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22 de setembro de 2022

{Resenhas de Quinta} (No sleep 'til) Brooklyn 99, última temporada

Primeiro, vamos ao começo, Brooklyn 99 foi uma das comédias mais inteligentes da última década, conseguindo conciliar bufonaria com histórias detetivescas bem construídas e uma estrutura coerente do caso da semana e, de vez em quando, narrativas mais longas.

Falar das ótimas piadas do seriado como da cena de testemunhas ao som de Backstreet Boys, mas vários dos episódios inteiros trouxeram roteiros bem escritos, personagens coerentes e arcos interessantes. É verdade que depois de um tempo a série perdeu um pouco o gás e as últimas temporadas não foram assim tão boas, mas, por Rao, essa temporada final é assustadoramente ruim.

Quer dizer, o coração está no lugar certo mas é uma colcha de retalhos tão bizarra e pouco coesa que o material se despedaça. O número de episódios não é suficiente para o desenvolvimento apropriado do tema proposto (para a reforma policial, que acaba como a questão principal após George Floyd), mas tudo se perde e soa vazio quando o assunto não é abordado além de forma superficial (mas demonstrando uma polícia de Nova Iorque disposta a ouvir e aceitar um vice-comissário gay que se demonstra contra sindicatos de policiais e uma chefe de polícia latina propondo um plano enorme de reforma).

A mensagem otimista da trama não parece coerente com a realidade pessimista, e mesmo a realidade do seriado - em que Holt sofreu diversas rasteiras ao longo das últimas sete temporadas, perdendo sua grande chance como comissário e precisando trilhar novamente os passos da carreira - inclusive nada parece mostrar uma vitória definitiva sobre o representante do sindicato Frank O'Sullivan (vivido por John C McGinley). Essa trama definha até simplesmente desaparecer e se resolver, de novo, de maneira incrivelmente otimista sem mostrar de fato uma visão sobre a corrupção e brutalidades da polícia.

E sim, é uma comédia, eu sei, mas essa foi a escolha da série pra essa temporada, e, a forma como se desenvolve (corrida) fracassando em explorar os temas tanto de forma inteligente como de forma engraçada (o que, honestamente, seria incrivelmente difícil). E claro, é difícil peitar a polícia dos Estados Unidos (e criticá-la) abertamente, inclusive porque isso prejudica verbas e outros programas da emissora... A NBC, que produziu Brooklyn 99 é famosa pelo Law and Order, e, dizer que o segundo é propaganda livre e inequívoca da polícia (como o vídeo do John Oliver mostra).

Ao mesmo tempo, verdade seja dita, Brooklyn 99 também era propaganda policial. Jake é um idiota, mas, mesmo assim é determinado e sempre captura os bandidos. Outros dos integrantes da delegacia - mesmo os preguiçosos e vagabundos Scully e Hitchcock são apenas preguiçosos (nada corruptos ou longe de qualquer real crítica à polícia mesmo nesses dois) também são retratados com uma luz educada e bufona. Eles são aqueles patifes adoráveis que fazem parte da família...

Justamente nisso, nessa tentativa de discutir assuntos reais (como Covid e reforma da polícia) num seriado que nunca tentou de fato ser coerente com mundo real (qualé, as extremamente elaboradas competições de dia das bruxas por si só já justificam isso). E com apenas 10 episódios, sendo que 4 deles focam na resolução de assuntos recorrentes, sobram apenas 6 episódios para um assunto espinhoso que não tem solução prática e real ENQUANTO lida com uma comédia policial. Mesmo com alguma emissora bem mais propensa a desenvolver o tema com a seriedade que merece, seria ainda muito difícil.

Foi uma escolha ruim de focar num tema espinhoso, principalmente quando desde o começo a ideia era de encerrar o seriado com um belo laço e uma despedida digna.

No fim, vale pelos episódios finais para trazer de volta personagens de outras temporadas e encerrar a coisa toda num tom mais saudosista.

Uma pena, podia ser muito melhor.

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