Comparar Um Homem Diferente com A Substância é injusto com o primeiro por vários motivos (principalmente porque o elenco parece saído de uma das continuações de Birdemic e a direção tem problemas enormes para manter o compasso da trama e fazer a história fluir), mas é possível ver elementos para a comparação.
O protagonista tem uma vida miserável até que um procedimento milagroso permite que consiga atingir padrões de beleza e com isso realizar muitos de seus sonhos reprimidos, é, usando esse resumo bem simples você pode contextualizar os dois filmes sem grandes problemas... Além do fato que isso é um resumo bem genérico e que ignora exatamente tudo o que faz os dois filmes se diferenciarem.
A personagem de Demi Moore é uma mulher realizada que conquistou tudo em sua vida e não quer abrir mão do sucesso custe o que custar. Com o personagem de Sebastian Stan, no entanto, ele nunca soube o que é uma vida normal ou mesmo uma vida comum, e esse anseio por uma vida comum o coloca no caminho para realizar seus sonhos reprimidos.
O problema é que quando ele consegue, bem, é isso. Sua vida não melhora porque ele continua sendo o mesmo homem que ele era antes (mas com a aparência do Soldado Invernal), com a mesma dificuldade para interagir com outros, os mesmos medos, receios e, bem, toda a bagagem que ele não deixou para trás quando sua aparência mudou.
E isso forma o aspecto para um estudo de personagem muito mais complexo e elaborado, o que permite para uma atuação com mais nuance e desenvolvimento pelo protagonista. Principalmente quando o filme tem a grande virada no roteiro por volta dos quarenta minutos (depois que fomos apresentados a todos os elementos e Edward sai de cena para que Guy seja o protagonista), quando Oswald, um sujeito que tem a mesma doença que o protagonista do filme aparece.
O filme se transforma completamente.
Oswald é um personagem incrível, cheio de energia e otimismo e que transforma a experiência claramente desagradável do filme sob a perspectiva de Edward/Guy até ali em algo bem diferente, mudando efetivamente a perspectiva sobre o universo em que os personagens vivem. E a presença dele muda a dinâmica do filme de maneira dramática.
Enquanto até a chegada dele só tinhamos atores ruins, uma direção meh e um único personagem que parecia se esforçar para criar uma experiência mais miserável que a Centopeia Humana, Oswald aparece e está sempre de bom humor que parece contagiar o núcleo da história.
Não que os atores ou a direção melhorem (ou mesmo o roteiro) mas o filme se torna uma experiência bem mais interessante, oferecendo uma perspectiva bem mais complexa sobre a natureza da situação toda.
Ainda assim (com um roteiro fraco, um elenco que se resume a uns três atores além de Sebastian Stan que estão se esforçando, e um diretor que provavelmente não sabe o que está dirigindo), o filme oferece uma experiência bem diferente, e ouso dizer, bem mais interessante que boa parte dos filmes de 2024.
Chances no Oscar? Bem, uma vez que o filme só foi indicado para Cabelo e Maquiagem, e as chances são boas nesse departamento, sim (afinal os prostéticos para transformar Stan em Edward são impressionantes), mas, eu acho que A Substância supera o filme nesse quesito. Para melhor ator, Sebastian Stan não foi indicado por esse filme, (o que é bem absurdo considerando que o outro filme - O Aprendiz - apresenta uma atuação bem pior), mas ele e o Timothée Chalamet estão ali somente porque precisavam de cinco indicações...
Se existir alguma justiça no prêmio de melhor ator, Colman Domingo leva a estatueta, mas sejamos honestos, tudo indica pro Ralph Fiennes, e nem tanto pelo papel dele, mais naquelas de quando o Al Pacino ou o Denzel Washington ganharam (simplesmente porque foram ignorados em outros momentos com papéis bem melhores).
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