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31 de março de 2016

{Resenhas de quinta} Spotlight (Ou quando somos muito burros para ler jornais)

Eu sei que eu apostei contra, eu sei que eu falei já um pouco sobre como eu não gostei do filme... Mas a semana está morna e resolvi me estender um pouco mais no assunto.

Meu problema com o filme, bem, são vários.
O diálogo truncado, a versão romantizada de uma notícia jornalística, a idealização do jornalismo (e de sua importância no mundo moderno)... Mas, verdade seja dita, é mais ou menos o mesmo problema que eu tenho/tive com The Newsroom da HBO, e, até em partes, o mesmo problema que tive com o filme do Facebook do brilhante David Fincher.
Na verdade, o único motivo que vejo para o filme ganhar um Oscar nesse ano, se deve a toda a polêmica da falta de diversidade no prêmio desse ano... (Algo que o filme tem uma cena que sumariza a situação, em que Stanley Tucci e Mark Ruffalo conversam sobre a dificuldade de seus personagens, um judeu armênio e um português, viverem em um mundo dominado por católicos brancos). Um tanto irônico considerando que os atores retratando o judeu armênico e o português estão mais para caucasiano em qualquer aspecto...

Não é que o filme seja intrinsecamente ruim e que a história não deva ser contada... Na verdade, a história dos padres pedófilos precisa e deve ser mais e melhor abordada. Muitos de nós (fora de Boston) não lemos as íntegras das notícias e investigações do escândalo.
Fora do escopo do jornal em questão, a notícia chegou e chega diluída - e o filme não ajuda a contextualizar a coisa melhor, só a explicar porque a notícia chega diluída.

Nisso, um documentário ou mesmo uma série do Netflix como "Making a Murder" seria mais interessante... Mas, verdade seja dita, não é exatamente uma história que requeira lá muito tempo, contexto e explicação. Padres molestam criancinhas (e a Igreja acoberta a coisa toda).
Se você quiser uma versão pouco mais longa e completa, tem a sketch do Louis C.K., mas não foge muito disso.

Não que haja algo de cômico, não que a situação seja corriqueira e devamos ignorar (pelo contrário, muito, muito pelo contrário) só que, tentemos manter uns dois minutos de seriedade e honestidade aqui. Existe um motivo, por mais absurdo e anacrônico que seja, que justifique a existência da igreja católica, e esse é o ponto focal e crucial para que entendamos todo o absurdo e abuso que a instituição representa.

Está no fato do controle da mídia para manipular histórias desfavoráveis - e ocultar e controlar por décadas pesquisas e dados sobre e contra a instituição. No fato das relações públicas da Igreja reverterem o absurdo apoio oferecido aos nazistas na segunda guerra... Nas guerras santas e, bem, em toda a história sombria sobre as campanhas 'humanitárias' na África.
E claro, nos milhões de fieis e devotos que fazem e farão vista grossa a este(s) fato(s) e atrocidade(s) porque existe uma mensagem de amor e unidade na Bíblia (bem, mais ou menos)...

Cabe nisso o grande problema da coisa toda - que acaba como um enorme exercício de futilidade.
Nota, inclusive, que cabe à história muito mais interessante do pesquisador que serve de fonte à investigação jornalística e que tabulou décadas de dados sobre o assunto, mas que teve sua pesquisa enterrada e ignorada década após década.

Nota: 4,5/10

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