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2 de agosto de 2015

{EDITORIAL DO MÊS DO DESGOSTO} A Crise nas infinitas terras brazilis

É inegável e inquestionável que o momento econômico está longe do melhor cenário possível, e a constatação do fato é bastante simples e clara.
Não, não é através dos jornais, infelizmente, que preferem tratar o assunto de maneira superficial e ignorar um cenário maior e mais desolador, afinal a crise não se concentra apenas em nossas fronteiras, como a situação grega arrasta a zona do Euro - e além - para a lona enquanto a ainda inexplicável situação da bolsa chinesa vem preocupando investidores em todo o mundo - que dependem da economia daquele país, sem ignorar a hiperinflação do Zimbábue, a ascensão da ISIS complicando - ainda mais - a situação no Oriente Médio e a crise na Venezuela.

Isso obviamente está longe de ser tudo.
A situação do HSBC põe novamente me cheque o sistema bancário mundial - após a ainda recente crise de 2008 com o Lehman Brothers e Merryl Lynch - enquanto a absurda (e impagável) dívida norte-americana também demonstra que o papo que a supracitada crise do sistema financeiro foi ou pode ser apenas o começo da derrocada do país do Tio Sam (pra se tornar a nova Grécia).
Há ainda o fator histórico - como os próprios gregos destacam - que resulta de crises anteriores mal resolvidas (para manter o texto sem palavrões).
Afinal, no começo do século XX a economia já andava mal pra caramba com um crack na bolsa norte americana e o colapso da economia européia (com hiperinflação alemã e a enorme e complexa crise da economia russa que resultou no levante do partido comunista) e tudo isso foi 'resolvido' como passe de mágica com enormes acordos de perdão dessas dívidas. Nada foi pago, nada foi resolvido e a expectativa geral é(ra) que se esquecesse que um dia existiu e seguir em frente.

Não que as crises atuais estejam trazendo de volta essas dívidas antigas, afinal elas foram de fato esquecidas, caducadas e todo mundo finge que não representam nada, mas o modelo de gestão que jogou o mundo nessas mesmas crises não mudou. As atitudes e gestões que não souberam administrar dinheiro público e gastos para estruturar uma economia viável, viram que não precisariam aprender, e nisso hoje ainda não sabemos como resolver esses mesmos antigos problemas.

O Brasil, obviamente, não escapa desses fatores externos, e, sua gestão nem sempre coerente da economia (como as pedaladas fiscais do ano passado) resultam num buraco maior para que nos afundemos. Mas, por mais que exista culpa na gestão governamental (e há), uma parcela ainda maior reside em outros fatores.

Primeiro, a parte governamental.
Não gostei da eleição da Dilma cinco anos atrás, achei que foi um passo pra trás na época e nesses cinco anos fiz uma boa dúzia de críticas as decisões porcas tomadas pela equipe da presidente (como os projetos do novo código florestal ou, bem, todo o mandato da Marta como ministra). Não acredite em mim é só procurar no histórico desse blog (tem a imagem do Constantine pendurado de cabeça pra baixo com alguns demônios dizendo que as almas brasileiras não valem mais nada porque a candidata do PT tinha vencido as eleições - e eu admito que sim, foi um puta exagero da minha parte na época, mas não vou apagar algo que eu disse por mais que eu não concorde com isso hoje)... Mas, dito isso, não acho que sua administração geral foi de todo mal.
Decisões ruins todo mundo toma, e enquanto a economia andou bem - ou as Crises não pareciam nos afetar - tudo estava ótimo, e, o fato que ela foi capaz de manter o Brasil razoavelmente ileso durante todo um cenário instável internacional confirma que não foi um mandato de todo ruim.

Só que, e aí é onde a parte governamental deixa de impactar, nos últimos dois anos pelo menos, a percepção pública mudou bastante com uma visão de desconfiança maior na atuação de nossos governantes e uma certa insurreição (nas manifestações de 2013 contra o aumento das passagens que virou a manifestação contra qualquer outra coisa) e a vociferação da indignação popular foi ganhando cada vez mais e mais destaque.

Tomaram a Copa como palanque com os 'Imagina na Copa' ou 'construam hospitais padrão Fifa' e a verdade é que ficaram imaginando e imaginando desgraças e problemas que não existiam.
A Copa veio e passou sem (grandes) tumultos, como todos os outros eventos.
Os gastos com os estádios ainda que não tragam benefícios imediatos, podem sim justificar a construção de melhores hospitais e desenvolvimento para as regiões (com grandes estádios para abrigar eventos, as cidades precisam investir mais em infra-estrutura).

Essa percepção pública é uma situação assustadora em partes porque se deve a uma manipulação da verdade através dos noticiários, e que se torna ainda mais assustadora quando vemos na prática o resultado desses noticiários lixo (como o Cidade Alerta do Datena - que será candidato a prefeito de São Paulo), com situações manipuladas e mal explicadas (a van da Record destruída durante as manifestações de 2013 que rumores dizem ser feito por funcionários da própria para aumentar os índices de audiência e justificar a visão contrária às manifestações ou mesmo os perfis falsos - supostamente criados por funcionários da Globo - para proferir obscenidades racistas contra uma apresentadora negra).

Nada disso parece fazer muito sentido, não é mesmo?
Parecem apenas coisas aleatórias jogadas ao ar para formar um cenário maior e mais complexo quando na verdade o argumento é mais tênue e raso, mas tente abstrair um pouco, caro leitor, e ver o fio de meada, pois apresento aqui o grande argumento que vejo cimentar toda essa situação confusa.

Sexta-feira eu tive uma consulta médica de rotina (meu óculos quebrou e, para fazer um novo achei por razão fazer uma verificação se meu grau de miopia havia mudado antes de fazer um óculos novo), e, enquanto aguardava para ser atendido, sem um livro pra ler ou uma revista decente para ler, fiquei acompanhando o noticiário da Globo da televisão do consultório.
Pra quem quiser é fácil achar o programa inteiro no G1 (aqui) mas a matéria que realmente me chamou a atenção foi, como destaco por seu título: "LOJISTAS CRIAM REDE DE DESCONTOS ATÉ NA LOJA DO VIZINHO EM MINAS GERAIS", com o subtítulo "PARA DRIBLAR A CRISE".

Qual a estratégia que os comerciantes encontram na matéria para aumentar até 20% do faturamento nesse cenário de crise, intrépido leitor?
Marketing (do mais rudimentar ainda por cima, nada de Don Draper ou coisa do tipo).

Acho que é possível ver as linhas gerais um pouco mais claras agora, não?
Enquanto existem problemas sérios recebendo zero ou nenhum tratamento, diminuídos e solapados no esquema maior das coisas temos problemas banais que são aumentados para se assemelharem a monstruosos para aumentar uma escala de pânico e medo.
Pra completar ou facilitar tudo, forma-se uma imagem geral de que tudo é um episódio de Scooby-Doo com um plano nefasto e terrível esperando para ser desmascarado por crianças intrometidas e um cachorro falante (no caso, atual, são jornalistas porcamente formados e apresentadores de talk show com cérebros do tamanho do Scrapy-Doo).

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