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25 de janeiro de 2015

{RESENHA} Vício Inerente - Thomas Pynchon

Dados bibliográficos: Cia das Letras, 2010, 465 páginas.
Título original: Inherent Vice, 2009.
Resumo dinâmico: Joia.

Resenha: Retratando os anos 70 dos Estados Unidos de uma maneira como poucas vezes se vê: Com a ênfase no fim do movimento hippie graças a Charles Mason e o retorno de uma cultura paranoica de perseguição política (tentarei escrever mais palavras que não comecem com p, juro), que tomou conta da contracultura, também aliada a ascensão de movimentos sociais - como os comunistas/socialistas ou os Panteras Negras, que defendiam, inclusive violentamente, os direitos dos negros.

Enquanto as drogas são um prato cheio para a condução do livro - o protagonista 'Doc' Sportello degusta de todo tipo de entorpecente que possa ser fumado, injetado, cheirado ou degustado durante as 465 páginas que decorrem da ação - o 'vício' do título decorre mais de algo mais elemental, até porque o 'inerente' está diretamente atrelado a ele, e é parte fundamental desta composição.

Vício inerente é uma expressão que se refere a uma falha obscura, normalmente da própria natureza, de algo, que force sua decomposição/instabilidade. E esse é basicamente o mote do livro, abordando o vício inerente da sociedade estadunidense, se corroendo aos poucos entre conspirações, crimes abafados (e promovidos em nome do governo - como os grupos de fascistas contratados pela polícia para conter manifestações pró direitos humanos) e, bem, todo o plot do livro sobre um milionário do ramo imobiliário que, em meio a uma crise de consciência resolve doar sua fortuna, além de construir casas para os desabrigados - mas como se há de imaginar é impedido.

Enquanto o desenvolvimento do livro segue de maneira muito bem escrita e conduzida, o final da história segue num ritmo Scooby Doo demais para o meu gosto... Ainda que tudo no livro já aponte para aquele final, é aquela reviravolta mirabolante de remover a máscara do monstro e vê-lo explicar toda sua ação detalhadamente que me soa forçado e, até meio tolo (o que destoa do restante do material de excelente escrita de Pynchon).

Não vai mudar nada para quem é fã do gênero detetivesco, muitas das coisas que estão ali já foram feitas ou desenvolvidas melhores por outros autores, mas também não é exatamente livro do gênero de detetives comum. O desenvolvimento das tramas e subtramas com personagens envolventes e bem construídos facilmente justifica a leitura.

Da edição da Cia, além da belíssima capa (acima), vale ressaltar a qualidade da impressão e do trabalho todo. Existem defeitos, obviamente (alguns 'quando' no lugar de 'quanto' por exemplo e outros errinhos de tradução espalhados), mas nada que comprometa a leitura. Mais comumente que não, esses erros passam desapercebidos, e só vale mencionar devido ao preço de capa que não é nada simbólico...

Uma boa leitura, acima da média. 7,5/10.

EDITADO 27/08/2015 - Após encontrar uma versão de "O Sono Eterno" de Raymond Chandler (publicação excelente da Alfaguara desse ano), finalmente entendi o que era mencionado sobre como Pynchon (e os irmãos Cohen em "O Grande Lebowski") se inspiraram na investigação original do detetive Philip Marlowe.
Mais sobre isso na resenha propriamente de 'O Sono Eterno', claro, mas é importante destacar a errata de sequer mencionar aqui.

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