Essa é a série de maior sucesso da Netflix desde seu lançamento e conseguiu forjar algumas carreiras (tá, nada assim sólido e brilhante, mas, qualé, foram só seis anos desde a primeira temporada e dois destes seis tiveram a pandemia batendo forte) e parece no mínimo idiota acreditar que a série chegará ao final aqui. A Disney continua com séries e mais séries de Star Wars, assim como a Warner com Harry Potter (sem Harry Potter) e Game of Thrones. Vai por mim, se julho terminar com a saga do mundo invertido ou algo do tipo, daqui a bem pouco tempo teremos um spin off com Steve e Robin na faculdade e lidando com a busca por emprego e relacionamentos nos anos 1990 ou Argyle encontrando um cachorro falante para ajudá-lo a solucionar mistérios e entregar pizzas em menos de 30 minutos.
Falando em Scooby Doo, sim, a revelação do vilão ao final me lembrou bastante dele, mas meio misturado com um vilão clássico de Bond explicando seu plano mirabolante - que será impedido por uns garotos intrometidos, eu só estou me adiantando um pouco.
Dito isso, voltemos ao início da quarta temporada, e eu, novamente não quero dizer nenhum spoiler sobre personagens que foram dados como mortos ao final da terceira temporada (até porque tinham ótimos contratos para filmes em 2019 e que não deram assim tão certo - ou fizeram tanta bilheteria), então a temporada trilha nesse terreno sinuoleoso em que precisa corrigir algumas decisões para, bem, agradar mais fãs, garantir mais engajamento dos expectadores e - como eu disse nos parágrafos anteriores - talvez garantir um spin off aqui e outro ali.
Com isso a série parte em múltiplas e expansivas direções, dividindo seu elenco (e não apenas isso como aumentando-o exponencialmente) em diversos núcleos exatamente como, sim, uma novela. Inclusive nas repetições e terrenos comuns traçados e retraçados (sim, Nancy tem dúvidas em seu relacionamento, sim, Jonathan é superprotetor com seu irmão mais novo e mãe, sim, Mike é um babaca - mas que tem um porão legal, e pais permissivos - e por aí vai). Isso faz com que os sete episódios tenham mais de uma hora cada um, e, no entanto, muito pouco de fato aconteça.
Não acredita? Eu teria que usar alguns spoilers pra explicar mas, deixe-me só dizer que vários personagens 'somem' por alguns destes sete episódios sem que eles tenham feito absolutamente nada de coisa alguma. Quer dizer, o Will é um bom exemplo disso (afinal ele só foi para a série quando foi sequestrado na primeira temporada), mas existe uma menina popular que faz bully na escola, e que parece tender a alguma mudança de dinâmica ou cenário na história... Até ela sumir e não ser mencionada de novo...
Pra mim, isso em parte se deve ao terreno sinuoleoso que mencionei antes - exigindo correções e ajustes ao curso para que a história se molde e 'funcione' - mas existe, ao que vejo, uma influência bem maior da série alemã Dark (sim, que surge DEPOIS de Stranger Things, meio que como a resposta alemã para a série, e isso é bem oroboros) do que da cultura pop norteamericana dos anos 1980 como temporadas anteriores. Nestes episódios, ao menos, há uma tentativa de estabelecer uma única trama com um mistério principal conduzindo o rocambolesco noveleiro e dramas adolescentes, mas não parece tanto buscar inspirações em Indiana Jones (apesar da cena do avião) ou outros filmes e séries da década - ainda que exista toda uma longa (e enervante ao meu ver) sessão inspirada diretamente no mangá Akira, ainda que seja algo repetindo e reciclando tramas de temporadas passadas QUE já se inspiravam diretamente no mangá Akira (soroboro?)
A série parece buscar seu próprio caminho - referenciando muito mais vezes a seus próprios momentos de temporadas anteriores, com as luzes de Joyce da primeira temporada, Onze repetindo que Amigos não mentem, além, é claro de referências às vítimas famosas de temporadas passadas (sim, Barb) e todas as versões de monstros de Dungeon and Dragons existindo na Hawkins paralela do mundo invertido - e assim estabelecendo uma mitologia própria, com seus contextos e cenários. Inclusive já é a quarta temporada de um material de enorme sucesso, enorme orçamento e bastante premiado, não é exatamente uma aposta ser mais autorreferencial.
Se não é sútil e precisa mostrar as cenas das temporadas passadas para deixar cristalino o que aconteceu - e que foi mencionado - bem, filmes que eu adoro (e são bem melhores como Blade Runner 2049) são culpados disso também. Não confiar na inteligência do público é meio que uma norma em Hollywood - e funciona, você nem precisa ir muito longe na lista de maiores bilheterias pra entender do que estou falando. O que me incomodou é que, me pareceu, escalonar conforme os episódios passaram e isso me faz crer que o penúltimo episódio do lote de julho será uma hora de recapitulação dos eventos até aqui com alguma música da Kate Bush ou algum outro cantor obscuro dos anos 1980 ao fundo.
Onde isso nos coloca? Bem, em algum ponto do meio da coisa toda.
Sabemos que a temporada só terminará em julho - e esse mês de intervalo servirá como termômetro para a reação do público, com o nível de engajamento e tudo mais que o algoritmo puder definir e previr antes de cancelar Joplin - assim como o plano rocambolesco do vilão à Scooby Doo que foi desfraldado. Mas, daqui até o final ainda tem água para rolar, e, fica difícil de dizer algo diferente de 'Vale a pena, principalmente se você gostou das temporadas anteriores'.
Verdade seja dita, não existe nada particularmente revolucionário aqui (o que, francamente nunca foi a série), mas às vezes tudo que você precisa é de uma boa série para assistir debaixo do cobertor e com um pacote de pipocas.
Pra mim, funciona.
(Mas - e eu juro que não é spoiler - eu realmente acho que podiam lançar uma versão redux da temporada excluindo a Onze integralmente e tenho certeza que seria um material muito superior. Nesse ritmo com mais duas temporadas e ela derrota Darkseid com a manopla do infinito em cima de Thiamat, sem nem piscar os olhos, depois de passar doze episódios fazendo absolutamente nada ou em um tanque de privação sensorial. Goku já manda lembranças...)
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