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6 de fevereiro de 2025

{Resenhas de Quinta} A Sustânça

Essa é uma resenha sem spoilers, ainda que para os elementos do final eu destacarei alguns spoilers específicos - para justificar minhas críticas ao filme.

Enquanto o material me lembra muito mais A Mosca de David Cronenberg (mas com mais peitinhos e menos elementos de horror biológico - até o último ato), eu confesso que em vários momentos MaXXXine de Mia Goth me vinha à mente, sobre como A Substância faz direito enquanto MaXXXine não... E não apenas porque eu assisti aos dois filmes num intervalo de duas semanas... Os filmes trabalham com tons semelhantes sobre sucesso, e como a concorrência é difícil (e desleal) em Los Angeles, o que força pessoas a, bem, nem sempre seguirem o caminho lógico e ético com isso aproveitando qualquer oportunidade que apareça não importando as consequências.

Ti West TENTA fazer o que Coralie Fargeat faz com a maior naturalidade. As escolhas de transições ou a edição, a forma de apresentar personagens, situações e conflito, e, ainda que seja uma diretora com pouquíssimos projetos em seu currículo, o talento se destaca.
 
A ideia do filme é de que, usando um tratamento químico misterioso seja possível obter uma versão melhorada de si mesmo (daí Demi Moore vira Margaret Qualley - e vamos manter nisso para limitar spoilers), e são estabelecidas as regras de maneria bem simples e prática de como o processo funciona. Isso claramente é absurdo (mas o filme nem tenta fingir que não é), partindo para uma estrutura de Além da Imaginação ou Black Mirror de como funciona o cenário e expandindo sobre ele com o desenvolvimento da história.

O filme é ótimo com uma direção estelar que apresenta uma aula de teoria cromatográfica e construção de cenas (com ângulos estranhos para câmeras, além de edição e cortes no momento certo para fortalecer o censo de alienação).

Além disso, claro, existe toda a maquiagem para a criação dos efeitos práticos das personagens - que se combina com os elementos anteriores - e se somam à extraordinária atuação das duas protagonistas que conseguem contrapor de maneira fantástica o dilema apresentado (com Demi Moore lidando com toda uma gama de dúvidas devido aos efeitos da idade - e mais importante do etarismo - enquanto Margaret Qualley externa confiança, e até uma certa inocência), principalmente o dilema existência das personagens que as regras do roteiro deixam bem claro desde o começo: Elas são uma única pessoa e não duas entidades separadas.

Isso representa uma série de rusgas entre as duas personagens que o filme explora muito bem e vai escalonando até um conflito final.

Mas o final é ruim na minha opinião. Não sei se o roteiro não sabia como terminar a história, se não sabiam quando terminar a história ou efetivamente qual deveria ser o final, ou se o roteirista é uma reencarnação de J R Tolkien e pensou que três horas e meia de finais seria a melhor solução e acabaram cortando uma parte disso mas para explicar melhor isso, só com spoilers, me desculpem.

Podia terminar uns dez ou vinte minutos antes (com o conflito final que eu apontei pouco antes), mas a história continua sem agregar algo novo e diferente para o que já vimos até ali.

Antes dos spoilers: Chances no Oscar? Cabelo e maquiagem é praticamente certeza mas, se houver alguma justiça remanescente no mundo para direção e roteiro original. Não acho que Demi Moore ganhe como melhor atriz, ainda que a indicação seja bastante justa (e num outro ano ela ganharia facilmente).


Então agora vão os spoilers:


Última chance, se você não quer saber sobre o fim do filme e porque ele é ruim você já recebeu dois avisos para parar de ler, não haverá um terceiro.


O fim do filme tem um conflito entre Sue (de Margaret Qualley) e Elisabeth (de Demi Moore - que acaba sofrendo dos efeitos colaterais do experimento com a substância), e, termina com Sue subjugando e matando Elisabeth.

Porém, isso resulta em uma rápida deterioração de seu corpo, e ela vê seu sonho se tornando um pesadelo - e isso seria um final perfeito (Sue perdendo os cabelos, dentes e todo e qualquer controle sob seu corpo) - mas esse não é o fim, ainda, e é a partir daqui que eu vejo os problemas se avolumarem.

Sue parte para um novo uso da substância na tentativa de criar uma nova versão melhorada de si própria, e isso fracassa criando uma aberração dismorfa e que segue para criar um espetáculo sangrento com explosão de órgãos e vísceras até o final da coisa toda, que incluí uma sequência de sonho bizarra (que ou eu não vi o propósito, ou não faz sentido ou é estúpida somente), e daqui temos um grande pastiche com o monstro sangrando volumes copiosos de sangue e explodindo membros e enquanto eu entendo alguns dos elementos (como os mesmos ângulos usados anterioremente ou a simetria narrativa com o começo e por aí vai), eu sinceramente não vejo o ponto no geral.

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