual.

Ainda que o caso de Gibson seja mais óbvio (é um material sobre tecnologia com uma visão quase mística sobre artefatos que, hoje são mundanos), com High-Rise a coisa toda se perde na forma como o texto se desenrola.

E de novo, não é que seja ruim, mas já foi e vem sendo repetido meio que a exaustão da ideia da população tendo de reverter a instintos mais básicos em uma sociedade mais primitiva (sem luxos como água encanada ou eletricidade enquanto tendo de caçar a comida - mesmo que seja comida enlatada) com um exemplo bastante atual e popular na forma da série de Robert Kirkman, The Walking Dead (e, bem, toda a febre de zumbis que se alastra por mais de uma década).

Aqui é onde o texto parece mais datado que nunca, com as personagens femininas relegadas a segundos e terceiros planos, mal e porcamente desenvolvidas e, como se não bastasse, em muitas de suas tramas relegadas a vítimas de abusos constantes pelos membros do sexo masculino (estes com tramas e motivações complexas que são desenvolvidas, mas até aí o final talvez seja o ponto para explicar isso...).

Não sei se é uma questão de machismo (e soa até hipócrita da minha parte na condição de homem de cantar a bola) até porque boa parte do argumento do livro é que a civilização e civilidade são uma enorme fachada que pode ruir a qualquer momento, e, bem, quando isso acontece as coisas não ficam bonitas (ao que uma condição pré-histórica com clãs caçando em bandos com o sexo como um espólio reservado aos mais fortes), mas não é confortável. E, não posso ignorar o fato que um dos pontos principais é o número de Dunbar (e como sociedades só podem funcionar até certo tamanho). Talvez porque seja tão difícil empatizar com os personagens do livro, ou mais que isso, com sua condição (o arranha-céu onde 90% da trama se passa é não apenas ficção científica barata, como ficção científica barata ruim).

Inegável que existe em sobra uma quantidade de boas ideias (a estrutura do arranha-céu como metáfora para a estrutura e os extratos sociais, só pra começo de conversa) e fatos louváveis (Ballard é um exímio escritor, mesmo quando o texto enrola e parece não ir a lugar algum, a narrativa é belíssima e elegante), e mesmo que o desconforto seja intencional (tal qual Burroughs com seu Almoço a Nu - Naked Lunch, que foi adaptado por Cronenberg em 1991) não torna mais fácil.

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