Um livro de contos sobre música, amor (?) e a vida noturna escrito por Kazuo Ishiguro? Onde eu me inscrevo?
Ah, é, eu já li (e por isso estou fazendo a resenha)...
Ato fálico... Digo, falho.
Confesso que inicialmente eu imaginava que seria outro romance do autor londrino nascido no Japão, só que foi necessário ler o primeiro conto (Crooner) que me fez abrir mão de qualquer dúvida.
É uma leitura incrível, cada história tem, de certa forma alguma conexão com as demais (às vezes mais tênue, às vezes mais intrincada), mas de maneira geral são todas histórias isoladas e focadas em seus personagens individualmente.
Ainda que nem toda história seja particularmente cativante (a do músico que vai trabalhar na hospedaria da irmã é tediosa e se arraaaaaasta), Ishiguro acerta bem mais que erra.
Os dramas dos personagens são táteis, e por mais que alguns deles pareçam viver em realidades paralelas e longe demais do que reconhecemos como padrão (músicos de rua em uma praça tradicional de Veneza que tem um virtuosismo inimaginável com o violoncelo, por exemplo, não tangenciam o meu círculo de amigos, amigos de amigos ou mesmo dos graus de separação de Kevin Bacon até onde eu saiba), só que não muda o fato que a história flui de maneira que esses personagens que são tão abstratos e diferentes do que eu possa conceber como 'normal' seja extremamente 'padrão' e 'normal' como qualquer coisa que eu consiga imaginar.
É assustadoramente triste como cada história vai para sua conclusão natural, é algo que requer um brilhantismo que somente grandes autores conseguem. O texto é fluído e natural que chega a parecer um mero relato dos eventos (que nunca aconteceram), e as personagens se assemelharem de amigos e conhecidos (mesmo que esses personagens não existam).
E é isso o que torna o livro imperdível.
Nota: 9,5/10
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