Pesquisar este blog

16 de fevereiro de 2025

{A vida depois do Netflix} Afinal de contas para que servem os Oscar?

Cidadão Kane foi considerado em diversas ocasiões o melhor filme já produzido, inclusive figurando em primeiro lugar numa listagem do Instituto de Filme dos Estados Unidos (AFI) no aniversário de 100 anos da instituição. No entanto, na premiação do Oscar de 1942, Orson Welles não ganhou como melhor diretor, ator ou mesmo com melhor filme, perdendo para Gary Cooper em Sargento York (esse obviamente clássico atemporal que você ouvir falar muitas vezes, não?) e John Ford na direção e melhor filme com Quão verde era meu vale (eu não vou repetir a piadinha cretina anterior, você já pegou o tom, né?). Isso foi na 14ª cerimônia do Oscar, em um momento histórico com a segunda guerra mundial e bem, é um dos primeiros e talvez maiores exemplos de escolhas ruins da premiação...

Como em 1974 com o prêmio de melhor ator com Marlon Brando, Jack Nicholson, Robert Redford e Al Pacino... Todos superados por Jack Lemmon com Sonhos do Passado...? Ou que tal o ano seguinte de O Poderoso Chefão Parte 2 e Chinatown que trouxe novamente Nicholson e Pacino concorrendo com o prêmio de melhor ator (que talvez são os papéis mais icônicos de ambos) e perdendo novamente, mas dessa vez para ART CARNEY (é eu também não sei quem é mesmo olhando a página do imdb dele) por um filme em que ele cruza os Estados Unidos com seu gato.

Podemos facilmente falar dos anos 1990 com a Miramax ou mais recente, o filme que é considerado o maior fiasco da cerimônia, Crash de 2004... Ou ainda outros tantos exemplos sobre o esnobismo da cerimônia (e nem precisa ir mais longe que o ano atual em que Denzel Washington rouba a cena facilmente em Gladiador 2 - que é um filme bosta, sejamos honestos - e sequer recebeu o mínimo que é uma indicação) mas nada disso explicaria a grande pergunta: Afinal de contas para que servem os Oscar?

Bem, essencialmente é uma questão de poder, dinheiro e influência (ou se preferir, 'pretígio'), que reside nos estúdios usando sua reputação para garantir mais prêmios que os concorrentes para melhorar seu crédito, facilitando novas produções.

Enquanto grandes bilheterias oferecem esse exato mesmo cenário (poder, dinheiro e influência), muitas vezes isso é uma mera questão de sorte ou coincidência que resulta no sucesso quando em outras é o mais completo azar que colocar um filme que tinha tudo para dar certo com um resultado meh. (e nada disso garante qualquer poder de barganha aos envolvidos que são substituídos com enorme facilidade das continuações)... Além disso, o estúdio tende a imaginar quais filmes serão sucessos e tem potencial para franquias (inclusive pelos contratos de merchandising) e  aposta de maneira apropriada, forçando mais um produto entregue no prazo que um bom filme.

Com prêmios, no entanto, a qualidade do diretor, ator, atriz ou qualquer elemento no geral pode suplantar as limitações técnicas, de orçamento, de distribuição ou qualquer outro fator. Na verdade, é bastante comum que filmes com orçamentos minúsculos apresentem vencedores para premiações.

Por exemplo, com o orçamento de Duna Parte 2 (de 190 milhões de dólares - que nem é o filme mais caro lançado em 2024) seria possível fazer 31 vezes (com seus 6 milhões de dólares), e eu nem vou falar de Centenas de Castores (que custou somente 150 mil). Outros concorrentes mais caros como O Brutalista (10 milhões), Nickel Boys (23 milhões) ou Conclave (20 milhões) ainda que somados mal chegam aos pés do orçamento de efeitos especiais de Duna ou Wicked (e eu sei que você provavelmente se perguntou porque eu não citei Ainda estou aqui que custou 1,5 milhões, mas não faz sentido apontar cada filme).

Tudo isso ajuda e muito a atores, diretores e, bem, mais um monte de gente a conseguir destaque e maior percepção para outros mercados. Selton Mello que o diga gravando um remake de Anaconda...

Ainda assim, existem elementos que convergem para buscar não apenas nomes associados com filmes de maior prestígio como copiar ideias que deram certo para maior prestígio. Uma biografia de Freddie Mercury conseguiu um Oscar...? Ei, que tal Elton John, Bob Marley ou Bob Dylan?

Ou musicais se um deles deu certo e conseguiu prêmios ou maior destaque... 

Mais até que isso, o destaque a determinados filmes alimenta o ciclo de atenção, discussão e debate sobre esse material. Enquanto Emilia Pérez com suas 13 indicações recebe críticas e comentários sobre se são merecidas ou não, se é o novo Crash ou não ou o que mais for, filmes ou performances que escaparam do radar da academia (como Daniel Craig com Queer ou o filme Sing Sing). Mais destaque, mais discussão, mais engajamento (e mais receita)... Enxague e repita.

E, diga-se de passagem que isso nem é uma situação exclusiva do cinema, né? Vide o quanto de séries deram espaço para reboots e remakes ou novos projetos pura e simplesmente pelo sucesso com prêmios (sabe, como Chuck Lorre emplacando vários prêmios com Dois Homens e Meio para depois emplacar vários prêmios com The Big Bang Theory), e, facilmente podemos achar exemplos similares em outras áreas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário