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8 de maio de 2016

{Editorial} Quando palavras perdem o significado

Se eu tiver de ser extremamente sincero e honesto, eu diria que todo o dicionário brasileiro precisa urgentemente de uma enorme revisão, e, digo sem um senso de hipérbole ou ridículo.
Muitas palavras não significam mais o mesmo por mudanças em suas respectivas áreas de pesquisa (a palavra 'lixo', por exemplo não tem mais função no vocábulo ou, no mínimo, precisa de uma revisão clara quanto a seu significado devido a reutilização e tratamento), muitas palavras não significam o mesmo por repetição de significados errados ('literalmente', é uma excelente exemplo) e claro, existe uma enormidade de sentidos que popularmente distorcem o significado de uma palavra (apelidos para os órgãos sexuais constituem quase todo o zoológico).

Mas nenhuma palavra perdeu mais o significado que a palavra 'herói'.
Um herói deveria ser uma pessoa cujo trabalho representa grande respeito, admiração inspiração mesmo fora de sua áreas sendo um mito positivo para a humanidade (seja um mito caminhando entre homens ou um mito ficcional) e efetivamente algo melhor, lutando e perseverando pela qualidade de vida (se não apenas a vida) de cada cidadão.
Sem dúvidas não deveria em mundo algum ser o sinônimo de participantes de reality shows, ou a grande maioria de atletas.

No dia primeiro de maio celebrou-se o aniversário da morte de Ayrton Senna e muitas vezes a palavra 'herói' foi dita e usada, e, francamente não vejo no piloto qualquer um dos pontos que caracterizei a herói no parágrafo anterior (mesmo que para alguns ou muitos 'inspiração' seja aplicável). Talvez outra palavra que rima com herói fosse o caso, uma palavra que estampa mensalmente a capa de uma revista que já vendeu bem mais: Playboy.

Senna foi, sim, um bom piloto, e, bom para ele que em sua vida pôde dar a volta ao mundo várias vezes pilotando carros rápidos, conhecendo super modelos, líderes mundiais enquanto lindamente pago para isso. É um sonho de consumo para muitos de nós trabalhadores com carteira assinada, e, sem dúvidas é uma vida que inspira o cenário para James Bonds.

Não é para desmerecer o luto ou o talento do piloto (ainda que ninguém me convença que automobilismo seja um esporte - e não me venha argumentar que 'poker' também é, que a gente volta ao primeiro parágrafo de palavras que perderam o sentido!), seus títulos e sua glória que faço esse editorial. Só que enquanto Senna correu o mundo inteiro e foi campeão, ele não representou o impacto positivo para a humanidade... Marie Curie morreu lutando por sua pesquisa (que vale lembrar, representou o início para tudo o que sabemos hoje sobre radiatividade).

Curie é a figura poster do que um herói deve ser. E o motivo pelo qual a palavra não deve, de maneira alguma, ser gasta levianamente. A mulher viveu E morreu sua pesquisa, dedicando cada segundo, cada fibra de seu ser para algo no qual ela tão vivamente acreditava (ao ver seu potencial positivo para a humanidade) que sabia valer a pena.
Senna viveu uma vida de luxo e opulência, e, bem, bom pra ele, triste para quem sente sua falta, e merece respeito, merece admiração e cada um dos títulos que recebeu (e até alguns pelo qual morreu tentando), só não merece a alcunha de herói, pois isso não foi.

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